Elos- Capítulo 06.

Cena 01- Mansão de Tião/ Int./ Quarto de Liana/ Noite.

Alexandra entra, afobada: Que história é essa de filha?

Liana veste a camisola: Ei, cadê minha privacidade noturna?

Alexandra, furiosa: Eu acabei de ouvir o Tião falando enquanto dormia. Disse que ia achar a “ filha” a qualquer custo...UMA FILHA! Você sabia dessa história, por acaso?

Liana: Pra falar a verdade...Sim, eu sabia. Mas jamais ia imaginar que Tião se lembraria dessa filha em um momento desses. A primeira esposa dele, mãe dessa tal filha, fugiu com o amante, e ele nutre ódio por isso, até hoje.

Alexandra: Fugiram pra onde? Liana, você devia ter me contado isso! Meu Deus, eu jamais ia imaginar que o Tião tivesse uma herdeira. HERDEIRA. Tem noção do peso dessa palavra pra nós duas?

Liana inventa: Eu não sei pra onde a ex-mulher do Tião fugiu, só lembro que o nome dela era Celeste. Mas relaxa, Alexandra, o Tião estava dormindo, deve ter sonhado, sei lá. É muito difícil ele querer procurar filha a essa altura da vida. E as chances de ele achar são mínimas. Elas se escafederam.

Alexandra: Eu espero que sim, porquê uma herdeira estragaria todo o meu plano. Estou casada há anos com esse idiota, e preciso receber muito, muito dinheiro por isso...Se essa filha dele resolver aparecer, eu mato ela.

Liana ri: Eu adoro o jeito como você usa o termo matar nas suas frases. Você não presta mesmo. Nem disfarça a sua ganância...Típica golpista. Não que eu não seja, mas pelo menos sou mais contida.

Alexandra: Eu atuo de boa esposa por anos, como fosse uma série sem fim. Mas está na hora dessa série ser cancelada- Ela sai do quarto.

Liana fica pensativa: Acho que não preciso me preocupar com isso, por enquanto...Que Tião não invente de procurar a filha. Amém- Ela se deita.

FLASHBACK.

Tião enxuga o suor da testa: Você tem razão, Liana, obrigado por todo o apoio que vem me dando. Estou a ponto de desmoronar, mas venho me mantendo firme...Semana passada eu entreguei meu testamento pro advogado, mas ainda tem uma clausula em branco.

VOLTA A CENA.

Liana morde o lábio: Uma clausula em branco...

ELOS- CAPÍTULO 06.

Roteiro: Victor Morais.

Cena 02- Suspirela/ Int./ Cozinha/ Dia Seguinte.

Suspiro arruma a mesa do café: Pronto, muita fartura como sempre. Na Suspirela, mesquinharia é palavra proibida.

Peninha se senta: Aliás, comadre, está na hora de mudar o nome da pensão, talvez atraia mais gente...Só tem eu, Marcolino e a família de Marcelina aqui- Ele bebe café- Sugiro que coloque “ O Lar do Peninha e cia”.

Suspiro se senta: Belo nome pra um depósito de lixo, compadre.

Marcelina, Guga e Jucy aparecem.

Marcelina sorri: Bom dia a todos. Pelo menos, espero que seja.

Guga a olha friamente: Poderia até ser, se não estivéssemos em um fundo de poço- Ele olha para Suspiro- Com o perdão do termo.

Susana e Marcus chegam, juntos e de mãos dadas. Todos da mesa os observam, sem nada entender da situação.

Susana, feliz: Temos uma notícia pra vocês- Ela sorri- Eu e Marcus estamos namorando.

Peninha se engasga com o pão: SOCORRO...MEU DEUS DO CÉU- Ele ergue as mãos para o alto- SOMBRÁIS, SOMBRÁIS!

CORTA PARA:

Ritmo avançado- Marcus e Susana namoram em um parque. Eles comentam sobre a aceitação de todos da pensão em relação ao namoro de ambos. Passagem de tempo. Marcus e Susana saem para diversos lugares de Recife, apesar do primeiro ainda ter o braço quebrado. Tião conversa com um detetive sem que Alexandra e Liana saibam. Marcus e Susana tem a primeira noite juntos. Puro amor. Após passar mal durante um evento, Tião passa a ser alvo da imprensa. Os jornais comentam fervorosamente sobre a possibilidade de uma doença. Marcelina continua torcendo o nariz para o político, e volta, pouco a pouco, a exercer o antigo trabalho de lavadeira, porém na pensão de Suspiro. Guga tem uma crise após zombarem dele na rua por conta de seu braço amputado. Ele se joga entre as paredes. Marcus e Susana vão ao cinema juntos. Marcus finalmente tira o gesso. Ele liga para Tião, que avisa que ele e Peninha podem começar a trabalhar na pensão no dia seguinte...

Marcus, animado: Primeiro dia de trabalho. Estou animado, Peninha. Com o dinheiro que vou ganhar aos poucos, vou poder comprar um anel pra Susana. Estamos há um mês juntos. Ela merece.

Peninha dá o sinal: Descemos no próximo ponto- Ele se levanta- Concordo contigo, Marcolino, ela merece por te aguentar durante um mês. Sua mãe, dona Nair, também merece. Tô muito ansioso pra esse emprego na casa do Ricão do Povão. Espero que ele deixe a gente almoçar com eles, já que ele ama tanto a população.

Marcus desce quando o veículo para: Nem sonha com isso, Peninha. Aliás, a mãe da Susana, dona Marcelina, é muito gente boa, mas não pode desconfiar que estamos trabalhando na mansão do Tião. Ela tem ódio ferrenho pelo cara. Não sei porquê...

Peninha: Qualquer coisa inventamos que estamos trabalhando numa oficina. Você tem cara de mecânico. Daqueles bem fedorentos- Eles chegam na mansão de Tião- Só de saber que eu vou trabalhar nessa obra prima em forma de casa, dá até uma animada- Ele toca a campainha.

Alexandra aparece no jardim, com um elegante chapéu e óculos escuros: Pois não?

Marcus: Somos os novos empregados daqui.

Alexandra o olha fixamente: Interessante- Ela chama Gordênia- Eu sou esposa do Tião, prazer, Alexandra.

Marcus, tímido: Eu me chamo Marcus, esse é o Peninha.

Alexandra o cumprimenta: Que lindo- Ela o encara- O nome. Que lindo o seu nome. Sejam bem vindos- Ela sai andando- Finalmente um empregado que dá pro gasto, literalmente.

Cena 03- Mansão de Tião/ Int./ Sala/ Noite.

Tião aparece: Já mostrei ao Marcus e ao Peninha o serviço que eles vão fazer aqui na casa. É tão bom ter oxigênio novo circulando na área.

Alexandra lê uma revista: Concordo. Embora eu ache que só o rapaz valha a pena. Contratar gente velha igual o tal Peninha, é sinônimo de prejuízo.

Liana: Você sempre privilegiando os mais jovens, cunhada. Gosta de sangue novo, não é mesmo?

Tião: O fato é que acho os dois competentes. Eles vão cuidar do jardim, e também do setor interno da casa. Resolvi ajudar os dois, porquê eles mal chegaram em Recife e passaram por maus bocados. Marcus, que na verdade chama-se Marcolino Bandeirola, era um bandido- As duas arregalam os olhos- Era. No passado. Eu o convenci a mudar. Espero eu que realmente ele tenha mudado...

Liana: Você infiltrou um bandido aqui na mansão? Nosso patamar já foi mais elevado do que isso. Está dando chance pra um ladrão, Tião! Não estranhe se acordar e metade do ouro bruto tenha sumido.

Tião se senta: Eu confio nele, sua palavra me passa confiança. Vai ser bom ter Marcus por aqui. Mas, eu não mandei reunir vocês aqui pra isso. E sim para um assunto muito mais importante. Que não posso adiar mais.

Alexandra finge desespero: Que assunto é esse, meu amor? É sobre sua saúde? Fale!

Tião: Não, quanto a isso não temos mais o que fazer, só esperar a morte. Infelizmente, esse termo dói mas é o correto. O assunto que tenho para falar, envolve isso em partes...É que, durante esse último mês, eu contratei um detetive sem que vocês soubessem...Um detetive pra procurar uma filha minha sumida.

Alexandra dá um pulo: O QUÊ?- Ela e Liana se entreolham, desesperadas.

Cena 04- Suspirela/ Interior/ Cozinha/ Dia.

Marcelina está sentada na mesa, cabisbaixa. A pensão está quieta. Suspiro chega do mercado, com várias sacolas.

Suspiro: Comprei bacalhau, azeite, e tudo mais que se pode imaginar pra fazer um bom almoço português, como os que eu costumava comer lá na minha terrinha- Ela coloca as compras na mesa- E aí, comadre? Vai me ajudar a fazer, sei que tem mão boa pra culinária.

Marcelina, um pouco abatida: Se você quiser, eu posso preparar as batatas, ou que seja- Ela esfrega os olhos.

Suspiro repara: Que tristeza é essa, comadre?- Ela vai até o rádio- Cruzes, que ambiente morto. Vamos alegrar essa cozinha com um pouco de sertanejo de raiz!! Vamos ser felizes!

Marcelina: Não posso. Não posso ser feliz, principalmente hoje. Faz um mês que estou na sua pensão, te incomodando, te dando trabalho. Comecei a lavar roupa de novo, mas, as vezes eu sento aqui e paro pra pensar...Quando? Quando eu vou sair daqui?

Suspiro: Você sabe que não incomoda nem dá trabalho, mas entendo que quer uma casa nova logo. Já conversamos sobre isso, e você sabe que a única solução agora, seria procurar o pai da Susana...- Guga escuta tudo, da sala, e vai se aproximando aos poucos, atento a conversa.

Marcelina se levanta: Por favor, não vamos falar disso de novo, ou eu vou acabar gritando e ficando nervosa. Eu não vou nem cogitar essa possibilidade. Bem, o que quer que eu prepare pro almoço?

Suspiro: Eu tô falando sério, comadre. Fala o nome desse homem, por favor. É importante, você tá cada vez mais mal por estar aqui, eu tento te agradar, mas sei o quão difícil é estar sem uma casa pra morar, só que isso não vai mudar se você não me disser o nome dele. Fala. É o Tião? Ele é o pai da Susana?

Marcelina começa a ficar agitada: Não, eu não posso falar...

Suspiro a pressiona: Diz o nome desse homem, a hora é essa. Não vamos mais delongar o assunto. Fala o nome do pai da Susana. É O TIÃO?

Marcelina: NÃO VOU FALAR, NÃO ADIANTA, COMADRE!

Suspiro a pega pelo braço: ANDA, COMADRE. DIZ LOGO! ACABA COM ISSO. EU VOU PERGUNTAR PELA ÚLTIMA VEZ: O TIÃO É O PAI DA SUSANA?

Marcelina olha pros dois lados: É- Ela cai no choro- É ele sim, comadre. Nós já fomos casados no passado.

Guga fica boquiaberto: Eu sabia...- Cochicha para si próprio.

Suspiro cruza os braços: Eu já suspeitava disso, comadre. Agora tenho essa bomba em mãos. Temos que falar com o Tião, você tem que procurar ele de novo...Ele sabe da Susana? Sabe do seu paradeiro?

Marcelina revela: Eu sai fugida de casa, mudei meu nome, o nome da minha filha. Ele nunca mais me viu, e faço o possível pra me esconder desde então. Fui pra Maceió, mas tive que voltar pra cá e fiquei na casa de um conhecido, depois aconteceram problemas até eu conhecer o Irineu. É muito complicado pra resumir, mas o ponto é que só eu sei o que enfrentei.

Suspiro: Então agora a gente vai procurar ele, não é?

Marcelina: Ele é perigoso, comadre. Agora que te falei isso, me sinto mais livre, mas ainda não tô pronta pra rever esse monstro- Ela enxuga as lágrimas- Preciso espairecer um pouco, sozinha. Andar por aí, refletir. Desculpa, mas hoje eu não vou poder te ajudar no almoço...

Suspiro: Eu quero que resolva seus problemas antes. O almoço é o de menos. Quer que eu vá contigo? Podemos conversar mais.

Marcelina: Não, quero ir sozinha...Guarda essa informação pra você, por favor. Susana nunca pode saber. É um segredo nosso, confio na sua pessoa, por isso te falei- Guga sobe as escadas antes de ser visto- Até mais tarde, comadre- Ela sai.

Suspiro: Ai meu Deus, comadre...- Ela pega as panelas.

Guga sorri: Finalmente! Finalmente a informação que eu queria.

Cena 05- Mansão de Tião/ Int./ Sala/ Dia.

Alexandra finge estar abismada: Você não podia ter escondido de mim o fato de ter uma filha, Tião! No nosso casamento, disse que não tínhamos segredos um com o outro, mas isso não se aplica a você, pelo visto. Primeiro, esconde a doença, agora, uma filha. E ainda quer que eu assimile isso de uma hora pra outra? Isso é covardia!

Tião: Eu sei, meu amor, mas só fiz isso pra te poupar. Essa história de filha é algo bem antigo, quando nem nos conhecíamos ainda. Liana sabe. Minha mulher fugiu com o amante, e levou minha filha. Agora que tô nas últimas, quero encontrar essa garota! Eu tenho esse direito!

Alexandra aponta o dedo em sua cara: E eu não te tiro esse direito! Mas você não tinha direito de me esconder. Cansei por hoje, Tião, eu não digeri ainda essa história...Contratou um detetive pelas minhas costas? Eu não significo nada pra você. Só um objeto, um título. Dá licença- Ela sobe as escadas.

Tião suspira: Você me compreende, não é, Liana?

Liana finge bondade: É claro, irmão. O que está correndo em suas veias é o sentimento de pai. E não lhe tiro ele...Vamos falar com mais calma de sua filha mais tarde, no jantar. No jantar, todos estaremos mais calmos.

Tião: Tudo bem, vou trabalhar agora. Meu gabinete me espera. Até mais!

Liana entra em sua frente: Eu preciso fazer umas comprinhas pra tirar o stress que esses últimos dias tem me proporcionado. Me dá carona até o shopping?

Tião coloca os óculos: Te espero em cinco minutos no carro, irmã- E sai.

Liana sobe e vai ao encontro de Alexandra: Maldito seja esse Tião!

Alexandra esmurra uma parede: Liana, você me disse que ele nem se lembrava mais da existência da filha, e agora vem uma bomba dessas pra gente! O que vamos fazer? Essa herdeira vai atrapalhar tudo! TUDO que eu tinha planejado...Ele não pode achar ela. Temos que subornar o detetive.

Liana pensa um pouco: Claro que não, isso é puro clichê. Suborno nunca funciona. Ele só cresce. Temos que contratar alguém pra matar a filha do Tião. Um bandido. Ainda não sabemos o paradeiro dessa moça, mas temos que evitar que Tião encontre ela.

Alexandra olha pela janela: Um bandido? Acho que sei quem podemos recrutar pra essa missão.

Liana: Tá falando do Gaspar? Aquele que contratou pra matar Felipe?

Alexandra se vira: Como você sabe dessa história?- Ela continua falando, sem que Liana possa responder- Bem, não importa agora. Não estava falando do Gaspar, e sim de um bandido que está bem mais perto de nós- Ela olha pela janela- Marcus. Ele vai nos ajudar.

Liana: Um bandidinho redimido?

Alexandra sorri: Não. Isso é puro clichê, como disse. Ele é uma carta na manga.

Cena 06- Ruas de Recife/ Ext./ Dia.

Tião para o carro no semáforo vermelho: Eu tenho medo das reações da Alê, ela ainda tá muito brava comigo, Liana. Você podia interceder.

Liana: Pode me deixar ali na avenida mesmo...Quanto a Alexandra, meu caro, aquilo é raiva momentânea. Piscou passou. Falo isso porquê sou mulher, no fundo ela te ama MUITO, mas MUITO mesmo, com muitas exclamações. Ela vai sofrer demais com sua partida.

Tião fecha os olhos: Eu não tô preparado pra morte...

Liana: Pelo menos você sabe que vai morrer em breve. E cumpriu seu dever político. Seu funeral vai ser mais lotado do que o do Senna- Ela ri- Mas não vamos falar nisso agora...

Marcelina atravessa a rua, pensativa. Tião olha para frente no mesmo instante e vê nela a imagem de Celeste, sua antiga noiva. Ele fica pasmo, sem reação, o coração acelera. Sinal verde. Liana o olha, sem nada entender. A sensação que se passa dentro de Tião é parcialmente indescritível, sendo um misto de lembranças do passado e melancolia.

Tião tira o cinto, apressado: É ELA ALI, LIANA! A CELESTE!

Liana se vira: O QUÊ?

Tião sai correndo do carro: CELESTEEEE- Ele vai atrás dela.

Marcelina se vira ao ouvir o nome. Ela vê Tião vindo em sua direção e arregala os olhos.

Cena 07- Mansão de Tião/ Ext./ Jardim/ Dia.

Peninha e Marcus trabalham cuidando do enorme jardim do lar, que estava um pouco abandonado. Eles se empenham bastante. Peninha cava buracos para colocar novas mudas. Alexandra os observa por um tempo, e se aproxima vagarosamente.

Peninha: Eu ouvi briga lá dentro. Gente rica adora um barraco, Marcolino.

Marcus: Isso não é da nossa conta, Peninha. Cuidado com a língua grande, ou eles nos demitem. E eu não posso perder essa oportunidade por culpa sua, seu abelhudo. Tô recomeçando minha vida.

Peninha joga terra para trás: Tudo bem, Marcolino, minha boca mal abre de tão discreto que sou- Ele começa a cantarolar-...Na hora do adeus, você olhou pra mim, e não acreditou ao ver chegar o fim...- Ele joga terra no rosto de Alexandra, sem notar que ela está lá. A madame dá um grito- DONA ALEXANDRA, ME DESCULPA, MESMO! A CULPA FOI DA SENHORA! Mas se bem que terra na cara faz bem, rejuvenesce, cura tudo! Por isso no interior todo mundo tem o rosto limpinho. Passa um pouco aqui no nariz, ó...

Alexandra se afasta: Tudo bem, senhor Peninha- Ela limpa o rosto- Eu quero falar a sós com o Marcus. Garoto, apareça no meu quarto em dez minutos- Ela sai.

Peninha balança a cabeça: Cuidado, Marcolino, ou ela pode te demitir. Essa gentinha rica tem dessas de julgar a gente pelo rosto. Como o seu é esse poço de feiura, ela deve ter se desagradado. Ainda bem que sou lindo.

Marcus tira as luvas: Então fique com sua lindeza aí, Peninha. Vou ver o que ela quer...

Peninha o impede: Pera aí, uma mulher casada te chamou pra ir no quarto dela, Marcolino. Eu tenho que te falar alguma coisa sobre fidelidade...

Marcus: Não se preocupe. Eu não vou trair a Susana. Sou fiel- Ele sai andando.

Peninha suspira: Minha falecida tia Romildina já dizia que o único ser fiel é o cachorro. Era ela que dizia também que depois dos 13, a vida do homem nunca é a mesma...Engraçado, que ela não era homem e dizia isso. Ou será que era? Pela cara, dava pra confundir...

Marcus, de longe: Cala a boca, Peninha!- Ele grita.

No quarto...

Alexandra vai até o chuveiro e o liga: Veja só, Marcus. Eu ligo e só sai água gelada...Não sei dessas coisas de hidráulica. Pode resolver pra mim?

Marcus coça a cabeça: É melhor chamar o Peninha. Ele entende dessa área. Eu sou mais especializado em...

Alexandra: Armas?

Marcus pigarreia: De qualquer forma, a resistência deve ter queimado. Eu vou checar isso pra senhora. Mas tá o maior calorão, não é bom tomar banho em água quente.

Alexandra: Eu só de coisas quentes- Ela se aproxima- E não me chame de senhora. É um título que eu rejeito...Bom, Marcus, me fale mais sobre você.

Marcus: Eu tenho 22 anos, morava no Rio até um mês atrás. Tô me adaptando aqui...Lá no Rio, eu fazia umas coisas meio pesadas pro horário, digamos assim- Ele sorri.

Alexandra morde o lábio: Eu sei que tipo de coisas eram essas. Você era um bandido. Matava, roubava. Não precisa ter vergonha de falar isso...

Marcus se vira: Não tenho vergonha, nem orgulho. E eu não matava ninguém, nunca nem ao menos atirei pra ferir um ser humano.

Alexandra: Tudo tem uma primeira vez, não foi à toa que te chamei aqui. Eu preciso dos seus serviços...E não dos hidráulicos. Até eu sei trocar essa resistência.

Marcus, vermelho: Eu...Não faço esse tipo de serviço, senhora.

Alexandra ergue sua cabeça: Não sou senhora. E olhe pra mim quando eu estiver falando com você. Você vai fazer esse serviço pra mim, mas primeiro, vai fazer isso- Ela o beija e os dois acabam caindo na banheira, cheia de água.

Cena 08- Ruas de Recife/ Ext./ Dia.

Tião se aproxima dela: CELESTE! CELESTE!

Marcelina vê que o sinal está aberto, mas seu pânico é tamanho, que ela decide atravessar. Os carros buzinam, as motos tentam desviar. O coração da mulher está prestes a sair pela boca. Os gritos de seu antigo marido. Um medo concretizado. Não lhe havia defesa, nem nada. Ela corria para chegar ao outro lado. Uma caminhonete quase a atropela. O carro por pouco não lhe faz de presunto. A mulher escuta em sua mente os sons das buzinas, atordoantes, e também os gritos de Tião. A mistura dos ruídos lhe proporciona intensa dor de cabeça. Felizmente, ela chega ao outro lado, deixando Tião a certa distância. Marcelina está ofegante, suada, com vista turva, confusa. Não sabe pra onde vai, mas retoma a corrida.

Marcelina tosse: NÃO!- Ela coloca as mãos sobre a cabeça- MEU DEUS DO CÉU, É UM PESADELO- E corre cada vez mais longe.

Liana a avista, do carro. Ela sai apressada, e encontra um menino na bicicleta.

Liana, desesperada: Pivete, te dou 20 reais se você seguir aquela mulher- Ela aponta- E anotar o endereço dela pra mim. Sabe onde fica a casa do Tião do Povão?

Garoto: Claro que sei. Todo mundo sabe.

Liana: Ótimo, anota o endereço num papel- Ela pega dinheiro- Compra o papel e a caneta com essa grana. Os 20 só te dou depois, se entregar o endereço pra mim. Fala pro porteiro que é pra entregar pra LIANA!- Ela volta pro carro- Agora vai, vai logo, segue a mulher!

Marcelina continua correndo. Susana desce do ônibus e vê a mãe sem rumo. Sem muitas dificuldades, a alcança.

Susana pega ela pelo braço: MÃE!

Marcelina se vira, traumatizada: SOCORRO! SOCORRO, SUSANA!

Inesperadamente, Tião surge perto das duas.

Tião, sem fôlego: VOCÊ NÃO VAI ESCAPAR DE MIM...CELESTE REIS!

Susana: O quê? Celeste Reis?

Marcelina treme.

TERMINA O CAPÍTULO 06.