quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Somos Tão Jovens/ Viva Teu Momento - Capítulo 06


Somos Tão Jovens, capítulo seis:

Cena 1. Hospital São Vicente – Quarto de Maurício – Noite


Lana fecha a porta, emocionada: Pai?

Maurício, constrangido: Lana... Filha! Que coisa louca. Eu nunca imaginei que nosso encontro fosse ser nessas circunstâncias, mas...

Lana: Mas nada, pai. Não tinha como imaginar... Afinal, eu não te conheço, você também não me conhece... Não dá nem pra prever alguma coisa.

Maurício: É só que... Eu não queria que você me visse desse jeito, hospitalizado, sem poder...

Lana o interrompe. Ela chora, contente: Será que antes de começarmos a conversar eu... Podia te dar um abraço? - ela questiona, tímida - A última coisa que eu poderia imaginar é que eu fosse abraçar alguém que mal conheço, mas... Esse alguém é meu pai! E só de pensar nisso, só de te ver aqui, na minha frente... Me veio uma vontade súbita de te abraçar. De abraçar o meu pai!

Maurício se comove: Lana... Meu Deus, filha... Não precisava nem me pedir uma coisa dessas - ele sorri, disfarçando os olhos molhados - É claro que pode! Pode me abraçar, pode fazer o que você quiser.

A garota não hesita, e corre até o encontro do pai, na cama do hospital. Eles se entrelaçam num longo abraço.

Lana comenta, ainda chorando: A minha vontade é de ficar aqui pra sempre. Eu não imaginei que um abraço desse meu pai desconhecido fosse ser esse refúgio de todos os meus problemas. Parece que aqui, dentro desse entrelaço, tudo some, tudo deixa de existir. Sou só eu, sem nenhuma preocupação, nenhuma insegurança... É como se eu estivesse num casulo, e a metamorfose, finalmente acontecesse. Porque agora, pai... Agora eu não sou mais aquela Lana de antes. Agora eu sou a Lana filha do Maurício.

Maurício limpa ou olhos da filha: Esse refúgio, essa harmonia toda, a gente chama de família, Lana. Uma família de verdade. Uma família que se ama. E eu tenho certeza de que já te amo, filha.



No dia seguinte...

Cena 2. Casa de Olívia e Maurício - Quarto de Elis - Manhã

Elis acorda com o toque de seu celular.

Elis, ainda sonolenta: Guilherme?

Guilherme, pelo telefone: Oi, Elis. Eu pensei de a gente se encontrar mais tarde... Não sei, acho que o nosso último episódio não foi dos melhores...

Elis desperta: Tem razão. Pode ser no clube, no intervalo do meu treino? Acho melhor que a gente substitua a lembrança da última discussão.

Guilherme confirma: Pode ser. No mesmo horário de antes?

Elis: Isso... Tanta coisa aconteceu, eu queria mesmo falar contigo.

Guilherme: Alguma coisa com você? Alguma coisa que eu precise me preocupar?

Elis: Na verdade não é comigo, mas é grave sim. De tarde eu te conto melhor tudo isso.

Eles se despedem. Elis coloca o celular sobre o criado mudo, onde estava antes.

Teodora se senta na bicama, onde dormiu: Quer dizer que o casal mais badalado do ano brigou e eu não soube?

Elis, surpresa, retruca: Quer dizer que você acordou e deu de me espionar?

Teodora: Acordei agora também, boba. Mas me diz, qual é o motivo da discussão?

Elis também se senta: Ontem nós acabamos discutindo por eu ter ido no hospital, naquele dia do torneio...

Teodora: E vocês ainda estão nessa música? Já não passou da hora de trocar a estação do rádio?

Elis: Justamente por isso a gente ficou de se ver no clube. E falando nele, daqui a pouco eu já tenho que ir, e é melhor não me atrasar.

Teodora estranha: E você agora treina nos fins de semana?

Elis se levanta e abre o guarda roupas: Pois é. Antes eu não me sentia em dívida com o Beto. Mas, agora, eu tenho que render o dobro.

Cena 3. Apart Hotel - Cafeteria - Manhã

Lana nota: Tão cedo é tanta gente de pé...

Ela e a mãe tomam o café da manhã.

Marina: Aqui isso é normal. Eu mesma, quando era jovem, acordava duas antes do que você costuma levantar.

Lana assente. Ela e a mãe ficam silenciosas por um tempo.

Lana toma um gole de chá: Mãe... Tem um outro assunto que eu precisava falar com você.

Marina se interessa: Pode me contar o que você quiser, filha. Pode confiar em mim.

Lana: Que coisa, mãe! Parece que você sabe o que eu vou te dizer e faz o que pode pra que eu me sinta culpada por isso!

Marina: Desculpa, Lana. Se agora eu leio sua mente inconscientemente, vou fazer o possível pra não falar mais nada.

Lana suspira: Eu vou falar logo de uma vez, antes que a gente comece a discutir - Marina assente - A verdade é que desde que eu falei com meu pai ontem, eu não paro de pensar em como seria bom morar com ele. E pra todos nós, mãe. Você podia folgar um pouco desse estágio de enfermagem... - mas é interrompida.

Marina, chocada: Como assim, Lana? Eu nunca imaginei que você fosse me dizer uma coisa dessas... Você mal conhece o seu pai, minha filha.

Lana: E tem oportunidade melhor pra eu conhecer se não morando debaixo do mesmo teto que ele? Eu já ponderei demais sobre esse assunto, mãe, já calculei as possibilidades e... Eu acho que vai fazer bem pra mim morar com ele.

Marina tenta convencê-la do contrário: É que eu fico preocupada, filha... No seu pai eu já não confio muito, ainda tem a esposa dele que me pediu distância com todas as letras.

Lana é firme: Mas ela quer isso de você, mãe, que é ex namorada do marido dela... Eu, não. Eu sou só a filha.

Marina: Eu não vou discutir com você por causa de uma tolice dessas, Lana. Se você quer ir lá e quebrar a cara, eu não posso te obrigar a fazer o contrário. Mas o meu papel de mãe, eu já fiz, e te alertei. Isso não vai ter um bom resultado, escuta o que eu tô te falando.

Tempo depois...

Cena 4. Casa de Olívia e Maurício - Sala Principal - Tarde

Os donos da casa entram.

Olívia empurra a cadeira de rodas do marido: Lar doce lar. Que bom que o médico logo te liberou, só que agora teremos que bater cartão no hospital por conta das fisioterapias...

Maurício não gosta da brincadeira: Ninguém tá te obrigando a ir, Olívia.

Olívia se senta no sofá: Eu sei, Maurício, calma, é só que...

Maurício: É só que já deu desse assunto chato. E antes de almoçarmos, eu quero te falar outra coisa.

Olívia: E sobre o que é?

Maurício conta: A Lana, minha filha, me ligou e pediu pra vir morar aqui.

Olívia não acredita: Como é, Maurício?

Maurício: É isso que você ouviu, Olívia. Ela andou passando por problemas com a mãe, e eu não vi mal nenhum em abrigá-la por uns tempos. E se você visse o jeito como ela me pediu...

Olívia: Quer dizer que você mal conhece a garota e vai trazer ela pra dentro de casa?

Maurício é ríspido: A minha filha me pediu pra vir morar aqui, Olívia, mas eu não estou te pedindo nada. Eu tô te avisando que ela tá vindo pra cá, com o seu consentimento ou não. Agora nós podemos almoçar?

Cena 5. Clube - Cantina - Tarde

Elis está sentada, ponderando.

Zeca puxa uma cadeira: Será que hoje eu posso te atormentar?

Elis sorri: Zeca! Não é tormento nenhum. Senta logo.

Zeca o faz: E aí? Alguma novidade desde a última vez que a gente se viu, ou segue na rotina incessante de treinos? Meu pai me contou que agora você começou a treinar no final de semana.

Elis: Bom, além dos treinos só aconteceu uma coisa com meu pai. Se eu te contar, acho que você nem acredita.

Zeca: Então vamos tentar. Eu juro que dou meu melhor pra acreditar em tudo!

Elis suspira: Meu pai ficou paraplégico. Já deve ter chego em casa agora. Mas aquela revolta dele me doeu tanto, sabe?

Zeca: Poxa, que barra, hein? Mas olha, você pode contar comigo. Eu sei a gente mal se conhece, mas talvez seja esse o ponto bom. Talvez não saber os defeitos um do outro, traga mais segurança.

Elis: Pode ser que sim, mas... Minha cabeça é tão confusa, que eu acho que não tem nenhuma palavra que descreva tudo que eu sinto, tudo que eu penso.

Zeca: Sabe que eu te entendo? Embora eu pareça meio sozinho, os problemas insistem em me acompanhar - brinca - Mas as coisas vão melhorar pra você. Tenho certeza. Essa força que você aparenta... Não deve ser uma mísera impressão minha.

Elis confessa: Você não é a pessoa que diz que me acha forte... Pode ter algum fundamento, mas eu não sei qual é. Porque a verdade é que eu me sinto tão fraca. Nem a meu namoro eu tô conseguindo suportar, ultimamente...

Zeca, curioso: Namoro?

Elis, confusa: Quase ex-namoro. A gente tem se desentendido bastante, sabe?

Zeca: Por mais incrível que pareça, eu também já tive uma namorada e... Vai por mim. Prolongar uma coisa que não tá dando certo, só pode dar errado. É tipo uma fórmula matemática... E se você tá descontente, Elis, você não é obrigada a persistir até chegar numa acomodação.

Elis: Pode parecer um pouco melancólico, mas... Acho que você tem razão.

Zeca retruca: E qual o problema com a melancolia? As pessoas valorizam tanto as alegrias, que esquecem da importância que essas tristezas, esses sofrimentos e tragédias todas, têm. A verdade, é que nós não somos robôs que só sabem rir.

Elis se conforta. Agora, tudo fazia mais sentido. Zeca lhe trazia mais sentido.

Cena 6. Apart Hotel - Quarto de Lana - Tarde

A filha de Maurício conversa com a amiga pela web can.

Elena, surpresa: Como assim você já tá arrumando as malas de novo, Lana?

Lana, feliz: Pois é, Elena! Ontem quando eu falei com meu pai, deu pra sentir que até o astral dele é diferente, sabe?

Elena é sincera: Pra falar a verdade, não - ela ri - Eu acho que vou ter essa experiência de conhecer o meu pai outra vez.

Lana: Você sabe que não foi isso que eu quis dizer... Mas é que eu sempre discuto tanto com a minha mãe, e agora que surgia essa oportunidade...

Elena: Você resolveu fugir dos seus problemas? Fugir da sua mãe, Lana?

Lana se abate: Falando assim parece horrível, mas...

Elena: Mas é isso que a sua mãe deve estar sentindo. Isso que ela deve estar achando dessa sua saída súbita: uma fuga, Lana. E o pior, é que ela é o alvo dessa fuga. Ela que tá te prendendo, e você buscando cada vez mais e mais essa alforria. Você já parou pra se colocar no lugar dela, Lana?

Lana contesta: Mas minha até que reagiu bem quando eu falei. Pelo menos, melhor do que eu imaginei que ela fosse reagir...

Elena a censura: Isso foi o que você viu, Lana. Mas e o que você não viu? E as lágrimas que ela deve ter escondido, bem lá no fundo, pra te poupar desse sofrimento dela? Você não tá sendo justa com a sua mãe, Lana - as duas ficam em silêncio por tempo - Olha, agora eu vou ter que sair, vai ter aquele ensaio da banda. Mas quando você chegar na casa do seu pai, não deixa de me ligar, viu?

Lana assente, tentando sorrir. Mas falha.

Cena 7. Clube - Cantina - Tarde

Elis está sentada em uma mesa, à espera do namorado. E ele chega.

Elis fica contente em vê-lo: Guilherme, que bom que você veio. Você demorou e... Eu já pensei que não fosse vir.

Guilherme se explica: Eu acabei me atrasando na aula, mas eu nunca ia deixar de vir aqui. Você não sabe o quanto é aliviante pra mim te ver - ele tenta beijá-la, mas Elis se esquiva - Tá tudo bem?

Elis nega: Não, Guilherme, eu tô sendo injusta com você... A verdade é que eu pensei bastante nesse nosso reencontro, e... Eu cheguei a uma única conclusão.

Guilherme: Você tá tão séria... Que foi que aconteceu?

Elis revela: Eu acho que o melhor pra nós dois, Guilherme, é que a gente termine.



Fim do sexto capítulo.
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8 comentários:

  1. Fim de Guilis! Ou será que é o começo dos problemas?
    Espero que estejam curtindo!

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  2. Xiiii, quantas ocorrências.
    Elis está super afim de terminar com Guilherme, mas não podia ser diferente. Injustiça é algo insuportável. Maurício perdeu pontos comigo. Parece não levar o casamento com a Olivia em conta, ao achar que ela é obrigada a aceitar e acatar tudo que ele quer. E isso é mal de família, já que Lana também está afim de brigas, conflitos e confrontos. Mas essa última precisa viver essa experiência.

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    1. Maurício e Olívia ainda se desentenderão bastante. Será que seguem o mesmo rumo de Elis e Guilherme?
      Então não precisarão confirmar a paternidade! Viver o momento talvez faça bem sim a Lana.
      Obrigado por comentar!

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  3. Achei bonitinho o encontro pai e filha. Cena bem escrita. Lana se sente bem protegida por Marina, acabei de crer nisso. Ela leva em conta que toda a proteção da mãe lhe sufoca demais... Realidade de muitos jovens, até quebrar a cara e procurar abrigo na "proteção". Com essa análise, a personagem se aproxima bem da realidade de muitos jovens. Guilherme e Elis acabou... Eita! Problemas se aproximando. Parabéns, João.

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    1. Agradeço! Que bom que tem gostado.
      Lana e Marina tem sim a relação complicada. A proteção exagerada realmente perturba a muitos, será esse o caso de Lana?
      Obrigado por deixar seu comentário!

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  4. Bonita a cena do primeiro encontro da Lana com o Mauricio. Mas assim como a Elena, também não acho justo o que ela está fazendo com a Marina.
    Não estou gostando muito das atitudes da Olivia, mas eu entendo o lado dela.
    Pena que Guilis acabou. Eu shippava haahah mas gostei do Zeca também. E ainda tem a Lena no meio disso tudo... Vamos ver

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    1. Lana tenta não parecer ingrata... Será que está conseguindo?
      Essa era intenção! Que existisse essa dificuldade em julgar as personagens.
      Será que vai gostar das novas combinações? Nada é definitivo...
      Obrigado por comentar!

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  5. Zeca parece um tipo melhor para Elis, além de que gosto do jeito dele. Guilis não fará falta, creio eu. Muito bonita mesmo a cena da Lana e do Maurício.
    Olivia vem conquistando antipatia de minha parte. Compreendo ela, mas é hora de refletir e ter uma boa conversa com Marina, uma conversa com sustância, que possa esclarecer tudo.
    Outro capítulo bem!

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