Elos- Capítulo 31.

Cena 01- Monte Castelo Hotel/ Int./ Quarto de Alê/ Noite.

Alexandra se aproxima: Agora é minha vez de exigir uma resposta, Andressa! O QUE É ISSO QUE CAIU NO CHÃO?

Andressa se agacha rapidamente e tira outra coisa do bolso: Foi meu celular...- Ela recupera o gravador antes que a mãe veja- Vivo deixando ele cair...

Na sala de câmeras, Munique, Marcus e Suspiro respiram aliviados.

Alexandra: Além de tudo é descuidada...Olha, sai logo do hotel, vai pro raio que o parta, Andressa! Pode ter certeza que nem eu, nem ninguém, vai sentir sua falta.

Andressa sacode a cabeça: Eu que não vou sentir a sua falta, mãe...Quando você sair daqui. E já não me arrependo do que fiz. Por que você nunca foi a minha mãe, não fez questão...E nunca vai fazer...

Alexandra se intriga: O que você quis dizer com “ não me arrependo do que fiz”? Tá insinuando o quê?

Andressa abre a porta: Você vai saber- Ela sai, exausta.

Alexandra resmunga alguma coisa.

Munique enxuga o suor da testa: Graças a Deus, tudo se resolveu. Agora a Andressa só precisa trazer a gravação, e teremos duas provas contra a Alexandra. Vídeo e áudio...

Marcus: Claro...Só faz uma coisinha, filho. Volta um pouco a filmagem. Quero saber o que diabos Alexandra fazia antes da Andressa chegar.

Munique obedece: Tudo bem...- Ele congela a imagem- Ela estava mexendo em uma espécie de baú. E aproximando, dá pra perceber que...

Marcus vê nitidamente: Uma arma. Alexandra estava com uma arma- E um pensamento imediato vem em sua cabeça- A arma com a qual matei Tião.

ELOS- CAPÍTULO 31.

Roteiro: Victor Morais.

Cena 02- Haras Campestrini Ferrari/ Int./ Estábulos/ Noite.

Luckas, ávido: Eu prefiro que não monte no Apolo, dona Fernanda, porquê...- Ele tenta pensar em alguma desculpa- Por que ele está muito agitado hoje, não sei o que deu nesse cavalo, e como você não tem costume de montar nele, pode acontecer algum acidente...

Fernie: Tá dizendo que eu não sou experiente? Ora, Luckas, eu sei como controlar o Apolo! Me ajuda a subir logo, essa corrida tem que começar antes do jantar...

Miguel se pronuncia: Eu acho que o Luckas está certo, filha, Apolo parece mesmo agitado, mas é o único cavalo que sobrou, então é melhor que outra pessoa vá nele, pode ser eu, já que o conheço há anos...

Gian se oferece: Ou eu. Já montei no Apolo muitíssimas vezes, conheço o temperamento dele! Melhor trocarmos, senhorita Fernanda, não quero ver minha futura noiva em risco... Monte no Royal.

Luckas solta um “ufa” interno: Também acho que é a melhor solução.

Fernie torce a boca: Se é assim...Bem, mas eu vou ganhar de vocês do mesmo jeito, seja com Royal ou Apolo- Ela monta no novo cavalo- E, só pra te relembrar, Conde, eu não sou sua futura noiva.

Gian nada diz. Ele monta em Apolo e encara Luckas: Meu humor resolveu ficar instável hoje, Luckas...Cruze os dedos. Se eu ganhar essa corrida, deixo você ficar mais uma noite nesse haras, se não...Conto tudo- Diz baixinho.

Miguel, na frente: Então vamos todos para aquela linha, o percurso só dura 15 minutos. E que o melhor vença!- Fábio retorna- Apita pra gente, Fábio!

Luckas se benze: Se Deus quiser...O Conde não volta vivo dessa corrida.

Gian nota a inquietude do cavalo: O que tá acontecendo com você hoje?

Fábio pega o apito: Preparados? 3,2,1...VÃO!- E apita bem forte.

Miguel larga na frente de seus amigos e dos outros, Fernie consegue ficar em segundo, e faz de tudo para passar o pai. O Conde está em último, Apolo não queria seguir em linha reta. Ele logo nota que os outros estão distantes.

Gian, enraivado: ANDA LOGO...QUAL TEU PROBLEMA?- Ele é violento com o animal, que também se revolta contra o nobre- CORRE SEU INUTIL!

Fábio ri: O Conde não deu sorte... Senhor Miguel e os outros já estão na metade do trajeto!

Luckas vibra.

Fernie consegue ultrapassar Miguel e, já no final da corrida, assume a primeira posição. Miguel também tem problemas e acaba sendo ultrapassado por seus amigos e convidados daquela noite. Fernie cruza a linha de chegada.

Fernie, contente: EU DISSE QUE IA GANHAR DE TODOS VOCÊS! CADÊ MEU PRÊMIO? Com Fernanda Ferrari não se brinca!

Gian consegue avançar um pouco e faz Apolo correr: Em último eu não vou chegar...- Ele nota que tem chances de passar Miguel e acelera ainda mais e mais- VAMOS IMBECIL! VAMOS!

O cavalo perde o rumo e relincha bem alto, vindo a trombar numa cerca que não fazia parte da rota de corrida. Nesse momento, Gian decifra as intenções de Luckas, e o porquê do desespero do garoto há poucos minutos. Mas antes que possa falar algo, ele é lançado a uma enorme distância e bate com a cabeça violentamente numa pedra que perfura a sua pele e faz jorrar muito sangue.

Miguel fica horrorizado: MEU DEUS! CONDE- Ele vai até o local com seu cavalo.

Fábio se desespera: NOSSA SENHORA! PEGA O KIT DE PRIMEIROS SOCORROS ALI, LUCKAS! RÁPIDO- E sai correndo até lá.

Luckas, em passos vagarosos: Claro, Fábio, só um instante...- Ele começa a rir, não sendo notado por ninguém- Eu avisei... Pra não mexer comigo. Pena que teve que aprender a lição na prática...Dessa você não vai sair vivo!- Cantarola.

Miguel vai até Gian: CONDE! CONDE FALA COMIGO- Ele vê que o homem ainda está respirando- FÁBIO, OS PRIMEIROS SOCORROS! CHAMA UMA AMBULÂNCIA TAMBÉM!

Fábio, com o telefone: Eu já pedi pro Luckas pegar a caixa, senhor Miguel! Vou ligar pro 192...

Fernie se aproxima: Papai, o que aconteceu?

Gian, já nas últimas pulsações: O Luckas...O Luckas...

Miguel o acalma: Não fale nada ou sua situação piora, meu amigo, a ambulância logo vai chegar...Mantenha-se firme, estou aqui!

Gian insiste: O Luckas...Não é do bem...Ele...Mentiu...

Miguel: O quê?

Fábio, ao celular: TUDO BEM, TUDO BEM, MAS É URGENTE- E desliga- Eles estão a caminho...Mas cadê o Luckas com os primeiros socorros, meu Deus!

Gian não consegue respirar: Ele mentiu...ELE MENTIU...Ele quer destruir...- E começa a ter um tremor- Ai! Cuidado com ele...CUIDADO!

O Conde Gian dá um último respiro antes de morrer de vez. Luckas chega com a caixinha.

Miguel tenta reanima-lo: CONDE! CONDEEEEE- Ele não se conforma- FALA COMIGO! FALA!

Luckas entorta a cabeça: Ele...Se foi.

Miguel fica em pânico e Fernie tenta consolar o pai. Fábio tira seu chapéu em respeito. Já Luckas tenta esconder sua satisfação em vê-lo morto e estirado.

ELOSDIVÃ- Luckas: Nós podíamos até ter sido aliados, tínhamos alguns interesses em comum, mas ele preferiu esse caminho tão doloroso...E agora já deve estar descansando no reino do céus...Adeus, querido Conde. Deixa que eu faço sua parte, e conquisto a Fernie. E depois todos. TODOS.

Cena 03- Casa do finado Meton Grana/ Int./ Sala/ Noite.

Arvô observa o ambiente: Agora dá pra entender por quê Grana foi acrescentado ao nome de meu irmão...Ele não fazia questão de esconder seu luxo, diferente de mim, que sou sempre muito reservado...

Alencar ri: Percebe-se, titio.

Arvô abre a janela: Pena que Meton não escolheu um bairro mais nobre pra morar...Esse aqui parece subúrbio de filme norte-americano! Aliás, falando nisso, eu te contei, Alencar, que fui convidado pelo Istiven Ispilber pra atuar no novo filme dele? Depois que essa questão da herança se resolver, parto para Hollywood. Istiven disse que me espera o tempo que for necessário...

Saskia chega: O jantar está pronto- Todos se dirigem à cozinha- Fiz algo simples, espero que goste.

Arvô, franco: Eu gosto de comidas sofisticadas, não vou negar, mas claro que vou experimentar seu prato simples com muito gosto...Qual teu nome mesmo? Tenho que decorar. Esposa de meu sobrinho, espero que esteja tratando ele bem. Amo Alencar e Rennê como se fossem os filhos que eu nunca quis ter...

Saskia se senta na mesa: É Saskia, muito prazer, já ouvi falar muito de você.

Arvô coloca um pouco de comida: Todo mundo escuta falar muito de mim, Saskia...Nome estranho, hein?

Saskia rebate: Eu prefiro dizer que é diferente, ARVORILDO.

Arvô cheira os alimentos: Arroz, feijão, há quanto tempo eu não comia isso? Parti pra França faz uma década, já tinha me esquecido das essências brasileiras...Bem, mas quero saber como anda a vida do meu sobrinho! E Rennê, onde está? Se escondeu de mim?

Alencar resume: O Rennê está resolvendo uns assuntos dele. Já eu, estou muito bem, trabalhando no hotel submarino da cidade, junto com Saskia.

Arvô grita: O MONTE CASTELO HOTEL! Eu sou louco pra visitar, qualquer dia quero ir, finalmente o Brasil avançou, pelo menos num quesito! Sei que você é um ótimo administrador, Alencar, eu fui paraninfo da sua turma uma vez, lembra? Ah, bons tempos em que a tecnologia não dominava o mundo! E você, Saskia? Também trabalha nesse ramo?

Saskia conta: Sou chef de cozinha!

Arvô não contem o riso: Desculpe, achei que tivesse uma profissão importante, querida. Um dia chega lá...

Saskia se ofende: Na verdade eu acho a minha profissão bem relevante, já que sem mim, ninguém iria ter o que comer, a cozinha seria uma bagunça... Tá bom pra você, tio Arvô?

Arvô lhe dá um tapa nos ombros: Eu só tava brincando! Ela ainda não conhece meu humor...- Ele observa o casal- E filhos? Saskia não teve competência pra gerar um Alencarzinho?

Saskia começa a se irritar: Seu sobrinho que não quis.

Arvô come uma colherada: É só insistir, boba, pelo visto você não tem jeito pra lidar com seu marido- Ele faz careta- E pelo visto não é boa chef...Falta sal, pimenta, falta tudo nessa comida! Ou talvez seja meu paladar que está desacostumado! Melhor pedirmos comida japonesa! Quem topa levanta a mão? Eu levantei, então já é o suficiente. Só vou ali no banheiro e podemos pedir. Sushis me esperam!- Ele sai.

Alencar ri: Ah, o tio Arvô é uma figura, mas tem razão quanto à comida- Saskia o encara, furiosa- Que foi?

Cena 04- Monte Castelo Hotel/ Ext./ Estacionamento/ Noite.

Susana desce do carro de Rennê ao ver que Munique e Suspiro lhe esperam. Ela corre até os dois.

Susana, feliz: Suspiro, ainda bem que está em segurança, já estávamos todos muitos preocupados com o seu sumiço! Oi filho- Ela o abraça- Eu não entendi direito o que quis me dizer no telefone...Vão derrubar a Alexandra? Como? Parece até sonho!

Suspiro conta: Mas não é sonho! Já está tudo combinado, a desgraçada vai ser desmascarada durante o jantar de hoje...E só estou fazendo isso em vingança à morte de Dani. Deus sabe.

Susana: Mas como ela vai pagar? O que fizeram?

Munique revela: Fizemos ela confessar todos os crimes, e temos a gravação em mãos. Nosso plano consiste em passar o vídeo no telão, e chamar a polícia, mais alguém da imprensa para assistir junto com os hóspedes...Ela mal desconfia...

Susana não se entusiasma: Mas e se a polícia não acreditar em nada disso? Eu já fiquei como culpada do maior dos crimes dela, que foi o caso do Tião. Não tem mais volta, filho...

Munique: Claro que tem, ela confessa explicitamente! Depois dessa, a vida da Alexandra vai virar um verdadeiro inferno, mãe! É a nossa vingança! A mídia vai bombardeá-la, e mesmo que não seja presa, ela vai sofrer por conta do vídeo, em todos os sentidos!

Susana respira fundo: Vou pensar positivamente então, mas me chamaram pra assistir o vídeo também? É isso?

Suspiro: Claro, Susana. Você, mais que ninguém, merece estar na primeira fileira. Vendo a derrota daquela nojenta de perto...

Munique, confiante: Isso mesmo, mãe. Vamos entrar, quero que conheça a pessoa que nos ajudou também, a Andressa, filha da própria Alexandra!

Susana: Com muito prazer- Ela ainda não parece feliz- Mas não posso deixar o Rennê me esperando aqui...Eu falo pra ele voltar ou chamo para se juntar a gente?

Munique sorri: Chama ele! Quanto mais gente, melhor- Ele sai andando- Vou ver se a barra tá limpa pra gente entrar, vamos ter que ir pelos fundos, por segurança...

Suspiro, analisando a amiga: Achei que ia ficar radiante com tudo isso... Quer me contar o que está acontecendo?

Susana: Embora eu ache esse plano bem arriscado, estou confiante. Mas também temo pelo Munique, se envolvendo afetivamente com o pai, como se Marcus fosse menos culpado...Eu já avisei pra ele que não vou poupar seu pai herói da minha vingança. E pra isso, vou fazer com que Marcus fique caído por mim.

Suspiro arregala os olhos: Vai enredá-lo? Achei que estivesse numa relação amorosa com o Rennê...

Susana nega: Claro que não, assim até fico vermelha! Rennê é só meu amigo. Está se saindo um quase anjo pra mim...Inclusive, vou chamar ele. Já volto- E sai.

Cena 05- Monte Castelo Hotel/ Int./ Quarto de Andressa/ Noite.

Andressa está deitada na cama, soluçando. Liana abre a porta e entra.

Liana percebe a tristeza: Andressa? Tudo all right? Vim te chamar pra jogarmos mais uma partida de xadrez, onde eu, obviamente, vou te derrotar de novo!

Ela escuta o choro da jovem.

Liana se aproxima: O que foi? Não precisa chorar, eu não queria te ofender, Andressa, deixo você ganhar, não se preocupe!

Andressa se levanta: Não é isso, Liana...Tô assim porquê hoje, sem precisar de tapa nem nada, eu percebi que minha mãe realmente não me ama. E dói saber isso. Dói muito...

Liana ameniza: Não fala assim. A Alexandra tem o jeito dela de amar...

Andressa: Ela não ama ninguém, é uma assassina fria e cruel, que manipulou várias pessoas ao longo de sua vida. Ela me confessou isso. Mas, graças a Deus, seu “reinado” vai acabar em breve, hoje à noite, pra ser mais precisa.

Liana se interessa: Como assim? O que vai acontecer hoje à noite além de mais um saxofonista desconhecido tocando no restaurante do hotel?

Andressa explica: Fiz minha mãe confessar o que fez no passado e gravei tudo. Entreguei para meu pai, e ele vai passar um vídeo e o áudio da confissão pra imprensa, polícia e hóspedes verem de quem minha mãe se trata...Alexandra Amaral vai para os trends, pode apostar. Antes eu tinha receio de entrega-la, mas agora não tenho mais... Creio que minha mãe tem que pagar por tudo. Do jeito certo.

Liana fica barbarizada: COMO VOCÊ FOI FAZER ISSO, ANDRESSA? TRAIU A MÃE? ISSO É UM VERDADEIRO PECADO!

Andressa: Não se tratando de quem é minha mãe. Sinto muito, Liana, mas já está tudo feito.

Liana, roendo as unhas: Eu...Não posso deixar que isso aconteça!

Andressa se revolta: Tá protegendo ela?

Liana, firme: Tô protegendo a mim mesma! Vou contar pra Alexandra o que fizeram com ela...A trairagem tamanha, partindo da própria filha e marido. Bem, mas o cabeça disso tudo deve ter sido Munique, que veio pra destruir nossa família! AQUELE RATO!

Andressa pega em seu braço: NÃO FALA ASSIM DO MEU IRMÃO! E você não pode estragar tudo, Liana, já me arrependo de ter te contado! Ela merece pagar, e não cabe a você impedir...

Liana a empurra: Você acha que seu pai é bonzinho, Andressa? Responde! Coitada, vive numa rede de ilusões! Garota, acorda! O que você fez vai afetar tanta coisa... Eu vou contar pra ela- Ela sai andando- Agora mesmo!

Andressa tenta impedir ela: NÃO...NÃO.

Munique e Susana chegam no corredor, sem Suspiro e Rennê.

Munique: O que tá acontecendo aqui?

Andressa puxa Liana: ELA QUER CONTAR TUDO PRA ALEXANDRA!

Liana dá um tabefe na sobrinha: ME SOLTA! Eu vou fazer o que é certo!- E vê Susana- Você por aqui? Já entendi tudo. Já compreendi a gangue que formaram... Os maledicentes ainda tentaram envolver essa pobre coitada que de nada sabe...

Susana toma a frente: Você não vai falar nada pra Alexandra.

Liana ri: Quem vai me impedir? Você? FRACASSADA. AINDA DEVIA ESTAR MOFANDO NA PRISÃO! Sabia que tava mancomunada com esse Munique. MAS A ALEXANDRA VAI SABER DO TAL PLANO. E EU- Bate no próprio peito- VOU SER A DIVINA MENSAGEIR...

Susana pega um castiçal que ficava no corredor e taca na cabeça de Liana, que cai imediatamente no chão, desmaiada. Não havia ninguém por perto.

Susana: E não é que eu impedi ela?- A mulher limpa as mãos- Temos que arrastar Liana até um quarto e trancá-la. Só pode sair depois que Alexandra estiver presa.

Andressa se habilita: Vamos colocar ela no meu quarto. Por aqui...- Ela pega uma das pernas, Munique, a outra, e Susana se encarrega dos braços.

Cena 06- Monte Castelo Hotel/ Int./ Restaurante/ Noite.

Marcus indica: Isso...Ali tá bom! Fechou então.

Alexandra chega: Que é isso? Um projetor no meio do restaurante do hotel? Os hóspedes pediram sessão de filme também?

Marcus, não escondendo sua felicidade: Vou passar um pequeno vídeo promovendo o hotel. Pedi que reunissem as notícias internacionais de destaque sobre o Monte Castelo... Só estou esperando que dê a hora do jantar

Alexandra estranha: Certo. Eu também tenho uma surpresa pra esse jantar- Ela se lembra da arma, que está no quarto- Uma grande surpresa, adjetivando melhor.

Os dois se encaram.

Não muito longe dali...

Munique: Alô? É da delegacia de Recife?

Cena 07- Hospital Recife/ Int./ Quarto de Marcelina/ Noite.

Peninha entra: Com licença, comadre, o recepcionista abriu uma exceção e deixou que eu te visitasse...Atrapalho?

Marcelina sorri: Peninha, claro que não! Eu achei que não ia vir!

Peninha fecha a porta: Eu nunca vou me esquecer de você, comadre, é que passei por uns probleminhas e acabei ficando sem tempo. Mas agora tô aqui, em carne, osso e gordura! Quero saber como foi sua cirurgia. A doença que começa com C já está fora do seu corpo esbelto?

Marcelina esfrega os olhos: Graças a Deus sim. Eu estou aqui em observação, ainda não consigo fazer algumas coisas...Mas é questão de tempo! Logo logo eu volto pra lavanderia. Já sinto falta daquele cheiro de sabão que perfumou minha vida por décadas...O cheiro daqui é...Particular, digamos assim.

Peninha a anima: Questão de tempo e você tá lá de novo! Sei que por aqui o tempo deve passar meio devagar, que falta faz uma televisão...Da próxima vez eu vou te trazer uma TV portátil que tem sobrando lá no Mundo Rurífico. Mas eu tô feliz pela sua recuperação, comadre. Pouco a pouco você vai voltando às suas atividades normais.

Marcelina: Não tenha dúvidas, compadre. Agora, não me leva a mal, mas... A Suspiro não vai vir me visitar? Sem querer cobrar nada de ninguém, é que nós sempre fomos tão próximas, eu estranhei ela não ter vindo...Ah, esquece. Já me arrependi de ter feito essa pergunta. Quem eu acho que sou pra me sentir importante?

Peninha explica: Comadre, você tem todo direito de perguntar isso, e não só a Suspiro, como eu, devemos uma explicação pela demora em vir. A Jucy já sabe, mas deve ter ficado receosa em contar...Nem sei se é bom que eu fale.

Marcelina fica curiosa: Agora eu quero saber. Começou, termina, Peninha!

Peninha se senta num banquinho: É que a sobrinha da Suspiro, a Dani...Foi assassinada, comadre. Bandidos invadiram a pensão e atiraram nela. Todo mundo ficou muito abalado, como deve imaginar, e isso aconteceu no mesmo dia da sua cirurgia, por isso ninguém veio...A Suspiro praticamente morreu junto, mas vou ajudar minha querida amiga à se reerguer.

Marcelina: Meu Deus, Peninha! Coitada da Suspiro. Eu queria tanto sair daqui pra poder ajudar ela...Agora entendo por que não vieram, mas como fui egoísta! A Dani, tão jovem, que fim trágico. Deus tenha misericórdia de sua alma...Um lugar tão pacífico como a Suspirela!

Peninha, cabisbaixo: A gente ainda não sabe porque isso aconteceu, comadre. Mas não se culpe, você nem tinha noção dessa barbaridade! Eu vou conversar com a Suspiro pra ela vir aqui...Você vai poder dialogar bem com ela, como só duas amigas podem fazer.

O enfermeiro abre a porta: Senhor, a hora da visita acabou. A partir de agora só o acompanhante pode ficar!

Peninha resmunga: Tá bom, tá bom, já vou!- Ele pega na mão de Marcelina- Desculpa atrapalhar seu descanso noturno, comadre, outro dia eu volto, num horário mais apropriado, quando as corujas não estiverem acordadas.

Marcelina: Você me alegra em qualquer horário, Peninha! Foi um prazer receber essa visita...Sobre a Suspiro: Traz ela aqui mesmo. Eu quero muito ter essa conversa...E sinto por ela- E lacrimeja.

Peninha lhe dá um beijo na testa: Não fica baixo astral, você não pode! A gente...Vai superar. Promessa minha. Já superamos tantas coisas juntos, não é?- Ele pega seu casaco- Até mais, comadre.

Marcelina respira fundo: Até, meu amigo. Conversa com ela também, dê uma luz pra cabeça da Suspiro...Estamos todos juntos.

Peninha sorri.

Cena 08- Monte Castelo Hotel/ Int./ Quarto de Andressa/ Noite.

Liana acorda, o quarto é iluminado apenas por um abajur. Ela não demora para recuperar a consciência e lembra do que Andressa tinha lhe dito.

Liana salta: AH, MALDIÇÃO- Ela vai até a porta, que está trancada- ALGUÉM ABRE AQUI! ABRAM! EU PRECISO SAIR! ANDRESSA, SUSANA, MUNIQUE... VOCÊS ME PAGAM! Preciso sair daqui, agora, e alertar a Alexandra- Ela acende a luz e verifica a hora- Não se passou muito tempo...ALGUÉM ME TIRA DESSE QUARTO!!

No restaurante...

Guga chega: Vamos ter um show aqui? Ninguém me avisou...

Alexandra, desconfiada: Não sei, tá todo mundo muito estranho. Cadê a Liana quando preciso dela?- E olha ao redor- Tô com um mau pressentimento, e minha bussola negativista aponta pro Marcus. E, claro, pro Munique...

De volta ao quarto...

Liana usa um grampo para tentar abrir a porta: AI... QUEM FEZ ESSE SISTEMA TÃO MODERNO? Não vou poder nem ao menos fazer como nos filmes e escapar...AAAH EU QUERO SAIR- Ela avista o telefone- Claro!! Como eu não me lembrei do querido telefone?- E vai até ele, discando- Alô? Aqui é do quarto 506. Eu tô trancada e quero que venham me tirar imediatamente...FOI UM ACIDENTE! Eu não acho a chave. É bom virem logo, aqui quem fala é Liana, uma das sócias- Inventa- VOU CONTAR ATÉ DEZ PRA ALGUÉM APARECER- E desliga.

Restaurante...

A polícia chega, bem como a imprensa. Estão todos sentados, prontos para o jantar. Marcus havia pedido que não liberassem a comida por enquanto. Alexandra e Guga se sentam na primeira mesa.

Andressa se escora numa parede próxima, com Munique.

Marcus pigarreia: Boa noite, queridos hóspedes, eu não quero que fiquem com fome por muito tempo, mas preciso lhes mostrar uma coisa muito... Grave, eu diria.

Alexandra se atenta. Quando olha para o lado, vê Susana numa mesa distante, essa está com Rennê e Suspiro. Ela arregala os olhos e percebe a cilada. Também vê Liana, esbaforida. Se levanta discretamente, mas quando se encaminha para a saída, Andressa entra na frente.

Andressa, firme: Não, mãe. Dessa vez não.

Alexandra se desespera. Não podia gritar. Ela então nota vários fotógrafos e policiais que não habitualmente costumavam estar no hotel: Me deixa passar por bem...

Munique a pega pelo braço: Você não pode mais fugir...PERDEU! PERDEU! Senta. Senta e assiste o que vai passar naquele telão- Ele e a irmã formam um quase muro para não deixa-la passar.

Marcus: Como vocês sabem, eu sou casado há anos com aquela mulher- E aponta para Alexandra- Nós nos conhecemos depois da morte do antigo marido dela, que todos vocês aqui devem ter ouvido falar pelo menos uma vez na vida. Tião do Povão. Ele foi assassinado...Uma moça foi condenada e presa, só que...Foi tudo uma farsa.

Alexandra sente uma pontada: Não...Faça...Isso...

Marcus engole em seco: Eu sou casado com uma assassina, que além de tudo me rouba, e é mandante de uma porção de crimes, dos quais eu desconhecia...O do Tião foi um caso a parte...Mas...É isso. Alexandra não é boa esposa, bondosa, não tem um pingo de caridade na alma, é abjeta e vil. Essa é minha esposa.

Alexandra não esboça reação. Guga estava chocado. Os flashes são muitos. Todos estavam abalados com o que Marcus havia dito. Munique e Andressa se entreolham, ao mesmo tempo em que o primeiro acena para a mãe, repleta de triunfo.

Marcus cala a boca de todos: E PARA PROVAR QUE O QUE EU FALEI É VERDADE, EIS AQUI UM VÍDEO...- Ele aperta o play.

No telão, a imagem da discussão entre mãe e filha. Alexandra lança um olhar fulminante para a ex-gótica.

Andressa: EU ACEITO, MAS DESDE QUE ME CONTE SE MATOU MEU PAI OU NÃO... FALA, MÃE! FALA!

Alexandra faz jogo: Melhor não, mas a proposta dos estudos está de pé! Que tal Londres!

Andressa explode: FALA!! FALA AGORA, MÃE...

Alexandra se estressa: CALA ESSA BOCA! Quer saber? Eu matei, matei o seu querido papai, há 18 anos atrás! Com um tiro! Mas fui tão esperta, que outra foi condenada no meu lugar! Sai impune graças a minha astúcia, Andressa, e por isso estou aqui. Nem preciso me mexer pra me livrar de meus inimigos. A moça? Dani, né?! Enfim, tá enterrada. Mortinha. Quis passar sobre mim, e se deu mal! Mandei matarem também! O PRÓXIMO VAI SER O MUNIQUE! Satisfeita com a confissão? JÁ IDEALIZOU O MONSTRO QUE É A SUA MAMÃE?! Mas faço isso pelo meu próprio bem. Se eu não fizer, quem fará?

Alexandra não sabia o que fazer. Os flashes lhe atormentavam. Todos já lhe encaravam de outra maneira. Em sua cabeça, pânico.

Estava perdida.

TERMINA O CAPÍTULO 31.