Somos Tão Jovens, capítulo sete:
Cena 1. Clube - Cantina - Tarde
Guilherme e a namorada estão sentados à uma mesa da cantina,
conversando.
Elis revela: Eu acho que o melhor pra nós dois, Guilherme, é que a gente
termine.
Guilherme não entende: Como assim, terminar, Elis? Por que isso de uma
hora pra outra?
Elis: Não é deixar uma hora pra outra - ela segura nas mãos do rapaz -
Eu pensei bastante antes de tomar essa decisão, Guilherme. E nem é só pela
gente, pelo muro que a gente instaurou nessa relação... É que tanta coisa tem
acontecido, sabe? Primeiro foi aquela história repentina de irmã, depois meu
pai que se acidentou, sem contar a pressão dos treinos... Parece que vida
decidiu exigir tudo de mim num mesmo momento, sabe? E isso me mostrou que não
tem mais espaço pra um namoro na minha vida! Eu não posso me dar esse luxo. Não
nas linhas condições atuais.
Guilherme a questiona: E por que não, Elis? Por que é que você não pode
se dar o luxo de ser uma adolescente normal, por uma vez na vida?
Elis é franca: Porque eu não sou normal, Guilherme! Porque minha família
é complicada, minha vida é complicada... Eu sou complicada. É difícil de
explicar, mas... Desde às músicas à maneira que eu penso, eu sou muito diferente
de qualquer outro adolescente. Talvez eu seja mais madura, ou até mais imatura
por não aproveitar essa fase da minha vida, mas... Eu não sou do tipo que se
preocupa com o primeiro beijo, primeira vez, roupa que vai usar na festa... As
circunstâncias não permitem que eu tenha esse tipo de preocupação.
Guilherme: Eu não sei por que, Elis. Não sei por que você não pode se
preocupar com esse tipo de coisa. Talvez até seja fútil, mas... Mas qual o
problema nesse tipo de futilidade? Ajuda a gente a crescer, a perceber que
essas preocupações todas não passam de superficialidade... Por que com você não
pode ser assim? Por que você tem que pular essa etapa tão boa?
Elis explica: Porque enquanto a vida dos outros exige que eles se
adequem a esse padrão jovial, Guilherme, a minha exige que eu me torne adulta.
A minha exige de mim uma responsabilidade, uma força, que eu não tenho. Mas que
eu preciso aprender a ter pra poder lidar com o mundo, pra poder vivelr!
Entende?
Guilherme: Eu queria, mas... Será que a gente precisa acabar com a nossa
história por causa disso?
Elis lacrimeja: Precisa, Guilherme. Só o jeito que a gente pensa já é
diferente! Enquanto você diz que eu preciso viver essa minha juventude, eu
quero logo poder me livrar dela, pra aí poder amadurecer de verdade.
Guilherme insiste: E aquela história que todo mundo conta de que os
opostos se atraem?
Elis limpa seus olhos: Não faz isso comigo, por favor. Já é difícil pra
mim vir falar com você, mais difícil ainda é assumir tudo isso... Mas agora a
gente tem que pensar no que aconteceu de bom. E tentar tirar alguma lembrança
disso.
Cena 2. Casa de Olívia e Maurício - Sala Principal - Tarde
Olívia comenta: Eu tava vendo aqui uma receita deliciosa de um purê de
mandioca salsa que leva queijo, Maurício... Pensei em fazer - mas é
interrompida pela campainha, que toca.
Maurício segura nas rodas de sua de sua cadeira: Deixa que eu mesmo vou.
Pode ser?
Olívia assente, e volta para o livro de receitas.
Maurício volta feliz, agora acompanhado de Lana: Essa é a minha esposa,
Lana. Não sei se vocês se cruzaram no hospital... Mas merecem uma apresentação
digna. Lana, Olívia. Olívia, Lana.
Lana tenta ser simpática: Prazer... – mas ela ainda está tímida – Eu
espero que meu alojamento aqui não te traga problemas...
Olívia, que estava sentada na poltrona, se levanta, sorrindo: E não
trará, querida. Vai ser muito bom pra você e o Maurício conviverem juntos, nem
que seja por muito tempo. E pra nossa filha também, vocês devem ter quase a
mesma idade.
Lana, surpresa: Quer dizer que eu tenho uma irmã? Uma... Meia irmã? É
assim que se fala?
Maurício: Lá no quarto, que agora é de vocês duas, eu te explico. Vamos?
– ele repara na bagagem da filha – Eu levaria suas malas até o quarto, mas
depois do...
Lana não deixa que ele termine: Não se preocupa com isso, pai.
Tempo depois...
Maurício sai do corredor, rindo: Vida nova traz sempre um ar novo. Não
é, Olívia?
Olívia palpita: Não sei... Achei ela meio sonsa...
Maurício, incrédulo: Eu não acredito, Olívia. Eu até entendia sua
resistência no início... Mas ela já tá um pouco atrasada. Eu juro que pensei
que você tivesse voltado a ser a Olívia que eu conheci, foi tão doce com a
Lana...
Olívia: A Olívia que você conheceu,
Maurício, existia antes de eu conhecer a segunda família do meu marido.
Maurício: Você insiste mesmo em voltar nesse assunto... Agora, eu vou
pra consulta que eu marquei – diz abatido – E peço que você auxilie a Lana, por
favor.
Cena 3. Apartamento de Guilherme e Ricky - Tarde
Ricky abre a porta. Mas para no umbral quando vê o irmão no sofá: Será
que é muito invasivo perguntar o que aconteceu?
Guilherme o encara: O que aconteceu com quem, Ricky?
Ricky entra no apartamento: Como com quem, Guilherme?! Com você,
né? Sei lá, não sei se é o astral que tá diferente...
Guilherme o corta: Para, que você não tem nada a ver com astrologia.
Ricky: Mas falando sério. Mesmo que a gente não tenha nada em comum...
Cara, eu sou teu irmão. Você pode confiar em mim.
Guilherme se solta: É que eu a Elis... Nós terminamos. Hoje. Agora a
pouco, pra falar a verdade.
Ricky se senta: E você tá mal assim por isso?
Guilherme se levanta: Definitivamente, não dá pra falar contigo, Ricky.
Ricky: Desculpa. Me diz logo motivo, não sei, tudo que as pessoas
costumam perguntar... Sou péssimo com isso.
Guilherme tenta esboçar riso: Ela veio hoje com um papo estranho. Disse
que o pai tinha se acidentado...
Ricky: Quer dizer que foi ela quem terminou o namoro?
Guilherme: E isso faz alguma diferença?
Ricky: Faz toda a diferença, Guilherme. Significa que ela é que tava
descontente. Mas a desculpa foi essa? De que o pai se acidentou? - Guilherme
assente, bufando - Não, ninguém termina o namoro por alguma coisa aconteceu do
lado de fora, por alguma coisa não tenha nada a ver com vocês. Se a Elis quis
terminar, é porque alguma coisa não tava dando certo... Mas o pai dela não pode
ser uma desculpa.
Cena 4. Casa de Teodora - Tarde
Elis conversa com a amiga, no quarto dela: O pior é saber que eu menti
pra ele. Que eu menti pra mim mesma... Porque no fundo, Teodora, no fundo eu
sei que essa limitação do pai foi só pretexto pra isso tudo. Claro que te m um
pouco de verdade, eu não daria conta das duas coisas... Mas aquelas palavras,
aquelas palavras duras que eu tive que dizer pra ele e assumir pra mim, que
criaram essa realidade. Como se elas tivessem esse poder, de criar essa
realidade paralela.
Teodora está sentada: Criar essa realidade, e não só expressar o que a
gente sente... Acho que eu te entendo. Mas e o Guilherme? Como é que ele ficou
depois disso?
Guilherme, ainda no apartamento com o irmão, o responde: Depois de
tentar, de verdade, entendê-la, eu desisti. Porque eu percebi que nem ela se
entendia, que ela talvez estivesse mais confusa do que eu. Eu pelo menos
fingi... Mas fingir que a ausência dela não vai doer, eu não consigo. É difícil
demais imaginar a minha vida sem a Elis. Faz pouco tempo que tudo começou, eu
sei, mas é como se fosse tão profundo quando recente, sabe?
Teodora aconselha à amiga, em sua casa: Você não tá sendo dura consigo
mesma, Elis? As coisas não precisam ser assim tão complicadas. Você é que
escolhe por qual lado quer ver elas... Quem sabe o lado oposto, o do seu
namoro, te alivie de alguma forma.
Elis: Pros outros pode ser que esse teorema até funcione, Teodora. Mas
comigo, não. Tudo que me cerca é muito complicado, de qualquer ponto de vista.
E eu não seria justa com o Guilherme se cobrasse dele todas essas dívidas, que
eu tenho que pagar.
Cena 5. Casa de Olívia e Maurício – Quarto
de Elis – Tarde
Lana está se instalando: Eu ainda guardei pouca coisa numa parte livre
do armário, parece que eu vou dividir o quarto com a outra filha do meu pai.
Elena, que fala com a amiga pela web, como combinado, é seca: Entendi...
Lana: O que é que tá acontecendo, Elena? Pensei que eu é que estivesse
indisposta, mas você tá me vencendo de 10 a 0! Você tá me escondendo alguma
coisa?
Elena: Não... Quer dizer... Eu não tenho nada que esconder. – gagueja.
Lana: Pois agora eu tenho certeza que tem sim alguma coisa, e você vai
me contar agora! Vai, Elena, começa.
Elena: Eu vou falar sim, porque eu não posso ficar calada. Mas você jura
que vai acreditar em mim? Eu sei da sua confiança desenfreada no Ethan...
Lana: E eu do seu ciúme desenfreado. Mas o que meu namorado tem a ver
com isso? Ele aprontou alguma coisa?
Elena, sem jeito: Na verdade sim, Lana. Não é justo te esconder. A
questão é que, a caminho do ensaio de mais cedo, eu vi o Ethan... Com uma garota.
Lana, indignada: E qual o problema nisso, Elena? Eu também tenho amigos
homens... Normal.
Elena: Mas você não beija esses seus amigos, né, Lana?
Lana se choca: Será que você não confundiu ele com alguém, Elena?
Convenhamos que o Ethan não é o cara mais bonito do mundo... Mas nem o mais
feio. Não é difícil achar gente com o mesmo perfil dele.
Elena: Ah não, Lana! Você prometeu que acreditaria em mim!
Lana: Desculpa, Elena, mas essa história é, no mínimo, absurda!
Elena se estressa: Meu Deus, Lana! Você percebe que tá fazendo comigo o
mesmo que fez com a sua mãe? A diferença é que agora, o Ethan é o Maurício –
ela não permite que Lana responda – Agora eu vou desligar, tá ok, porque eu não
sou masoquista a ponto de ficar aqui esperando os seus insultos.
E o faz. Lana não sabe em quem acreditar.
Cena 6. Hospital São Vicente –
Consultório – Fim de Tarde
Maurício conversa com o médico que lhe está acompanhando.
Médico, animado: Você foi muito bem na fisioterapia, Maurício! Se
continuar assim, logo consegue...
Maurício o interrompe: Por favor, doutor. Eu não gosto desse tipo de
mensagem esperançosa... Não combina muito comigo. E como se já não bastasse o
hospital pra me lembrar a todo o momento... Você sabe.
Médico: Mas eu tenho que te falar do seu quadro regularmente, Maurício.
E a culpa não é minha se ele é bastante esperançoso. E você fez aquelas
adaptações que eu recomendei pra sua casa?
Maurício afirma: Fiz pouca coisa. Mesmo com a casa grande, ela só tem um
andar... Pelo menos com escadarias, eu não tenho que me preocupar. Mas tem
outra coisa, uma dúvida, na verdade, que até agora eu não parei de pensar.
O médico: Bom, se eu souber te responder...
Maurício: Não é a sua área, eu sei, mas eu acho que não custa tentar,
não é? Enfim, eu não sei se você soube, mas eu descobri que tenho uma filha
recentemente. A mãe dela veio atrás de mim porque a menina tá doente, com
leucemia, precisando de um transplante de medula. A mãe ficou de marcar o exame
de compatibilidade, mas... Agora, doutor, agora que eu me acidentei... Que eu
rompi a coluna... – ele suspira,
emocionado – Eu ainda tenho condições de ceder um esse transplante pra minha
filha?
Cena 7. Casa de Olívia e Maurício – Fim
de Tarde
Elis entra: Mãe? – ela não vê ninguém na sala, nem obtém resposta.
Então, deduz que está sozinha.
No quarto de Elis...
A garota entra e encontra Lana, em frente à escrivaninha, usando fones
de ouvido, ainda pensando no que foi digo por Elena. E as duas se assustam.
Elis: Quem é você?
Lana tira o fone, se lembrando do que o pai disse: Você deve ser a filha
do Maurício e a Olívia...
Elis: Sim, mas... E você, quem é?
Lana: Eu sou a Lana. Também filha do Maurício.
Fim do sétimo capítulo.


Lana e Elis! O que esperam pro encontro delas de amanhã?
ResponderExcluirTambém temos a continuação da cena de Maurício, com a resposta decisiva do médico.
Guilherme aceitou a separação? :O
ResponderExcluirEu achava que a Elis tinha que falar todos os motivos, mas as vezes é melhor evitar. Adorei a tirada que a Olívia deu no Maurício falando sobre a segunda família dele hahahahaha Elis sendo obrigada a dividir o quarto... isso pode mudar muito ela.
Sobre a separação, Guilherme talvez não aceita assim, tão facilmente. Mas a Elis agora tem outras preocupações, como a nova irmã.
ExcluirVejo que você é TeamOlívia. Tento ser imparcial, mas... Coitado do Maurício!
Obrigado por comentar!
Tomara que o Mauricio ainda tenha condições de ceder o transplante, sim. Ansioso pra ver como a Elis irá reagir nesse primeiro encontro com a meia irmã.
ResponderExcluirTambém torço por ele e Lana, Pedro. E pelos restantes também.
ExcluirA reação inicial nem é ruim... Depois que as coisas se complicam.
Agradeço o comentário!
Guilherme aceitando tudo... Bom, me surpreendi. Achei que ele fosse pirar. Torço que o Maurício consiga ainda fazer esse transplante. Ele parece está gostando dessa nova fase. Encontro das irmãs. Como será que isso vai terminar?! Ótimo capítulo, João.
ResponderExcluirBom, o término da relação dessas duas ainda é desconhecido, mas o começo... Garanto que será bom.
ExcluirJá o término da relação de Guilis chegou, sim, talvez antes do esperado.
Obrigado por deixar seu comentário, Gabriel!
O encontro das irmãs fecha esse ótimo capítulo. Elis terá mais conflitos do que já tem. Coitada. Ela me lembra a Ana de A Vida da Gente só que numa versão mais jovem.
ResponderExcluirGuilherme foi mais comedido do que eu imaginava também.
Bela trilha sonora!
Elis não está em uma boa fase da vida... A aparição da Lana pode piorar, sim.
ExcluirSobre a semelhança com a Ana, acho que ambas são muito reféns do que sentem. O que gera mais complicações.
Agradeço os elogios!