Somos Tão Jovens, capítulo cinco:
Cena
1. Casa de Olívia e Maurício – Sala Principal – Fim de Tarde
O telefone toca.
Olívia fica surpresa com o que lê no identificador de
chamadas: Maurício?!
Do outro lado da linha: Na verdade, aqui não é o
Maurício. A senhora o conhece?
Olívia responde, mesmo não entendendo o que se passa: Eu
sou a esposa dele... Mas e você, quem é?
O homem: Eu sou do hospital, o Hospital São Vicente. Nós
ligamos porque gostaríamos que alguém da família viesse até aqui.
Olívia se desespera: No
hospital?! O que é que o meu marido tá fazendo no hospital?
Cena 2. Apart Hotel - Flat de Marina e Lana - Noite
Lana solta suas malas e se senta no sofá: Eu ainda não entendi isso de
nós termos pego o táxi, sendo que você disse que o meu pai nos buscaria.
Marina também descarrega a bagagem: Pois é, Lana, eu te disse o que o
seu pai disse pra mim. Agora, se ele continua o mesmo descompromissado de
sempre...
Lana completa:.. A culpa não é sua. Tá bom, mãe. Eu já entendi. Já
entendi que meu pai não se importa comigo. Agora, isso não precisa ser um
mantra que você tem que repetir até que eu fixe na cabeça...
Marina não gosta: Se você tá tão cansada assim do que eu digo, Lana,
eu...
Lana a interrompe: Não é que eu esteja cansada, mãe. Mas é a mesma coisa
que você fez com a doença. Você aumenta a tragédia como se ela já não fosse
grande o suficiente.
Marina suspira: Tudo bem, filha - ela se senta - Eu vou tentar parar de
aumentar todas essas tragédias. Tá bem assim?
Lana, contente: Claro, mãe, e obrigada, mas... Será que agora, que a
gente finalmente entrou em um consenso, eu posso te pedir outra coisa?
Marina se senta: Vamos lá. O que você quer me pedir, Lana?
Lana questiona: Será que eu poderia ligar pro meu pai? Mas dessa vez EU
queria ligar, sem que você fizesse uma ponte, sabe? Eu queria trocar pelo menos
alguma palavra com ele, conhecer ao menos a voz dele.
Marina logo se levanta: Conhecer a irresponsabilidade não basta? Mas
tudo bem, Lana. Se você não quer minha ajuda, não ajudo. Deixo que você fale
com ele - ela joga seu celular para a filha - Eu tenho o número gravado na
agenda. Maurício. Agora eu vou pro quarto. Não sou obrigada a ser plateia do
show do seu pai.
Cena 3. Hospital São Vicente - Sala de Espera - Noite
Olívia e Elis se levantam ao ver um médico se aproximar.
Elis, preocupada: E então, doutor? O meu pai tá bem?
Médico: "Bem" é muito relativo. Mas ele podia estar pior,
tenha certeza disso. O seu pai é um sobrevivente.
Elis olha para a mãe: E ele já sabe? Quer dizer, já sabe que...
O médico a corta: É exatamente sobre isso que eu vim falar com vocês.
Ele já acordou, pode receber visitas... Mas ainda não sabe do problema. Ele
acha que a perna dormente ainda é resultado da anestesia. Mas nós sabemos que
não. E queríamos contar com a ajuda de vocês, quem sabe vindo da família, mais
confortável.
Olívia chora: Vocês querem a minha ajuda?! Eu é que tô precisando de
ajuda, doutor!
Médico: Eu sei, dona Olívia, sei que é muito difícil lidar com esse tipo
de situação, e tenho certeza que pro Maurício também vai ser... Mas vocês não
podem olhar pro que aconteceu. E sim pro que pode acontecer, se vocês se unirem
nessa recuperação.
Olívia se acalma: Falar é fácil. Se eu concordasse também seria... Mas
depois, eu sei que as coisas não serão tão simples assim. Eu acabei de
descobrir que o meu marido vai passar o resto da vida numa cadeira de rodas!
Você acha que isso é normal de se ouvir? Que isso acontece com todo mundo?
O médico retruca: Eu acho que você tem que ajudar o seu marido. Se não
quiser contar, não precisa. Mas o apoio da família é fundamental. Vocês me
acompanham?
Cena 4. Hospital São Vicente - Quarto de Maurício - Noite
Olívia entra acompanhada da filha: Eu não sei se eu vou ser forte o
bastante, filha...
Elis tenta confortá-la: Vai sim. Eu tenho certeza disso. Você já é muito
forte.
Olívia: Quem me dera se eu fosse esse poço de força que você imagina.
Maurício vê a família: Olívia...
Olívia chora: Eu não vou conseguir, Elis.
Maurício sorri: Por que é que você tá chorando? Eu me acidentei sim, mas
já passou! Agora vai ficar tudo bem. Eu só preciso me recuperar da cirurgia...
Olívia murmura: Não só da cirurgia, Maurício.
Maurício concorda: A gente tava passando por problemas, Olívia, mas esse
acidente pode ser revitalizador, eu tenho certeza. Eu vou falar com a Marina, a
gente vai se resolver, vai ter a minha filha, a Lana, e…
Olívia o interrompe: Não é essa a questão, Maurício! Você não faz ideia
de qual seja…
Maurício se assusta: Do que você tá falando? Hein?
Olívia se senta na borda da maca ocupada pelo marido: A sua perna,
Maurício. Você não consegue mexer a sua perna agora. E nem nunca mais vai
conseguir - solta.
Maurício continua não entendendo: Se você puder ir direto ao ponto,
Olívia…
Olívia chora: Não me faz dizer isso, Maurício. Você já sabe o que
aconteceu, o tá acontecendo. Dissimular as coisas, não vai resolver nada…
Maurício é direto: Você tá querendo dizer que eu fiquei paraplégico, é
isso? - Olívia demora a responder - ME DIZ LOGO, OLÍVIA. EU AGUENTO OUVIR. EU
AGUENTO TUDO. EU SÓ PEÇO QUE VOCÊ PARE DE TENTAR ME ESCONDER O QUE QUER QUE
SEJA.
Olívia suplica, com os olhos molhados: Para, Maurício, chega disso! Eu
não tô dizendo que você é fraco, na verdade, é o contrário. EU é que sou fraca
pra te dizer, com todas as letras, a verdade.
Maurício se revolta: Então você não precisa dizer mais nada! Não precisa
ficar aqui comigo, lamentando por mim, chorando por mim, porque eu não preciso
e não quero as suas lágrimas!
Elis intervém: Calma, pai, as coisas não podem ser tão generalizadas
assim, é tudo muito relativo… Você pode estar assim agora, mas depois…
Maurício grita: DEPOIS A SITUAÇÃO VAI CONTINUAR A MESMA! Tem muita gente
que se recupera, Elis. Mas tem muito, mas MUITO mais gente, que fica assim pro
resto da vida. Se é que eu vou conseguir viver nessa situação…
Elis: Para de se torturar assim, pai! Você sabe que não é essa a
verdade. Você sabe que tudo isso pode ser temporário, nem os médicos deram
certeza!
Maurício: Eu não me importo com o que os médicos disseram. O fato,
agora, é que eu vou dessa cama pra uma cadeira de rodas. E eu preciso de um
tempo sozinho, pra ao menos lidar melhor com isso… Por favor.
Elis olha pra mãe, depois pro pai. Todos choram. Elas, então, acatam, e
saem do quarto.
Olívia abraça Elis: Vai pra casa, filha. Pode chamar a Teodora, o
Guilherme… Só descansa. Eu vou pra cantina, tentar me recompor.
Tempo depois...
Cena 5. Hospital São Vicente - Cantina - Noite
Olívia já se recuperou. Ela está sentada em umas das banquetas frente ao
balcão, pensando em tudo que vem acontecendo.
Uma mulher se aproxima. É Marina. Seu cartão de crédito cai.
A mãe de Elis o pega, e repara que o cartão é de uma agência
internacional. Vê, também, o nome grafado. Marina Galdino.
Olívia encara a mulher: Você não se envergonha de tudo o que tá fazendo?
Marina não entende: Desculpa, eu acho que você me confundiu, na verdade,
eu cheguei hoje aqui no Brasil…
Olívia: Eu sei. Eu sei muito bem o que você tá aprontando. Marina
Galdino, não é? Eu sou Olívia. Olívia Adas. ESPOSA do Maurício.
Marina: Bom, eu soube do que aconteceu com ele, e realmente a situação
deve estar difícil pra vocês, mas…
Olívia: Mas eu não preciso da sua compaixão. Nem ele. Ou você acha que
com ela vai ajudar em alguma coisa? Desculpa, mas por enquanto, você só tem
atrapalhado.
Marina: Olha, eu não quero discutir com você. Desculpa se a minha vinda
ao Brasil te incomoda tanto, mas eu tenho uma filha que precisa de mim. E do
Maurício.
Olívia: E você acha que a sua família é mais importante que a minha, é
isso?
Marina: Eu não quero discutir com você. Deixa eu pagar a minha conta,
por favor.
Olívia: Ah, isso você pode fazer sozinha. Aliás, você pode fazer
bastante coisa sozinha, não é? Quantas famílias você já arruinou? Quantas vidas
você despedaçou? Quer dizer, quantas mais você pretende.... - é interrompida.
Marina, impaciente: Eu tô começando a me sentir ofendida. Eu entendo que
você não esperava que a minha filha existisse a essa altura do campeonato,
admito que eu também não esperaria, mas isso não te dá o direito de…
Olívia: Me dá SIM. E não vou perder esse meu direito. Escuta bem o que
eu vou te falar: se você tem alguma intenção de prejudicar a minha família de
alguma maneira, é bom que pare por aqui. Eu já mudei bastante desde que soube
de você, mas eu não vou tolerar que mude ainda mais a minha família. Acho que
você já tá avisada - ela se levanta.
Marina a encara.
Cena 6. Casa de Maurício e Olívia - Quarto de Elis Noite
Teodora entra, com uma mochila nas costas.
Elis comemora: Que bom que você veio, Teodora! Eu não ia conseguir ficar
aqui em casa, sozinha, com meu pai e minha mãe lá no hospital.
Teodora deixa a mochila sobre a cama, onde se senta: Sabe que eu ainda
nem tô acreditando nessa história? Tão maluca, tão... Folhetinesca.
Elis: Se fosse mesmo uma novela, seria até melhor. Porque aí eu teria um
garantia de que no final tudo vai dar certo. De que sempre vai ter um final
feliz.
Teodora a motiva: Mas essa depressão só piora as coisas... Você tem que
pensar no agora, Elis, viver o agora. E agora, o seu pai tá paraplégico. Tá
precisando da sua ajuda, da sua força!
Elis: Disso eu sei, só não sei de onde tirar essa força toda...
Teodora: Que isso, Elis? Do lugar que você sempre tirou! Você sempre foi
tão forte.
Elis: Mas os meus pais que eram a minha grande fortaleza. E agora que a
família inteira fraquejou, eu vejo que a situação se inverteu. Agora, eles é
que precisam da minha ajuda, e eu, não posso permitir que eu fraqueje também -
completa.
Cena 7. Hospital São Vicente - Quarto de Maurício - Noite
A porta se abre. Maurício olha na direção dela, com os olhos inchados.
É a filha de Marina quem entra.
Lana fecha a porta, emocionada: Pai?
Fim do quinto capítulo.


Gente, quantas emoções e que barraco :O
ResponderExcluirOlívia está obstinada mesmo a acabar com a raça de Marina. Eu estou boba, não imaginava que aquela moça mais calma da primeira impressão se tornou tão agressiva. É isso que o medo de perder faz. Eu quero saber como vai ser o encontro de Lana com Maurício, nessas situações. E como eu já disse em outra ocasião, prendam o caminhoneiro!
Olívia realmente não gostou muito da chegada da Marina... Ela libertou toda a amargura que sufocava durante anos, justo agora que precisam dela.
ExcluirAcho que deve gostar do encontro. Acho e espero!
E coitado do caminhoneiro!
Que ótimo capitulo. Muito bem escrito. Mais uma vez te parabenizo, João. Muitas emoções mesmo...
ResponderExcluirNão esperava que isso fosse acontecer com o Mauricio. Não parece ser fácil receber uma notícia dessas.
Espero que a Elis não se enfraqueça mesmo e seja forte com essa situação.
Estou à espera do capítulo 6 pra ver como será esse encontro da Lana com o pai. Nem sei o que esperar.
Que bom que continua gostando, Pedro! A leitura pode cansar com o decorrer dos capítulos, mas fico contente que não aconteceu!
ExcluirAgradeço os elogios. Quero surpreender sim!
O capítulo já saiu... Mais coisa aconteceu por lá!
Senti dó do Mauricio, não merecia. E quanto a Marina, sua chegada desagradou bastante Olívia, mas vê quanto tempo ambas irão aguentar essa história. Ansioso pelo encontro de Mauricio e Lana. Capítulo bem escrito e por sinal, ótimo. Parabéns, João!!
ResponderExcluirAceitar as novas pessoas na vida de Maurício não será fácil para Olívia, Gabriel. Já pra ele, aceitar essa nova condição é que será difícil.
ExcluirObrigado!
Emoções a flor da pele, e em pleno capítulo 05, o que prova que ainda tem muito pra acontecer!
ResponderExcluirOlívia está vendo Marina como uma ameaça, mas creio que isso será passageiro...Ou não. Quem sabe quando elas se conhecerem melhor...
E para Mauricio, um momento delicado, nessas horas deve-se tomar cuidado com tudo o que se fala.
Vamos ver como será seu reencontro com Lana, acho que será bem emocionante!
Será que as duas se darão liberdade pra essa aproximação?
ResponderExcluirO encontro está no próximo capítulo, Victor! Espero que tenha surpreendido suas expectativas.
Obrigado por comentar!