Somos Tão Jovens, capítulo catorze:
Cena 1. Hospital São Vicente - Quarto de Lana - Noite
Lana: Espera, Guilherme. Vai com calma. Você tá querendo dizer que você
era o namorado da minha irmã?
Guilherme explica: Não, Lana, muito pelo contrário. Eu jamais quereria
te dizer uma coisa dessas. Porque, se tivesse sido só um namoro, seria só isso,
de verdade. Mas eu realmente me envolvi com a Elis... E ainda é difícil ter que
conviver com qualquer coisa que me remeta a ela.
Lana compreende: E eu sou uma dessas coisas, né? Mas tudo bem, não
precisa se explicar, você não me deve isso. Nem nada.
Guilherme: Eu não queria te fuzilar com isso, Lana, com essa minha
história torta com a Elis que não tem nada a ver com você.
Lana: Eu sei. Por mais que a gente tenha se conhecido pouco, eu sei que
você não faria isso de propósito. Quem é que seria tão masoquista pra fazer...
Mas se você puder me deixar sozinha, Guilherme, eu...
Guilherme acata: Claro. Você tem todo o direito, mas... Isso não quer
dizer que a gente precise se afastar, nem nada do tipo. Mas se a gente se
envolver de alguma forma, eu peço que seja com calma. Sem nenhuma pretenção,
pra que nada seja forçado. Imposto, entende?
Lana corta o assunto: Eu só quero ficar sozinha, Guilherme... Por favor.
Guilherme assente, ainda sem graça. Desajeitado, ele se aproxima do
leito de Lana e a beija na bochecha, se despedindo.
Lana logo está sozinha no quarto. Sozinha, porém acompanhada das
expectativas frustradas. Ela pega o laptop, que sua mãe havia deixado na gaveta
do criado-mudo.
Elena aparece na tela do aparelho: Lana! Finalmente, né? Eu te liguei
quase o dia todo ontem, mandei e-mail, mas nada de ser respondida! Mas me
conta, quando é que você vem?
Lana, ainda abalada: Desculpa não ter te ligado antes, ter te deixado
assim no escuro... Mas respondendo sua pergunta, se ainda tiver viagem, ela
deve demorar - conta.
Elena não entende: Demorar?! Demorar por quê, Lana? - ela repara no
ambiente - Espera, você tá num hospital? O que foi que aconteceu?
Lana tenta despreocupá-la: Foi só um desmaio. Mesmo! Mas nem é esse o
problema maior. Deixou de ser há muito tempo... É só que eu precisava falar com
alguém, Elena. Desabafar com alguém. E eu não tinha mais a quem recorrer! Minha
mãe até se abriu, mas eu sequer tenho intimidade com ela. Eu também teria minha
irmã, a Elis, mas é justamente com ela o problema - explica.
Elena se interessa: Problema? Que foi que a sua irmã fez?
Lana desaba: Fui eu, Elena, eu que me apaixonei e mais uma vez depositei
um monte de expectativa onde não devia. Parece que essa é uma realidade que me
persegue, sabe? Sempre gostar da pessoa errada.
Elena: Lana, desculpa, mas você tá indo rápido demais! Tenta me explicar
com calma, tá bem?
Lana: A questão é que eu não queria, Elena, te juro que não. Mas, por
bem ou por mal, eu fiquei maravilhada com a possibilidade de alguém gostar de
mim como eu sou. Pelo que eu sou. Independente da doença. Eu queria provar pra
mim mesma que aquilo que o Ethan, era mentira! A pior das mentiras.
Elena se desaponta: Eu não acredito, Lana! Você ainda leva em conta o
que esse cara diz?
Lana: Querendo ou não, eu tenho que levar, Elena. E francamente, a cada
dia que passa, eu acredito mais e mais nesse teorema.
Elena: Você sabe o que eu penso sobre isso. Mas me conta o que a sua
irmã foi fazer nessa história.
Lana o faz: Eu conheci o namorado dela. Ex-namorado, na verdade, mas que
parece que nunca conseguiu se libertar do fim do namoro... E pelo que eu
entendi, ele só tava me usando, Elena, me usando pra poder esquecer da minha
irmã.
Cena 2. Apartamento de Ricky e Guilherme - Noite
Guilherme entra, batendo a porta.
Ricky, deitado no sofá, caçoa: Chegou cedo, hein? Pensei que fosse
dormir lá pelo hospital...
Guilherme: Não enche, Ricky. Tá certo que é ótimo que a gente tenha
passado a viver como irmãos de verdade, mas você sabe que é esse tipo de piada
fora de hora que impedia essa boa relação.
Ricky se ajeita no sofá: Nossa, desculpa, mas prever a hora pra piada é
difícil, não é? Mas me conta, o que é que desestabilizou o seu humor?
Guilherme se senta também: Pode ser inútil, porque a história é
inacreditável. Mas eu conto sim. A garota que eu tinha conhecido, Ricky, a
minha primeira esperança de me libertar dessa prisão chamada Elis, é a irmã
dela.
Ricky: Como assim? Você tá me dizendo que...
Guilherme completa: Que a Lana simplesmente é irmã da Elis! Todo o
esforço foi por água a baixo! Porque se antes esse novo sentimento representava
outra etapa da minha vida, agora eu vejo que foi um grande retrocesso.
Ricky: Mas a Elis já tinha te falado dessa irmã?
Guilherme: Sabe que de cabeça quente, eu acabei nem lembrando disso?
Claro, eu sabia quem era a família da Elis, eles sabiam quem eu era... Mas não
tinha mais nenhuma outra proximidade. Tudo muito... Profissional, sabe?
Ricky: Até sei, Guilherme, mas será que o ideal não é que você procure
alguma das duas pra tirar essa história a limpo?
Guilherme: Não sei. Não sei, porque eu sinto que a estação muda, mas que
o trem continua o mesmo. Se eu queria me afastar da Elis e de tudo que cerca
ela, agora eu me vejo envolvido por uma outra pessoa, que a princípio não
lembrava em nada a Elis, mas que de repente, eu descubro que é irmã dela! Quer
dizer, ou essa minha bússola interna tá viciada... Ou sou eu que não sei lidar
com essa lembrança.
Cena 3. Casa de Olívia e Maurício - Quarto de Elis - Noite
Elis e Zeca estão deitados na cama da garota. Lado a lado.
Elis: Eu já disse pra você não se preocupar, Zeca. Meu pai não é nenhum bicho
papão que vai vir puxar seu pé quando todo mundo estiver dormindo. Meus
pais são tranquilos com isso... Olha, e eu aposto que não vai rolar uma segunda
edição do interrogatório que o tio Erasmo fez questão de declamar.
Zeca ri: Eu sei, eu sei, Elis. Eu sei de tudo isso, e não tinha como ser
diferente. Você já decantou isso quantas vezes, hein?
Elis: Ah, e você vai negar que continua inseguro mesmo depois de todas
elas?
Zeca puxa a namorada para perto: Não... Não acho que insegurança seja a
palavra certa. Pensei em amor, o que você acha?
Elis sorri, o respondendo com um beijo. O rapaz, então, puxa o cobertor
para cima, cobrindo seu corpo e o da esportista.
Amanhece...
Cena 4. Cafeteria - Manhã
Marina aparece e vai até Maurício, que, por sua vez, está sentado, mas
logo estende as mãos para cumprimentá-la.
Maurício, entusiasmado: Marina! Desculpa seu eu cheguei cedo demais, mas
eu confesso que me animei com o seu convite.
Marina se senta, pendurando a bolsa na mesa: Pois é, Maurício, mas o
ideal seria que você não se animasse.
Maurício: Como não, Marina?! Eu sei que vocês precisaram de um tempo pra
esquecer todo o ocorrido, mas só de você se dispor a me ouvir...
Marina: Meu Deus, então a situação é pior do que eu pensei. Eu não vim
aqui pra ouvir nenhuma explicação tua, Maurício, porque o que você fez não tem
explicação válida. Na verdade, eu só quero uma resposta.
Maurício: É claro que eu respondo, sem nenhum problema. Mas será que a
gente não pode tomar um café antes? Eu não queria que a Lana se afastasse de
mim, então eu pensei em...
Marina, porém, o interrompe: Eu não quero saber no que você pensa,
Maurício. E muito menos tomar um café - e bufa - Será que você pode assumir uma
postura adulta e parar com essa birra de criança?
Maurício: Eu só não acho justo tudo isso! Eu já vivi longe da minha
filha por quase vinte anos, não vou suportar ficar mais nem um segundo longe
dela!
Marina: Não suporte! Eu não me importo com a sua inconformação. Eu só
preciso que você me responda, seriamente. Porque é essa resposta que vai mudar
o destino da minha filha - Maurício acata - Você tem algum outro
familiar que se disponha a nos ajudar com um transplante?
Maurício se preocupa: Não... Quer dizer, tem a mina filha. Elis. Mas ela
também tem os genes da minha esposa, não acho que vá poder ajudar.
Marina: Você pode fazer uma ponte entre mim e ela? Eu tenho que
aproveitar qualquer brecha, Maurício... Qualquer uma que livre a Lana dessa
doença.
Maurício: É claro que faço. Claro! Mas... A Lana tem tanta urgência
assim?
Marina suspira: Tem... Tem, mas eu não quero responder mais nada. Não
quero te envolver ainda mais num assunto que não te diz respeito - ela se
levanta - Por favor, fala com a sua filha.
Maurício a segura pelo braço, impedindo que vá: E você, Marina, por
favor, intercede por mim e a Lana! Eu quero ao menos falar com ela.
Marina solta o braço e diz, firme: Vocês já tiveram bastante tempo pra
conversar.
A mulher vai. Maurício continua no local, frustrado.
Mais tarde...
Cena 5. Hospital São Vicente - Quarto de Lana - Ainda pela manhã
Lana fala com Elena pela webcam: É claro que você tem razão... Como
sempre, né? - ela vê a mãe abrindo a porta - Elena, minha mãe chegou. Vou
desligar.
Elena: Aproveita e faz o que eu te falei, Lana. Fala com a sua mãe sobre
o Guilherme... Sobre tudo.
Marina se interessa: Falar comigo?
Lana olha para a mãe depois para a amiga, na tela do laptop: Tá bem. Eu
já ia fazer isso... Beijo - ela desliga.
Marina: Agora me conta, filha. Qual é a conversa inadiável?
Lana aponta para a pronta da maca: Sena aqui, mãe. Senta que eu te
explico tudo, pelo menos o que eu conseguir explicar.
Marina segue a instrução da filha: E então?
Lana inicia: Eu tô com um grande problema, mãe. Já abrandando a
situação, porque esse meu conflito é grande.
Marina: Eu preciso saber do que se trata antes de poder te ajudar,
filha.
Lana: Eu sei. Nós já vamos chegar lá. A questão, mãe, é que eu me
apaixonei. Eu não queria, mas...
Marina, indignada: Como assim, não queria, filha? Uma paixão faz bem a
qualquer um.
Lana: Não quando você se apaixona pela pessoa errada! E nisso, mãe, eu
já sou craque. Ele chama Guilherme. E é o ex-namorado da minha irmã. Minha meia
irmã.
Marina: Então quer dizer que você já a conhece?
Lana: Conheço, nós dividimos o quarto nos poucos dias que eu fiquei com
meu pai. Mas eu não entendo o que isso muda... O ponto aqui, mãe, é que o
Guilherme era namorado dela!
Marina tenta tranquiliza-la: E qual é o problema, Lana? Eu sei que
existe esse pacto universal em não namorar ex de amiga, irmã, enfim... Mas isso
não é você quem escolhe. Nem a tal Elis. Não tem escolha pra esse tipo de
coisa, Lana.
Lana: Realmente não teria problema nenhum se o Guilherme não falasse
dela como se ainda namorassem! Pior, como se fossem casados! - mas Marina ri -
É sério, mãe! Sem exagero nenhum!
Marina, ainda rindo: Eu acredito que não seja exagero seu, filha... É só
que eu ainda não me acostumei a te ver assim, enciumada...
Lana se irrita: Não é hora pra brincadeira! Eu só te peço um conselho,
não sei, qualquer coisa que me tire do escuro!
Marina: Bom, Lana, eu nunca vivi nenhum triângulo amoroso. Mas acho que
se ele e você estiverem dispostos, você pode ajudar ele nesse esquecimento.
Agora, se a recíproca da sua meia irmã for verdadeira... É melhor que você saia
o quanto antes desse triângulo.
Lana: E como é que eu vou saber se ela ainda sente alguma coisa pelo
ex-namorado?
Marina: Conversando, filha. O único e melhor jeito. Convida ela pra vir
aqui, tenta esclarecer as coisas o máximo possível. Só assim você vai conseguir
sair do escuro - aconselha - Tá bem?
Lana assente, e é abraçada pela mãe.
Cena 6. Clube - Saída - Fim de Manhã
Elis e a filha de Erasmo caminham até a saída do local, onde a jogadora
de vôlei treinava.
Teodora: Eu não acredito, Elis! Você não tá me dizendo que...
Elis completa, feliz: Tô, Teodora. Por incrível que pareça, eu tô
dizendo sim, e com todas as letras! Foi um passo tão importante pra gente,
sabe? No tempo certo. Sem nenhuma precipitação.
Teodora: Eu também fico contente por vocês! Tão bom que sua relação com
o Zeca esteja tão equilibrada... A minha com o Ricky, por outro lado, continua
o caos de sempre.
Elis levanta a sobrancelha: Vocês brigaram?
Teodora conta: Antes fosse uma briga a minha maior preocupação, Elis.
Antes fosse! Mas o Ricky mal olha nos meus olhos. Eu juro que daria tudo pra
encontrar um cara assim como o Zeca, sabe, romântico, cheio de amor pra dar.
Elis: Tem certeza, Teodora? Você sabe que eu gosto muito do Zeca, mas que
eu também daria tudo pra ter dado mais uma chance pro meu namoro com o
Guilherme.
Teodora muda o tom, pra um mais sério: Você ainda gosta dele, não é?
Elis: Gosto. Gosto muito. De você, eu não preciso esconder... - mas são
interrompidas pelo celular de Elis, que toca - Alô? Lana? Claro, vou sim,
mas... Eu entendo que não seja uma conversa pra se ter por telefone, é só
que... Tá bem. Eu passo por aí depois do almoço... Beijo.
Teodora: Sua irmã?
Elis: A própria. Ansiosa como eu nunca tinha visto. Ficamos de nos
encontrar no hospital depois que eu almoçasse.
Cena 7. Hospital São Vicente - Quarto de Lana - Tarde
Elis bate na porta.
Lana, para a mãe: Deve ser ela.
Marina: Eu vou deixar vocês mais confortáveis. Faz o que eu te falei,
viu?
Lana: Você também, mãe? Já basta a Elena. Mas você sabe que eu faço sim.
Elis estranha a demora: Lana! Tá tudo bem?
Marina abre a porta: Tá sim. Prazer, eu sou a Marina, nós ainda não nos
conhecemos. Sou a mãe da Lana.
Elis sorri: Prazer! Eu sou Elis, meia...
Marina: Eu sei. Soube recentemente, mas não importa. O importante, aqui,
é que vocês precisam conversar.
Elis ainda não entende: Tudo bem - e Marina sai, sorrindo - O que tem de
tão urgente, Lana? Eu juro que ainda não entendi...
Lana: É sobre isso que eu preciso falar com você, Elis. Mas dependendo
dos rumos, pode ser uma conversa difícil. Eu só peço que você seja franca
comigo. E compreensiva, sobretudo.
Elis: Claro, é claro que vou ser, mas... O que aconteceu de tão grave,
Lana?
Fim do décimo quarto capítulo.


Lançando a campanha #DesapegaGuilherme acho que quando isso acontecer, tudo vai melhorar.
ResponderExcluirA vida desses jovens é bem conflituosa. Aliás, você armou uma ótima trama, parabéns, João! Sinceramente, gosto muito de Zeca e Elis, acho que ele é ideal pra ela, e vice-versa. Quanto a Guilherme... Se liberta, homem! Assim ele pode tentar algo com a Lana.