Cena 01- Hospital Recife/
Int./ Quarto de Marcelina/ Noite.
Susana fecha a porta: Agora que
aquela mulher foi embora, eu quero ouvir toda essa história da sua boca, mãe!
Naquela época o Guga vivia me dizendo que eu tinha outro pai, e você negava até
a morte. E EIS QUE CONFIRMA!
Marcelina se defende: Eu queria te
poupar de conviver com aquele monstro do Tião, por isso tive que negar e
desmentir o Guga. E depois que você foi acusada da morte dele, resolvi apagar
essa história da minha vida, até que a Liana veio reacender. Você é sim filha
de Tião do Povão. Conheci ele antes de Irineu. Mas logo descobri o monstro que
esse homem era, e tratei de fugir.
Susana: Mãe, você não podia ter
escondido uma história dessas de mim! Eu tinha direito de saber toda a
verdade...Aliás, não vou falar isso. Você tem plena consciência dos seus atos,
e devia ter me contado! Como cria uma filha omitindo uma informação desse grau?
ISSO É CRUEL!
Marcelina, engolindo o orgulho: As
mães tem que ser cruéis de vez em quando, pelo bem dos filhos, como foi o caso.
Tião me ameaçou de morte, Susana. Tive que fugir em uma hora. Apavorada,
contigo no meu colo. Não admito que julgue as minhas atitudes! EU SOFRI MUITO!
Depois esse Tião se tornou um político se fingindo de bom, e o maldito destino
deu um jeito de liga-los as nossas vidas de novo. Já pensou se ele nos
encontrasse? Tive que mudar de identidade! Você também mudou. Seu nome original
era Elisa! FIZ TUDO ISSO PELO NOSSO BEM!
Susana, desesperada: Eu entendo os
seus motivos, mas mesmo assim, você tinha que ter me contado sobre a identidade
do meu pai, porquê todo ser humano tem direito de saber pelo menos isso! O
Irineu me criou, é fato, mas o biológico era o Tião, e creio que ele não teria
coragem de matar a própria filha! SE TIVESSE ME CONTADO ISSO, TODA A CONFUSÃO
DA MINHA VIDA TERIA SIDO POUPADA!
Marcelina, vermelha de cólera: Você
não sabe quem é o Tião de verdade, então eu ordeno que pare de falar isso como
se ele fosse um homem bom! E AGORA AINDA QUER ME CULPAR POR TUDO QUE ACONTECEU?
EU TENHO CULPA DA SUA PRISÃO?
Susana, agitada: Olha, não interprete
as coisas de forma errônea pra se beneficiar, dona Marcelina, eu tinha os meus
direitos e você passou por cima deles!
Marcelina: Quem é você pra me dizer
isso, Susana? Vamos lembrar que também queria impedir o Munique de conhecer o
pai dele! PASSAMOS PELA MESMA SITUAÇÃO!
Susana: É DESCABÍVEL ESSA COMPARAÇÃO!
Marcelina grita: É TOTALMENTE CABÍVEL!
O TIÃO ME FEZ MAL, O MARCUS TAMBÉM TE FEZ MAL. NÃO QUERIA QUE CONHECESSE SEU
PAI PELOS MESMOS MOTIVOS QUE NÃO QUERIA QUE MUNIQUE CONHECESSE O MARCUS!
SIMPLES ASSIM!
Susana, chorando: Você foi egoísta
comigo! Eu sou herdeira desse homem, mãe, posso usar isso contra o Marcus!
AQUELE DINHEIRO É MEU!
Marcelina: SE EU SOU EGOÍSTA VOCÊ É
AMBICIOSA E FRIA!
Susana sai andando e bate à porta.
Marcelina: SUSANA, VOLTA AQUI, VOCÊ
TEM QUE ME ENTENDER! SUSANA!
Susana vai andando até desaparecer no
corredor escuro.
ELOS- CAPÍTULO 26.
Roteiro: Victor Morais.
Cena 02- Ruas de Recife/
Ext./ Noite.
Saskia se assusta: Pelo amor de Deus,
não me assalta- Entretanto, vê a figura de um menino de rua. Roupas rasgadas.
Meio sujo. O mesmo que lhe pedira esmola no sinal outro dia desses.
Gabriel: Eu só ia te ajudar. Já vi
várias pessoas passando pela mesma situação aqui na rua...Mas já que não quer,
não vou insistir...
Saskia corre atrás: ESPERA AÍ! Me
desculpa, é que nessa escuridão eu não distingui nada...Sabe como me ajudar? O
pneu furou, ninguém atende o celular. É o tipo de situação que eu não sei
lidar.
Gabriel a rodeia: Bom, saber, eu sei.
Tem um mecânico aqui perto que é meu amigo. Na verdade, tem um ali na rua à
direita, e outro no quarteirão seguinte.
Saskia sorri: Você é bem informado,
garoto. Qualquer um serve. Tô perto de casa, pra te falar a verdade, mas ia
levar uma era pra empurrar esse troço até lá...
Gabriel: Quem vive na rua tem que ser
bem informado, dona. Qual o seu nome? Já nos encontramos antes. No sinal.
Saskia estende a mão: Prazer. Saskia.
É alemão, antes que pergunte.
Gabriel confirma: Ah sim, o meu é
Gabriel...Eu acho que é brasileiro mesmo. Bem dona Caskia, já volto com seu mecânico. Se aparecer alguém por aqui, é
só tacar uma pedra, ou coisa do tipo. Eu sempre ando com umas, é difícil
conseguir a pedra de cada dia...
Saskia pega uma pequena pedra: Tudo
bem. Volta logo, Gabriel, por favor- Ela pega o celular- Eu tô começando a
ficar com medo...Vou ver se Rennê me atende.
Um pouco depois...
O mecânico limpa as mãos. Ele sai de
debaixo do carro.
Mecânico: Prontinho, dona. Pneu
trocado. Esse buraco secreto na rua atrapalha a vida de muito motorista mesmo,
a senhora não é a primeira...
Saskia abre a carteira: Graças a Deus
que vocês surgiram. Ou eu teria ficado parada como uma cabaça aqui na
rua...Quanto devo?
O mecânico pega seus pertences: A
mim, nadinha. Imagina! Isso é serviço de praxe! Se precisar, estamos
aí!
Saskia insiste: Mas pega essa mixaria
pra tomar pelo menos um lanche. Vocês dois me ajudaram. Não fosse a ajuda dos
dois, estaria aqui, como uma cabaça...
Mecânico: Já disse que não quero
nada, dona! Moro aqui há 30 anos e já passei por esse tipo de situação muitas
vezes. Esse buraco atrapalha a vida de muito motorista...Agora se o menino Gabriel
aceitar seu dinheiro...
Gabriel nega: Eu não, mas é melhor a
senhora ir logo antes que algum trombadinha chegue. Tenho prazer em ajudar, mas
contra eles, não posso fazer nada.
Mecânico: Esse garoto é um anjo. Só
não adoto porquê não posso!
Saskia se impressiona: Você mora na
rua? Isso é extremamente perigoso! Nenhum orfanat...
Gabriel a corta: Nem pronuncie essa
palavra, dona Caskia. Eu tenho horror
a orfanatos. Vivo aqui porquê quero- Eles se olham fixamente- Já sou acostumado
à minha realidade. Dói, mas passa.
Saskia fica tocada com as palavras:
Então eu já vou indo...Vem comigo, Gabriel, vamos dar um passeio pelo carro!
Mecânico: Isso mesmo, vá com ela,
garoto! Se divirta e até mais! Tenho que assistir meu jornalzinho- Ele sai.
Saskia entra no carro e o garoto faz
o mesmo: Você já jantou?
Gabriel faz que sim: Todo dia um
homem me dá comida- Ele tem dificuldades para colocar o cinto- Faz tempo desde
que andei de carro pela última vez...
Saskia acelera: Sou uma ótima
motorista, só pra constar- Ela solta uma risada- Mas, de verdade, queria
agradecer pela ajuda, Gabriel. Você tem bom coração, espero que não se
desvie...Muitos que vivem na rua seguem o mesmo caminho, sem querer ser
preconceituosa.
Gabriel: Eu não quero roubar, nem
fumar como os outros. Não sou assim. E nem precisa ficar me agradecendo...Eu
faria o mesmo com outros.
Saskia estaciona: Continue assim.
Você está mais do que certo- Ela sai do carro.
Alencar, sentado na calçada: A igreja
fala amém! Sei que as vezes trava na direção, só que dessa vez você travou
demais, não acha? Tava te esperando pra entrar em casa, não quero ser esfolado
pelo Rennê. Contigo presente ele perdoa.
Saskia: Tive problemas no pneu, mas
estou aqui! Esse é Gabriel- Ela apresenta o garoto- Ele me ajudou e
muito...Chamou mecânico e tudo mais.
Alencar abre a porta: Parabéns
menino, cobrou quanto dela?
Saskia, sentida: ALENCAR!- Ela se
vira para o menino- Quer entrar?
Gabriel, ainda recolhido: Melhor
não...Boa noite, dona Caskia.
Saskia coloca algumas notas em seu
bolso, sem que ele note: Até mais ver, meu anjinho. Vou te chamar assim. Tem
nome de anjo, age como um. Apelido melhor não há!- Ela entra em casa e acena.
Gabriel sorri.
Cena 03- Monte Castelo Hotel/
Sala 012/ Banheiro/ Noite.
Andressa lava o rosto. Munique a
observa.
Munique, ameno: Já está melhor?
Andressa fecha a torneira: Me sinto
suja, não importa quantas vezes eu me lave. Suja por dentro, Munique. Tenho
raiva da minha mãe, sei que ela não me ama, mas digo aquelas coisas contra ela
involuntariamente... Eu odeio esse clima. E me sinto culpada, imunda, perversa.
Munique a consola: Para com isso,
irmã. Você estava errada, ela também, todos de cabeça muito quente, mas o fato
é que sua mãe foi muito agressiva e cruel contigo ao dizer aquelas palavras. E
ainda te esmurrou. Na minha opinião a dona Alexandra pegou um pouco pesado.
Andressa: Mas tudo que ela falou
foram verdades. Alexandra não se importa comigo, me odeia, e queria que eu
saísse daqui...Não significo nada além de um estorvo. Acho que ninguém de
verdade se importa comigo.
Munique: Eu me importo. Mal te
conheço, mas me importo e muito! Quero que seja feliz, portanto recomendo que
erga essa cabeça e enfrente as situações. Não rebata as palavras amargas da sua
mãe. Ela não parece ter sentimento por ninguém, falando sinceramente. Então
apenas...Seja quem você é. Desista dessa tal cultura gótica, seja livre, feliz
e...Conta comigo.
Andressa: Ninguém nunca...- Ela
começa a chorar- Ninguém nunca falou assim comigo em toda a minha vida,
Munique. Eu juro. Obrigada por me confortar. Mas não é tão fácil assim...
Munique: É sim, mana. Eu vou te ajudar no que for necessário. Só quero que seja
feliz. Tem gente que não merece isso, mas você não tá nesse grupo.
Andressa sorri: Munique...- Ela o
cobre de beijos- Eu não devia te contar isso, mas tá sufocado na minha
garganta, e no momento, você é o único que dirige a palavra à mim, então vou
confiar na sua pessoa...Não somos irmãos. Pelo menos no quesito biológico. Eu
sou filha de um homem chamado Tião do Povão. Aquele que sua mãe é acusada de
matar.
Munique fica chocado: O quê?
Andressa continua a contar, enquanto
Munique arregala os olhos ao ouvir as revelações.
ELOSDIVÃ- Andressa: Fotos frias...Sem nenhuma
alegria na família. Conversas distantes, natais solitários. Família nunca foi
sinônimo de felicidade pra mim. Mas agora eu tenho alguém que pode me ajudar,
um alguém muito especial, e que, curiosamente, não tem nenhum laço biológico
comigo. Que se danem esses laços...Ele é meu irmão. Munique.
Cena 04- Monte Castelo Hotel/
Int./ Sala 012/ Quarto de Alê/ Noite.
Marcus entra no quarto.
Alexandra vai rumo a sua cama, com a
costumeira bengala: Eu não quero comentários sobre a vergonha que Andressa me
fez passar, até porquê a mais fajuta vidente sabe que você, como sempre, vai
ficar do lado dela. Impressionante como essa menina adora explorar um drama
inexistente, e agora na frente de amigos da família. Ela traça um plano
maquiavélico pra tirar de mim os sentimentos mais sujos. É uma reles psicopata!
Marcus: Eu não tenho o que comentar a
não ser que você tirou a máscara de boa mãe e mostrou quem realmente é pra
Bárbara e pra Fernie, que inclusive saíram daqui muito abaladas com suas
palavrinhas... Agora mais gente sabe do seu verdadeiro caráter! Quem é
psicopata aqui? A nossa filha não vai mais ser seu saco de pancadas. Tô te
avisando...
Alexandra ri: Nossa filha não, minha
filha. Com você ela só tem um pequenino laço, que eu posso cortar a qualquer
momento...Mas, chega de ameaças, estou esperando uma resposta muito importante
de uma pessoa, e não quero perder meu tempo contigo e com gentalha. A Andressa
me fez de idiota na frente de gente importante, e agora quis novamente brigar
comigo. Já são duas vezes. Na terceira...Eu afogo ela. Amo esse método.
Marcus: Eu me recuso a dormir aqui com
você...A cada palavra...Você que se afoga na sua maldade.
Alexandra: Poéticas palavras, anota
ali na caderneta e me deixa em paz. Hoje você não precisa dormir comigo, nem
faço questão e não irei te obrigar. Vai contar história da carochinha pros seus
dois “ filhos”, enquanto cuido de meus interesses.
Marcus sai, sem dar mais respostas.
Nem cinco minutos depois, Guga entra.
Guga, afobado: Mora na Suspirela! A
TAL DANI MORA NAQUELE MALDITO LUGAR, É SOBRINHA DA SUSPIRO!
Alexandra pega o celular: Que pena, a
pensão da senhora com nome de doce vai perder uma hóspede. Espero que essa Dani
não tenha aberto a boca sobre o que ouviu, ou, ao invés de um assassinato,
terei de encomendar uma chacina. O Massacre do Suspiro- Ela liga pra Gaspar- Já
tenho uma ocupação pros seus comparsas...Quero que eles eliminem uma garota.
Vou te passar uma foto dela...
No quarto de Munique...
Munique atende uma ligação: Oi,
Margot. Li sua mensagem dizendo que a Dani achou algo importante sobre a
Alexandra, mas não entendi...Cartão? Cartão do quê?
Margot, sussurrando: Um cartão que
ela usa pra roubar dinheiro do Marcus. Vem aqui na Suspirela pegar ele, e faça
o que quiser. Ela cismou no cartão, dizendo que podia te ajudar no plano contra
o Marcus.
Munique: Entendi. A Dani foi muito
ousada. Se arriscou. Amanhã agradeço ela pessoalmente...Quanto mais provas
contra os donos desse hotel, melhor vai ser quando eu precisar usá-las. Embora
eu esteja repensando isso, já que conheci o lado humano do meu pai... Amanhã
nos falamos melhor.
Margot: Te esperamos aqui- Ela
desliga e encara Dani.
Suspiro também fita a sobrinha, que
não tem um pingo de medo correndo nas veias. O silêncio, que encoberta o medo,
deixa o ar da pensão mais pesado.
Cena 05- Haras Campestrini
Ferrari/ Int./ Sala/ Noite.
Bárbara relata: Parecia um predador
prestes a dar um bote! Esmurrou a coitada da Andressa, tanto que o sangue
jorrou pela sala. Alexandra estava, com o perdão do termo, endiabrada. Mal
reconheci sua voz...
Miguel fuma: Então fiz certo em
recusar o karaokê. Detesto cenas como essas, embora não esteja surpreso.
Diferente de você e da Fernie, que, até onde eu sei, se gostam muito, a
Alexandra nunca ligou pra filha.
Bárbara: E não sei como ela consegue
viver dessa maneira...Filhos são tudo.
Miguel: Não na visão dela- Ele ri-
Mas chega a ser tragicômico. O que aconteceu depois? Marcus se desculpou?
Fernie, no celular: Só faltou beijar
nossos pés. Ficou morto de vergonha, e perdido diante da cena, sem saber se
ajudava Andressa, ou se ia até a gente. Munique foi com a irmã para o banheiro,
lavar o rosto, colocar gelo. Nós até queríamos ficar, mas mamãe achou que seria
impróprio.
Bárbara, exausta: Creio que o clima
não deve estar dos mais agradáveis, Fernie. Nessas brigas familiares a gente
não pode se meter, a menos que seja com nossa própria família. Mas rezo para
que Andressa se recupere. Ela é muito boa menina.
Miguel: É uma pena que Fernie não
passou vexame de novo no karaokê.
Fernie se levanta: Não começa, papai!
Eu canto lindamente. E agora vou assobiar pelo haras. Preciso respirar um
arzinho noturno- E sai.
Perto do estábulo, Gian tem uma
conversa via vídeo com um parente: As coisas estão difíceis por aqui. Ela está
resistindo, mas não vou desistir. Logo a Fernie vai ser minha.
Fábio, com uma lamparina e pijama em
mãos, aparece: Conde Gian? É o senhor?
Gian desliga na hora: Porquê? Está
parecendo outra pessoa? Logo se percebe que sua visão não está muito boa...Já
devia estar longe daqui.
Luckas também surge: Problemas por
aqui, Fábio?
Gian aplaude: É INSÔNIA GERAL! O
ÚNICO PROBLEMA POR AQUI É A PRESENÇA DE VOCÊS DOIS! VÃO EMBORA E ME DEIXEM EM
PAZ!
Fábio caminha lentamente: Só achei
que...
Gian o pega no ombro: Não ache nada. Você não tem condições, muito
menos idade pra isso. Volta pro seu soninho sagrado...
Luckas: Olha lá como fala com o
Fábio.
Gian: Deu pra ameaçar agora,
serviçal? É a revolta do proletariado?
Fernie sai de trás de uma planta:
Você não ouse encostar seu dedo podre no Fábio, que é um senhor de respeito e
trabalha há mais de anos pra gente. Ele merece ser aplaudido pelo que fez.
Diferente de você. Vou te tirar daqui nem que seja a força! A cada minuto que
convivo com vossa excelência, é mais uma prova da sua falta de escrúpulos para
com os outros.
Fábio, envergonhado: Não precisa
disso, dona Fernanda...
Fernie o beija na bochecha: Vá dormir
e pare de perder tempo com esse ruidoso, Fábio. Boa noite. Aos dois. À você e
ao Luckas.
Luckas sorri: Boa noite, dona
Fernanda- Ambos saem.
Gian a pega com força: Me fazendo de
idiota na frente dos outros?
Fernie lhe dá um empurrão: JÁ TE
FALEI PRA NÃO ENCOSTAR MAIS EM MIM, CONDE GIAN! EU ESTOU TE AVISANDO! COM
CORDIALIDADE!
Gian cerra os olhos, furioso.
NO DIA SEGUINTE...
Cena 06- Hospital Recife/
Int./ Quarto de Marcelina/ DIA.
Dr. Ariano: Está confirmada a sua
cirurgia para hoje, dona Marcelina, o quanto antes, melhor. E os exames,
aliados a entrevista, provaram que você está apta para uma operação. Em algumas
horas vamos começar a preparação, e claro, suas filhas terão de assinar os
termos.
Marcelina afirma: Estou preparada,
doutor. Só queria saber onde está a Susana...Ela disse algo pra você, Jucy?
Jucy: Não, mamãe. Estava trancada no
quarto. O que aconteceu?
Marcelina suspira: Tivemos uma
pequena discussão. Depois conversa com ela, fale pra que venha aqui na hora da cirurgia...Quero
todos reunidos. Vai que...
Peninha, tomando um suco verde:
Comadre, não se atreva a completar essa frase. Susana logo chega, e estamos
todos aqui! Somos as pessoas que se importam com você. Eu, a Suspirinho, o
Rick, a Jucy, o Caio. Não falta ninguém além dela.
Suspiro: Na verdade falta sim. O Guga. Talvez ele tenha direito. É seu filho...
Caio: Eu tenho um tio?
Marcelina o acaricia: Não sei do que a Suspiro está falando, Caio. Só tenho duas filhas: Susana e Jucy. Esse outro
aí...Morreu.
Suspiro molha os lábios: Num momento
como esses, é hora de passar por cima de qualquer mágoa do passado, pelo bem
maior, que é a união da sua família, comadre.
Marcelina: ELE NÃO TEM SENTIMENTOS E
VOCÊ SABE DISSO, SUSPIRO. Não se importa comigo, e não é agora que vai se
importar...Chega de discutir isso na frente do doutor. Já confirmei que estou
bem e quero todos aqui comigo antes de que me operem.
Suspiro sorri: Tudo bem, comadre, mas não vamos
perder o ânimo! Essa situação vai servir de exemplo num futuro
próximo.
Marcelina comenta: Espero que a
Susana venha...Trocamos muitas ofensas- Ela é atormentada pelas lembranças da
briga.
Cena 07- Monte Castelo Hotel/
Int./ Salão Principal/ Dia.
Alexandra lê: Hóspedes do hotel de Vilalobos se impressionam com qualidade e
paisagens subaquáticas. Propriedade é avaliada com cinco estrelas- E fecha
o jornal- Uma notícia boa enfim! Algo de bom o Marcus fez.
Liana toma café: Tenho outras
notícias, e creio que elas podem animar seu dia- Ela mostra as fotos de Munique
e Susana- Flagrei os dois se encontrando na lavanderia da família...E, pela
conversa, é óbvio que já se conhecem há alguns dias. Agora Marcus terá que
acreditar que nossa teoria virou fato: Munique e Susana tramam algo. São
parceiros de plano.
Alexandra dá zoom: Maravilha! Assim o
Marcolino perde a ilusão que tinha com o filho. Espero que fique furioso e
expulse ele daqui, a vassouradas. Seria esplêndido, Liana. Manda as fotos pra
mim...
Liana envia: E tem uma outra bomba: A
matriarca da família, Marcelina, aquela que te chutou uma vez, está doente.
Câncer no estômago. Estado já avançado...
Alexandra: Com ela eu não tenho que
me preocupar, mas se ela for vencida pela doença, melhor vai ser! Uma a menos
na família! Você sabe que as pessoas que me importam eu trato ou como aliados,
ou como inimigos. Já as que não me importar, tipo essa Marcelina, e a
Andressa...Eu trato no modo descartável.
Munique aparece: Bom dia!
Liana, direta: Como foi a tarde de
ontem com sua família, Munique? Matou as saudades da sua mãe?
Munique desconversa: Não sei do que
tá falando, Liana. Passei a tarde no hotel, e a noite fiquei com a minha
família. Iriamos nos divertir no karaokê, mas a digníssima senhora Vilalobos
estragou tudo. Agrediu a filha.
Alexandra: Mentir não tem eficácia
contra a gente, Munique. Sua atuação rasa só encanta o Marcus e uns outros gatos
pingados. Já sacamos o sentido da sua permanência aqui e...Como eu amo avisar
os outros, lhe deixo um aviso bem importante, com tarja de urgência: Sai
enquanto é tempo. Depois vai ficar muito tarde! Eu realmente poupo os outros do
sofrimento, mas alguns preferem levar chibatada! Não seja desses.
Munique: O que eu prefiro, Alexandra,
é seguir meu rumo aqui, sem dar atenção pras suas frases horríveis. O seu
caráter não me surpreende, então eu simplesmente ignoro seus avisos. Aliás,
pare de dar avisos e vá cuidar de si própria. Você tá acabada- Ele sai.
Alexandra sorri: Ofensa no meu
metabolismo vira energia, Munique. Ignora enquanto pode! Depois, você vai se
mutilar por não ter me escutado...
Cena 08- Suspirela/ Int./
Quarto de Margot/ Dia.
Margot se arruma para o trabalho:
Munique disse que estava vindo, Dani. A sua tia saiu, mas com o coração na mão.
Só faltou te levar no bolso. E não culpo ela...
Dani: A tia Suspiro é muito
aterrorizada, e acaba contagiando todos aqui da pensão! Já disse tantas vezes
que tudo vai dar certo, que na próxima vou oficializar como meu bordão.
Margot: Mas esse terror dela deve ter
fundamento, não? Lembre-se de que sua tia conhece os donos daquele hotel de
outros carnavais...
João entra: Margot, eu posso falar
com você? É rápido, prometo. Em particular, se for possível.
Dani sorri: Já estou de saída mesmo.
Margot, pode ficar sossegada. Eu sei o que estou fazendo. Acha que aquela
distinta senhora que foi pisoteada já sabe meu nome e endereço? Essa é boa!
No Hotel, Alexandra fala ao telefone:
Isso mesmo. Uma pensão chamada Suspirela. Gaspar vai indicar o lugar pra vocês,
mas não vai poder participar da ação, depois esclareço o porquê. A menina é
loira, branca, inconfundível. Matem ela precisamente. Se quiserem, podem entrar
na pensão, ou aguardar que ela saia pra trabalhar...Sejam livres.
De volta a Suspirela...
João, sentado na cama: Gostou do
último livro que te indiquei?
Margot: Muito. O melhor é que a gente
se conhece há pouco tempo, e já trocamos vários livros entre nós...É bom ter um
amigo leitor.
João se aproxima: Temos muito em
comum mesmo, Margot. Na verdade, a gente tem tanto que...Eu já me apeguei a
você. Se é que me entende, eu não queria ser seu amigo leitor... E sim, mais do
que isso.
Margot ri no primeiro momento: Mais
do que isso? Como assim, João? Tá tentando pregar uma peça em mim, né? Olha que
fico sem graça!!
João: Quem dera fosse isso. Mas é bem
mais simples de se explicar. Eu tô gostando de você. E muito. Você é a pessoa
mais incrível que eu conheci. Cada conversa que tivemos me tocou. Além de linda
e inteligente, você é sensível, e convenhamos, sabe conquistar alguém.
Margot, ofegante: Não é possível que
esteja falando de mim. Tá me confundindo com alguma personagem de livro e...
João cala ela com um beijo.
Mas a
moça se afasta.
Margot limpa a boca: NÃO!!
No andar de baixo, Munique entra: Ô
de casa!!
Dani desce as escadas: Munique!- Eles
se cumprimentam- Preciso te explicar a importância desse cartão. Vamos pro
escritório!
Munique: Claro- Os dois entram.
Ingrid também desce as escadas, com
uma bacia de roupas: Tio Peninha só sabe vestir esse estilo de blusa, parece
até farda- A campainha toca- DANI! A CAMPAINHA AQUI! TÔ OCUPADA- Ninguém
aparece- MARGOT! JOÃO! MATEUS! Será que é Saskia? Mas ainda tá cedo pra ela vir
chamar a gente.
Ingrid coloca a bacia em uma cadeira
e abre a porta. A invasão é súbita. Cerca de oito bandidos adentram o local, em
meio a gritos.
Ingrid fica apavorada.
Cena 09- Monte Castelo Hotel/
Ext./ Estacionamento dos submarinos/ Dia.
Susana reflete um pouco, meio que
escondida atrás de um carro. Ela pensa em sua vingança, de um modo profundo,
como tinha feito durante toda a noite anterior. Além de tudo, Susana se lembra
dos encontros que teve com Tião, sem saber que o mesmo era seu pai, e das
palavras de Marcelina.
Susana, maquinando: Já perdi tempo
demais...E o tempo não para, já dizia o Cazuza. Não posso me dar ao luxo de
esperar- Ela vai rumo ao esconderijo que tinha usado para entrar no hotel na
inauguração. Nenhum segurança rondava a região. Susana pula uma pequena mureta,
entra em uma espécie de tubo que levava o lixo do hotel para fora e, em
condições apertadas, se rasteja até conseguir chegar na sala com os sacos de
lixo. De lá, parte para o salão principal.
Muitos hóspedes já estavam acordados,
e os empregados do período noturno se preparavam para ir embora. Susana se olha
no espelho, mas não tem muito tempo a perder, como já havia reiterado.
Susana tem a visão de Alexandra
circulando pelo ambiente em sua cadeira de rodas. Espera que ela vá e anda pelo
ambiente: Munique, Munique, espero que não esteja dormindo...
Marcus cumprimenta alguns hóspedes no
mesmo salão, no entanto, os dois se encontravam cada qual numa extremidade do
recinto. O dono do Monte Castelo Hotel vai em direção ao elevador, quando vê um
dos hóspedes mais ricos e decide falar com ele.
De repente, no meio do caminho,
Marcus vê Susana, deslocada entre os hóspedes, procurando Munique. Parece não
crer.
Marcus vai até ela, ainda fascinado
com a visão: SUSANA!
Susana, de costas para ele, se vira.
Os dois ficam cara a cara.
TERMINA O CAPÍTULO 26.

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