terça-feira, 29 de setembro de 2015

Somos Tão Jovens/ Viva Teu Momento - Capítulo 14


Somos Tão Jovens, capítulo catorze:

Cena 1. Hospital São Vicente - Quarto de Lana - Noite

Lana: Espera, Guilherme. Vai com calma. Você tá querendo dizer que você era o namorado da minha irmã?

Guilherme explica: Não, Lana, muito pelo contrário. Eu jamais quereria te dizer uma coisa dessas. Porque, se tivesse sido só um namoro, seria só isso, de verdade. Mas eu realmente me envolvi com a Elis... E ainda é difícil ter que conviver com qualquer coisa que me remeta a ela.

Lana compreende: E eu sou uma dessas coisas, né? Mas tudo bem, não precisa se explicar, você não me deve isso. Nem nada.

Guilherme: Eu não queria te fuzilar com isso, Lana, com essa minha história torta com a Elis que não tem nada a ver com você.

Lana: Eu sei. Por mais que a gente tenha se conhecido pouco, eu sei que você não faria isso de propósito. Quem é que seria tão masoquista pra fazer... Mas se você puder me deixar sozinha, Guilherme, eu...

Guilherme acata: Claro. Você tem todo o direito, mas... Isso não quer dizer que a gente precise se afastar, nem nada do tipo. Mas se a gente se envolver de alguma forma, eu peço que seja com calma. Sem nenhuma pretenção, pra que nada seja forçado. Imposto, entende?

Lana corta o assunto: Eu só quero ficar sozinha, Guilherme... Por favor.

Guilherme assente, ainda sem graça. Desajeitado, ele se aproxima do leito de Lana e a beija na bochecha, se despedindo.

Lana logo está sozinha no quarto. Sozinha, porém acompanhada das expectativas frustradas. Ela pega o laptop, que sua mãe havia deixado na gaveta do criado-mudo.

Elena aparece na tela do aparelho: Lana! Finalmente, né? Eu te liguei quase o dia todo ontem, mandei e-mail, mas nada de ser respondida! Mas me conta, quando é que você vem?

Lana, ainda abalada: Desculpa não ter te ligado antes, ter te deixado assim no escuro... Mas respondendo sua pergunta, se ainda tiver viagem, ela deve demorar - conta.

Elena não entende: Demorar?! Demorar por quê, Lana? - ela repara no ambiente - Espera, você tá num hospital? O que foi que aconteceu?

Lana tenta despreocupá-la: Foi só um desmaio. Mesmo! Mas nem é esse o problema maior. Deixou de ser há muito tempo... É só que eu precisava falar com alguém, Elena. Desabafar com alguém. E eu não tinha mais a quem recorrer! Minha mãe até se abriu, mas eu sequer tenho intimidade com ela. Eu também teria minha irmã, a Elis, mas é justamente com ela o problema - explica.

Elena se interessa: Problema? Que foi que a sua irmã fez?

Lana desaba: Fui eu, Elena, eu que me apaixonei e mais uma vez depositei um monte de expectativa onde não devia. Parece que essa é uma realidade que me persegue, sabe? Sempre gostar da pessoa errada.

Elena: Lana, desculpa, mas você tá indo rápido demais! Tenta me explicar com calma, tá bem?

Lana: A questão é que eu não queria, Elena, te juro que não. Mas, por bem ou por mal, eu fiquei maravilhada com a possibilidade de alguém gostar de mim como eu sou. Pelo que eu sou. Independente da doença. Eu queria provar pra mim mesma que aquilo que o Ethan, era mentira! A pior das mentiras.

Elena se desaponta: Eu não acredito, Lana! Você ainda leva em conta o que esse cara diz?

Lana: Querendo ou não, eu tenho que levar, Elena. E francamente, a cada dia que passa, eu acredito mais e mais nesse teorema.

Elena: Você sabe o que eu penso sobre isso. Mas me conta o que a sua irmã foi fazer nessa história.

Lana o faz: Eu conheci o namorado dela. Ex-namorado, na verdade, mas que parece que nunca conseguiu se libertar do fim do namoro... E pelo que eu entendi, ele só tava me usando, Elena, me usando pra poder esquecer da minha irmã.

Cena 2. Apartamento de Ricky e Guilherme - Noite

Guilherme entra, batendo a porta.

Ricky, deitado no sofá, caçoa: Chegou cedo, hein? Pensei que fosse dormir lá pelo hospital...

Guilherme: Não enche, Ricky. Tá certo que é ótimo que a gente tenha passado a viver como irmãos de verdade, mas você sabe que é esse tipo de piada fora de hora que impedia essa boa relação.

Ricky se ajeita no sofá: Nossa, desculpa, mas prever a hora pra piada é difícil, não é? Mas me conta, o que é que desestabilizou o seu humor?

Guilherme se senta também: Pode ser inútil, porque a história é inacreditável. Mas eu conto sim. A garota que eu tinha conhecido, Ricky, a minha primeira esperança de me libertar dessa prisão chamada Elis, é a irmã dela.

Ricky: Como assim? Você tá me dizendo que...

Guilherme completa: Que a Lana simplesmente é irmã da Elis! Todo o esforço foi por água a baixo! Porque se antes esse novo sentimento representava outra etapa da minha vida, agora eu vejo que foi um grande retrocesso.

Ricky: Mas a Elis já tinha te falado dessa irmã?

Guilherme: Sabe que de cabeça quente, eu acabei nem lembrando disso? Claro, eu sabia quem era a família da Elis, eles sabiam quem eu era... Mas não tinha mais nenhuma outra proximidade. Tudo muito... Profissional, sabe?

Ricky: Até sei, Guilherme, mas será que o ideal não é que você procure alguma das duas pra tirar essa história a limpo?

Guilherme: Não sei. Não sei, porque eu sinto que a estação muda, mas que o trem continua o mesmo. Se eu queria me afastar da Elis e de tudo que cerca ela, agora eu me vejo envolvido por uma outra pessoa, que a princípio não lembrava em nada a Elis, mas que de repente, eu descubro que é irmã dela! Quer dizer, ou essa minha bússola interna tá viciada... Ou sou eu que não sei lidar com essa lembrança.

Cena 3. Casa de Olívia e Maurício - Quarto de Elis - Noite

Elis e Zeca estão deitados na cama da garota. Lado a lado.

Elis: Eu já disse pra você não se preocupar, Zeca. Meu pai não é nenhum bicho papão que vai vir puxar seu pé quando todo mundo estiver dormindo. Meus pais são tranquilos com isso... Olha, e eu aposto que não vai rolar uma segunda edição do interrogatório que o tio Erasmo fez questão de declamar.

Zeca ri: Eu sei, eu sei, Elis. Eu sei de tudo isso, e não tinha como ser diferente. Você já decantou isso quantas vezes, hein?

Elis: Ah, e você vai negar que continua inseguro mesmo depois de todas elas?

Zeca puxa a namorada para perto: Não... Não acho que insegurança seja a palavra certa. Pensei em amor, o que você acha?

Elis sorri, o respondendo com um beijo. O rapaz, então, puxa o cobertor para cima, cobrindo seu corpo e o da esportista.

Amanhece...



Cena 4. Cafeteria - Manhã

Marina aparece e vai até Maurício, que, por sua vez, está sentado, mas logo estende as mãos para cumprimentá-la.

Maurício, entusiasmado: Marina! Desculpa seu eu cheguei cedo demais, mas eu confesso que me animei com o seu convite.

Marina se senta, pendurando a bolsa na mesa: Pois é, Maurício, mas o ideal seria que você não se animasse.

Maurício: Como não, Marina?! Eu sei que vocês precisaram de um tempo pra esquecer todo o ocorrido, mas só de você se dispor a me ouvir...

Marina: Meu Deus, então a situação é pior do que eu pensei. Eu não vim aqui pra ouvir nenhuma explicação tua, Maurício, porque o que você fez não tem explicação válida. Na verdade, eu só quero uma resposta.

Maurício: É claro que eu respondo, sem nenhum problema. Mas será que a gente não pode tomar um café antes? Eu não queria que a Lana se afastasse de mim, então eu pensei em...

Marina, porém, o interrompe: Eu não quero saber no que você pensa, Maurício. E muito menos tomar um café - e bufa - Será que você pode assumir uma postura adulta e parar com essa birra de criança?

Maurício: Eu só não acho justo tudo isso! Eu já vivi longe da minha filha por quase vinte anos, não vou suportar ficar mais nem um segundo longe dela!

Marina: Não suporte! Eu não me importo com a sua inconformação. Eu só preciso que você me responda, seriamente. Porque é essa resposta que vai mudar o destino da minha filha - Maurício acata - Você tem algum outro familiar que se disponha a nos ajudar com um transplante?

Maurício se preocupa: Não... Quer dizer, tem a mina filha. Elis. Mas ela também tem os genes da minha esposa, não acho que vá poder ajudar.

Marina: Você pode fazer uma ponte entre mim e ela? Eu tenho que aproveitar qualquer brecha, Maurício... Qualquer uma que livre a Lana dessa doença.

Maurício: É claro que faço. Claro! Mas... A Lana tem tanta urgência assim?

Marina suspira: Tem... Tem, mas eu não quero responder mais nada. Não quero te envolver ainda mais num assunto que não te diz respeito - ela se levanta - Por favor, fala com a sua filha.

Maurício a segura pelo braço, impedindo que vá: E você, Marina, por favor, intercede por mim e a Lana! Eu quero ao menos falar com ela.

Marina solta o braço e diz, firme: Vocês já tiveram bastante tempo pra conversar.

A mulher vai. Maurício continua no local, frustrado.

Mais tarde...

Cena 5. Hospital São Vicente - Quarto de Lana - Ainda pela manhã

Lana fala com Elena pela webcam: É claro que você tem razão... Como sempre, né? - ela vê a mãe abrindo a porta - Elena, minha mãe chegou. Vou desligar.

Elena: Aproveita e faz o que eu te falei, Lana. Fala com a sua mãe sobre o Guilherme... Sobre tudo.

Marina se interessa: Falar comigo?

Lana olha para a mãe depois para a amiga, na tela do laptop: Tá bem. Eu já ia fazer isso... Beijo - ela desliga.

Marina: Agora me conta, filha. Qual é a conversa inadiável?

Lana aponta para a pronta da maca: Sena aqui, mãe. Senta que eu te explico tudo, pelo menos o que eu conseguir explicar.

Marina segue a instrução da filha: E então?

Lana inicia: Eu tô com um grande problema, mãe. Já abrandando a situação, porque esse meu conflito é grande.

Marina: Eu preciso saber do que se trata antes de poder te ajudar, filha.

Lana: Eu sei. Nós já vamos chegar lá. A questão, mãe, é que eu me apaixonei. Eu não queria, mas...

Marina, indignada: Como assim, não queria, filha? Uma paixão faz bem a qualquer um.

Lana: Não quando você se apaixona pela pessoa errada! E nisso, mãe, eu já sou craque. Ele chama Guilherme. E é o ex-namorado da minha irmã. Minha meia irmã.

Marina: Então quer dizer que você já a conhece?

Lana: Conheço, nós dividimos o quarto nos poucos dias que eu fiquei com meu pai. Mas eu não entendo o que isso muda... O ponto aqui, mãe, é que o Guilherme era namorado dela!

Marina tenta tranquiliza-la: E qual é o problema, Lana? Eu sei que existe esse pacto universal em não namorar ex de amiga, irmã, enfim... Mas isso não é você quem escolhe. Nem a tal Elis. Não tem escolha pra esse tipo de coisa, Lana.

Lana: Realmente não teria problema nenhum se o Guilherme não falasse dela como se ainda namorassem! Pior, como se fossem casados! - mas Marina ri - É sério, mãe! Sem exagero nenhum!

Marina, ainda rindo: Eu acredito que não seja exagero seu, filha... É só que eu ainda não me acostumei a te ver assim, enciumada...

Lana se irrita: Não é hora pra brincadeira! Eu só te peço um conselho, não sei, qualquer coisa que me tire do escuro!

Marina: Bom, Lana, eu nunca vivi nenhum triângulo amoroso. Mas acho que se ele e você estiverem dispostos, você pode ajudar ele nesse esquecimento. Agora, se a recíproca da sua meia irmã for verdadeira... É melhor que você saia o quanto antes desse triângulo.

Lana: E como é que eu vou saber se ela ainda sente alguma coisa pelo ex-namorado?

Marina: Conversando, filha. O único e melhor jeito. Convida ela pra vir aqui, tenta esclarecer as coisas o máximo possível. Só assim você vai conseguir sair do escuro - aconselha - Tá bem?

Lana assente, e é abraçada pela mãe.

Cena 6. Clube - Saída - Fim de Manhã

Elis e a filha de Erasmo caminham até a saída do local, onde a jogadora de vôlei treinava.

Teodora: Eu não acredito, Elis! Você não tá me dizendo que...

Elis completa, feliz: Tô, Teodora. Por incrível que pareça, eu tô dizendo sim, e com todas as letras! Foi um passo tão importante pra gente, sabe? No tempo certo. Sem nenhuma precipitação.

Teodora: Eu também fico contente por vocês! Tão bom que sua relação com o Zeca esteja tão equilibrada... A minha com o Ricky, por outro lado, continua o caos de sempre.

Elis levanta a sobrancelha: Vocês brigaram?

Teodora conta: Antes fosse uma briga a minha maior preocupação, Elis. Antes fosse! Mas o Ricky mal olha nos meus olhos. Eu juro que daria tudo pra encontrar um cara assim como o Zeca, sabe, romântico, cheio de amor pra dar.

Elis: Tem certeza, Teodora? Você sabe que eu gosto muito do Zeca, mas que eu também daria tudo pra ter dado mais uma chance pro meu namoro com o Guilherme.

Teodora muda o tom, pra um mais sério: Você ainda gosta dele, não é?

Elis: Gosto. Gosto muito. De você, eu não preciso esconder... - mas são interrompidas pelo celular de Elis, que toca - Alô? Lana? Claro, vou sim, mas... Eu entendo que não seja uma conversa pra se ter por telefone, é só que... Tá bem. Eu passo por aí depois do almoço... Beijo.

Teodora: Sua irmã?

Elis: A própria. Ansiosa como eu nunca tinha visto. Ficamos de nos encontrar no hospital depois que eu almoçasse.

Cena 7. Hospital São Vicente - Quarto de Lana - Tarde

Elis bate na porta.

Lana, para a mãe: Deve ser ela.

Marina: Eu vou deixar vocês mais confortáveis. Faz o que eu te falei, viu?

Lana: Você também, mãe? Já basta a Elena. Mas você sabe que eu faço sim.

Elis estranha a demora: Lana! Tá tudo bem?

Marina abre a porta: Tá sim. Prazer, eu sou a Marina, nós ainda não nos conhecemos. Sou a mãe da Lana.

Elis sorri: Prazer! Eu sou Elis, meia...

Marina: Eu sei. Soube recentemente, mas não importa. O importante, aqui, é que vocês precisam conversar.

Elis ainda não entende: Tudo bem - e Marina sai, sorrindo - O que tem de tão urgente, Lana? Eu juro que ainda não entendi...

Lana: É sobre isso que eu preciso falar com você, Elis. Mas dependendo dos rumos, pode ser uma conversa difícil. Eu só peço que você seja franca comigo. E compreensiva, sobretudo.

Elis: Claro, é claro que vou ser, mas... O que aconteceu de tão grave, Lana?


                                                          

Fim do décimo quarto capítulo. 
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Um comentário:

  1. Lançando a campanha #DesapegaGuilherme acho que quando isso acontecer, tudo vai melhorar.
    A vida desses jovens é bem conflituosa. Aliás, você armou uma ótima trama, parabéns, João! Sinceramente, gosto muito de Zeca e Elis, acho que ele é ideal pra ela, e vice-versa. Quanto a Guilherme... Se liberta, homem! Assim ele pode tentar algo com a Lana.

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