Elos- Capítulo 04.

Cena 01- Hospital Recife/ Interior/ Noite.

Marcelina disfarça: Celeste? Acho que a senhora está me confundindo, meu nome é Marcelina- Ela vai saindo quando Liana a puxa- Ai, dá pra me soltar?

Liana, calma: Não precisa ficar tão agitada, querida. Eu sei que é você. Já não me reconhece mais? Sou Liana, não é possível que eu tenha mudado tanto nesses 20 anos assim...Bem, você mudou um pouco. Acho que Tião ainda te reconheceria caso, por ventura, te encontrasse.

Marcelina: Eu quero ficar longe desse homem, e quero que minha filha fique mais distante ainda!

Liana ri: Bingo! Eu sabia que ia dizer isso, querida Celeste...Aliás, devia ter escolhido outro nome pra substituir esse, porquê Marcelina é tão feio...Mas essa não é a questão, vamos relevar. Sabe que temos interesses em comum, você não quer que sua filha saiba que Tião é seu verdadeiro pai, eu também não, então vamos ajudar uma a outra.

Marcelina: Tira a Susana de perto desse infeliz, Liana. Dá um jeito!

Liana ajeita o cabelo: Susana? Celeste, você não sabe escolher nomes mesmo...No passado sua filha chamava Elisa, não é? Não se preocupe, vou fazer isso agora mesmo- Ela encara a mulher- E cuide bem da sua filha, pra que ela não se aproxime de Tião de novo. Não queremos mais armadilhas do destino...- Ela sai.

Susana conversa com Tião: E depois disso, eu, minha mãe e meus irmãos não temos mais onde morar. A única que trabalhava era minha mãe e ela se feriu muito...Meu irmão perdeu o braço e...

Liana aparece, afobada: Tião, estão te chamando urgentemente em uma sala ali! Parece que há um caso horrível e precisam da sua ajuda para conseguir um helicóptero pro rapaz ser transferido- Ela puxa o irmão.

Tião, apressado: Garota, passa no meu gabinete, poderemos conversar melhor. Eu posso ajudar a sua família! Aqui o endereço- Ele dá o cartão.

Liana o puxa: RÁPIDO, TIÃO, RÁPIDO- Os dois saem.

Marcelina aparece no corredor quando tem certeza que todos já saíram. Ela pega a filha com toda a força.

Susana, dolorida: AI, MÃE, PARA, TÁ ME MACHUCANDO!

Marcelina lhe estapeia: É PRA MACHUCAR MESMO! QUANTAS VEZES EU JÁ DISSE PRA NÃO SE APROXIMAR DESSE HOMEM?! E VOCÊ AINDA ME DESOBEDECE, SUSANA! QUE COISA!

Susana tenta se defender: Mas ele vai nos ajudar- Ela esconde o cartão- Ele prometeu, disse pra eu passar no gabinete dele!

Marcelina a proíbe: MAS VOCÊ NÃO VAI PASSAR NO GABINETE DELE. É UMA ORDEM. E NEM OUSE ME QUESTIONAR... SUSANA, EU FAÇO ISSO PRO SEU BEM. NUNCA MAIS CHEGA PERTO DO TIÃO.

Susana: Você...Tem algum ressentimento com ele? São brigados?

Marcelina, abalada: Eu não te devo respostas...Cadê a Jucy? Anda, vamos embora- Ela sai andando.

Susana protege o cartão: Isso tá muito estranho...Muito...

ELOS- CAPÍTULO 04.

Roteiro: Victor Morais.

Cena 02- Hospital Recife/ Estacionamento/ Dia.

Suspiro entra no carro: Bem, já que está todo mundo no carro, hora de partir para a pensão mais animada de Recife, a Suspirela- Ela brinca.

Marcelina: Mas e os seus outros hóspedes, comadre? Eles não iam com a gente?

Suspiro acelera: Um deles tinha uma caminhonete, aí parece que eles foram nela. Não quiseram esperar. Peninha e Marcus tiveram noites agitadas, vieram do Rio- Ela conta.

Susana, para si mesma: Marcus? Esse nome tá me perseguindo.

Marcelina pede: Comadre, será que você pode parar na entrada do morro? Eu queria ver como estão as coisas por lá...

Guga: Tá tudo destruído, mãe. É óbvio. Restaram os urubus.

Marcelina: Mas eu quero ver mesmo assim. Não vou demorar...Isso se você puder, comadre, não quero atrapalhar sua rotina.

Suspiro faz uma curva: Claro que posso!

No morro...

Marcelina e os outros conseguem subir com dificuldade. Os policiais ainda trabalhavam em resgates, mas não na área em que a matriarca dos Porto e Pompa queria subir. Não havia mais ninguém habitando o lugar, que se tornara uma montanha de terra, dividida em grandes blocos.

Suspiro: Que paisagem triste...

Guga desiste de prosseguir: Eu vou voltar para o carro, que é melhor. Não sou obrigado a ficar nessa podridão, onde posso ser contaminado por vermes e ficar doente- Ele sai.

Marcelina vai até um local específico: Era aqui...- Ela se agarra ao terço- Aqui era nossa casa. Eu reconheço.

Jucy: Reconhece? Nesse monte de terra? Impossível...

Marcelina, triste: Eu sinto, filha...Afinal, vivi aqui por mais de décadas. Foi aqui que passei os momentos mais importantes da minha vida. Tive meus três filhos, criei eles...Fora os momentos inesquecíveis com o meu marido, o homem que eu tanto amava, Irineu- Seus olhos brilham.

FLASHBACK.                 

Irineu tira a venda dos olhos de Marcelina: Pronto, pode abrir os olhos.

Marcelina vê o barraco: Mas o que é isso?

Irineu: Esse é o lugar onde a gente vai morar, pelo menos por enquanto, não se preocupa, é provisório! Sei que cê tava esperando uma casa, ou coisa do tipo, mas eu ainda não tenho condições...Mas logo vou ter! E aí poderei te agradar muito mais.

Marcelina o beija: E quem disse que eu não gostei? O que importa é que temos onde morar, e logo vamos formar uma família...Juntos...E vamos melhorar de vida.

Irineu a pega: Agora eu vou te carregar, como se a gente estivesse numa lua de mel bem chique, e vamos entrar no nosso barraco em grande estilo- Eles riem.

Marcelina: Eu te amo tanto.

Irineu: Esse é só o começo, meu amor....O começo da nossa jornada- Ele sorri.

FIM DO FLASHBACK.

Marcelina, chorando: O que fizeram com a nosso barraco, Irineu?- Uma forte tempestade de vento repentina faz com que a terra se espalhe pelo ar. A mulher se lembra de tudo de bom que vivera ali e acaba caindo ajoelhada perto do local onde afirmava ser o barraco. Ela não contém as lágrimas diante das ruínas.

Suspiro vai acodi-la: Comadre, tá tudo bem? Melhor irmos!

Marcelina, ainda ajoelhada no chão: Podem ir, já alcanço vocês. Estou bem.

Susana, compadecida: Mamãe não merece isso...Querendo ela ou não, vou procurar o Tião. E ela não pode saber, Jucy. Ou tudo vai por água a baixo, com perdão da sentença- As três mulheres saem.

Marcelina se levanta e tira a terra de seus joelhos, ela olha para o horizonte, depois, para todo o redor. A mulher vai até a beira de um monte de terra e olha fixamente para baixo: Um dia eu vou te encontrar, Irineu...Mas não hoje. Nossos filhos ainda precisam de mim- Ela desce o morro e olha para o lugar onde viveu pela última vez- Recria tua vida, sempre, sempre. Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.*- Marcelina então volta para o carro.

Cena 03- Restaurante Camarão Bagunceiro/ Interior/ Dia.

Uma reportagem sobre as chuvas em Recife era mostrada na televisão do estabelecimento. Tião assistia tudo atentamente, bem como os outros no local. A tragédia havia abalado toda a cidade.

Liana come um petisco: Tião, pare de ficar escutando sobre tragédias. Temos que nos focar na sua tragédia pessoal, digo, na sua doença. Alexandra está chegando...

Tião respira fundo: Eu não sei como vou contar isso pra ela. Não devia ter marcado esse almoço.

Liana: Calma, irmão...Eu te ajudarei a encontrar as palavras certas.

Alexandra aparece: Oi, meu amor- Ela o beija- Fiquei surpresa quando ligou marcando esse almoço aqui...Enjoou da comida caseira?

Tião, nervoso: Não é isso, amor...É que queria comer camarões, faz tempo que não os comia. Sabe que amo- Ele soa frio- Vamos fazer o pedido?

Liana o impede: Nada disso, Tião. Conte logo o seu problema para Alexandra, hora de se livrar disso! Depois comemos a vontade.

Alexandra, preocupada: Problema? O que aconteceu, Tião? Algo grave?

Tião, trêmulo: Eu...Não sei como te contar. É complicado- Ele olha para Liana.

Alexandra os observa: Vocês estão me assustando desse jeito...O que tá acontecendo? Foi alguma coisa na sua carreira política, Tião? HEIN?!

Tião pega em sua mão: Eu estou enfrentando um sério problema de saúde, Alê. Algo que vai custar a minha vida.

Liana complementa: Em resumo: Tião está doente, Alexandra. E tem pouco tempo de vida. É isso. Ele vai morrer em breve.

Alexandra fica chocada.

Cena 04- A Suspirela/ Ext./ Dia.

Suspiro desce do carro: Podem ir entrando, sem cerimônia nenhuma. Considerem a minha pensão como se fosse a casa de vocês. A única regra é não assistir outra coisa no horário da novela das 8- Todos entram.

Marcelina: Tendo lugar pra dormir, e um arroz com feijão, já me dou por satisfeita. Luxo não é comigo e você sabe disso, comadre.

Guga: Você nunca vai saber o que é luxo, se continuar com essas frases medíocres- Ele sobe as escadas.

Suspiro: Não liga, comadre, ele ainda vai se adaptar. Venham conhecer seus quartos- Ela também sobe a escadaria- Vou lhes mostrar todos os cômodos.

Peninha aparece, só de toalha: MARCOLINO, CADÊ O RALADOR DE PÉ?- Ele vê os hóspedes e fica vermelho na hora- Ah...Suspiro, você nem me avisou que teríamos novos hóspedes. Bom dia a todos. Depois...Nos falamos melhor- Ele sai, com vergonha.

Suspiro: Bom, esse de toalha era o Peninha. Apesar dos pesares, ele é gente boa. Menos quando começa a contar sobre suas aventuras no Rio- Ela circula pelo corredor- Sigam-me. Vocês devem estar com vontade de tomar banho...Cheiro de hospital é o odor que impregna a alma.

Marcus aparece no corredor. Susana fica chocada ao vê-lo, mas tudo que faz é morder o lábio com toda a força e virar o rosto, para evitar qualquer tipo de contato com o rapaz.

Suspiro sorri: Esse é o Marcolino, ou Marcus, como prefere ser chamado. Amigo de Peninha. Vivia no Rio também.

Marcelina o cumprimenta: Prazer...Trabalhava com quê no Rio?

Marcus: Eu? Bem...Era um trabalho ligado a área de humanas. Mas também tinha um pouco de atletismo...Pra fugir da polícia.

Suspiro ameniza: O que importa é que ele está aqui conosco. Espero que a convivência de vocês seja bem amigável. Agora vamos continuar com a tour pela Suspirela. Aqui fica o banheiro sem chuveiro, podem observar que...

Marcus puxa Susana para um quarto qualquer da pensão: E aí? Vai chamar esse nosso encontro agora de azar diurno? Eu continuo preferindo a palavra ‘destino’. Quer dizer que vamos viver na mesma pensão...

Susana: Espero que consiga uma rosa pra mim, todo dia- Ela brinca- Bom que vamos poder nos conhecer melhor. Dizem que a gente só conhece uma pessoa quando come sal com ela...Vamos ver.

Marcus: Eu vou amar a experiência. Assim você vai poder perceber quem eu sou de verdade. E vai perceber que meu sentimento em relação a você não é bobeira...É amor.

Susana o olha: Eu demonstro o amor de outra maneira. Você vai conhecer- Ela pisca- Agora tenho que ir conhecer meu quarto. Até...Qualquer hora dessas. Não esqueça minhas rosas...- Ela sai, rindo.

Marcus: Eu não acredito que tô apaixonado. Que droga- Ele se senta- O que Recife fez comigo?- Ele ri atoa.

Cena 05- Restaurante Camarão Bagunceiro/ Interior/ Dia.

Alexandra: Como assim? Doente?- Ela encara o esposo- Quando você descobriu isso, Tião? Ah meu Deus- Ela finge desespero.

Tião: Meu amor, não adianta essa aflição toda. Eu vou lhe contar tudo sobre minha doença agora...Já devia ter feito isso, mas estava com receio de como você iria reagir. Mas Liana me fez enxergar que a única opção que temos é a aceitação.

Alexandra, furiosa: Aceitação? VOCÊ É MEU MARIDO E ME CONTA, SEM MAIS NEM MENOS, QUE ESTÁ PRESTES A MORRER POR CONTA DE UMA DOENÇA E QUER QUE EU ACEITE DE IMEDIATO, TIÃO?- Ela respira fundo- Quando você descobriu da doença?

Tião, em tom baixo: Já faz um tempo...

Alexandra bate com tudo na mesa: FAZ TEMPO?! E VOCÊ PRETENDIA ME CONTAR ISSO QUANDO?- Ela atrai a atenção de todos no restaurante- ACHOU QUE SERIA MELHOR QUE EU SÓ DESCOBRISSE QUANDO VOCÊ MORRESSE? Você foi cruel demais comigo, Tião, simplesmente passou por cima dos meus sentimentos como se eles não valessem absolutamente nada!

Liana: Não é assim, cunhada, o Tião não te contou para te poupar. Mas antes tarde do que nunca. Agora você sabe de tudo, então controle-se! Histeria não adianta de nada!

Alexandra se levanta: ADIANTA SIM! Eu fui ignorada pelo meu próprio marido- Ela chora- VOCÊ NÃO PODIA TER FEITO ISSO COMIGO, TIÃO. NÃO PODIA- Ela sai correndo na direção do toalete.

Tião: Alê, espera...Eu sabia que ela ia reagir assim, Liana! Alexandra é muito instável, ela não vai conseguir aceitar...A notícia foi como uma bomba! Preciso ir atrás da minha esposa...

Liana o impede: Não, irmão. Eu sou mulher, entendo o que minha cunhada está passando. Ela reagiu com violência, mas na verdade ficou destruída com a revelação. Vou acalmá-la. Um minuto- Ela vai atrás de Alexandra.

No toalete...

Liana entra, Alexandra se olha no espelho: Pode parar de fingir, cunhada. Até que você é boa atriz. Tião acreditou que você está sofrendo muito...

Alexandra ri: Ganhei meu dia. Tião doente. Que notícia estupenda! Vou abortar uns planos que tinha de me livrar dele, afinal, não vai ser mais preciso! Graças a Deus vou me livrar do idiota...- Ela gargalha.

Liana: Mas agora você tem que chorar. Chorar muito. E ser frágil diante dele.

Alexandra molha o rosto: Não se preocupe, sei lidar com isso. Como você já disse, sou boa atriz. Não tente ensinar o padre a rezar a missa- Ela finge choro- Hora de dar mais um banho de atuação...Que comoverá todo o restaurante.

Liana a pega pelo braço: Temos que sair juntas. Vamos- Elas passam pela porta, onde Tião está esperando.

Tião, aflito: Alê, meu amor, me perdoe por não ter te contado antes...

Liana acaricia sua cabeça: Nós duas conversamos. Ela já está melhor.

Alexandra, com lágrimas na face: EU NÃO QUERO QUE VOCÊ MORRA- Ela se abraça ao marido- POR FAVOR, TIÃO, EU NÃO SEI VIVER SEM VOCÊ.

Tião a abraça e sofre muito. Liana observa tudo, satisfeita.

Cena 06- Suspirela/ Interior/ Quarto de Marcelina/ Dia.

Suspiro instrui a amiga: Aqui tenho sabonetes de sobra, shampoo, cremes. Vou dividir tudo isso com você. Ganhei muitos presentes no meu aniversário, alguns que nem uso, comadre. É bom que não desperdiça.

Marcelina, triste: Obrigado...

Suspiro nota: Que depressão é essa? Vou lhe dar um conselho: Tente não pensar muito no que aconteceu, ou você vai acabar ficando impressionada, comadre. É hora de tentar tocar a vida, vai ser difícil, como eu já disse, mas não impossível. Essas coisas não acontecem atoa. Vivo repetindo isso.

Marcelina: Não é nem por mim, comadre. São meus filhos. Jovens, cheios de sonhos, esperanças...- Guga vai entrando mas fica atrás da porta, escutando a conversa- Eu amo muito eles, sofro mais por eles, do que por mim. O que vai ser do Guga? E da Susana? A Jucy?

Suspiro: Sei que não gosta de tocar nesse assunto, mas...Talvez seja hora de você procurar o pai da Susana- Guga arregala os olhos- Você sabe de quem falo, o verdadeiro pai da Susana. Você nunca me contou o nome dele, mas disse que era homem rico e influente. Ele pode ajudar sua família!

Marcelina, assustada: Não, comadre, não! Aquele homem não sabe do meu paradeiro, nem do paradeiro da Susana...E jamais vai saber! Ele realmente é rico e até poderia nos ajudar, mas você sabe que tiver que fugir dele.

Suspiro: Me conta o nome desse homem...Eu falo com ele. Intercedo.

Marcelina, nervosa: Não. Esse homem morreu na minha vida. Assunto encerrado. E não comente com ninguém. Irineu morreu sem saber o nome do pai da Susana...E assim deve ser! Esse segredo é apenas nosso.

Guga, boquiaberto: Eu não tô acreditando no que ouvi...

Cena 07- Suspirela/ Int./ Quarto de Susana/ Tarde.

Jucy: Você vai atrás do tal Tião? Mas, Susana, a mamãe lhe proibiu. Melhor esquecer essa história de vez. Não vamos magoar ela...

Susana veste outra roupa: Ficou ótima em mim...- Ela arruma o cabelo- Eu não tô querendo magoar a mamãe, você sabe muito bem. Eu quero ajudar ela. Acha que não vi o quanto ela sofreu hoje quando fomos visitar os destroços? Deu pra sentir na alma a dor da perda dela. Isso não pode se prolongar. Tião está disposto a nos ajudar. Não entendo porquê mamãe odeia tanto esse homem. Ele é de bem.

Jucy: Ela deve ter seus motivos...Talvez conheça o Tião. De outras épocas.

Susana: Duvido muito...Bem, eu vou até o gabinete dele. Você vem comigo? Vou agora mesmo. Se eu ficar adiando, pior será...- Ela pega o cartãozinho- Eu nem sei onde fica, mas vou perguntando e me acho logo- Elas saem do quarto.

Jucy, receosa: Não sei...Tenho medo de ir...Melhor eu ficar te acobertando por aqui.

Susana, determinada: Cê quem sabe. Eu vou pelos fundos- Elas descem as escadas- Vai na minha frente, vê se a mamãe tá por aí...Não quero trombar com ela.

Jucy a ultrapassa: Tudo bem- Ela vai até a cozinha. Mas só quem está lá é Suspiro. Depois, faz sinal para que a irmã desça- Área limpa. Pode sair.

Susana: Me deseja boa sorte. E que esse Tião seja a nossa salvação- Ela passa pela porta.

Marcelina desce as escadas: Jucy? Tá fazendo o quê aí, minha filha?

Jucy disfarça: Só tava observando esses...Quadros. É, os quadros que a Suspiro tem na parede. Agora eu vou...No banheiro. Licença- Ela sai.

Marcus vê que Susana está saindo e vai atrás dela: Já de saída? Mas mal chegou aqui...Não gostou do recinto?

Susana continua andando: Eu conheço esse lugar há anos, Marcus. Estou saindo a procura de ajuda. Pra mim e pra minha família- Ela mostra o cartãozinho de Tião- Esse homem é político, um deputado respeitado aqui na região. Ele disse que ia nos ajudar...

Marcus sorri: Eu conheço esse homem muito bem. Da festa ontem. Ele me ajudou a se livrar de uns problemas. É gente fina mesmo. Se você quiser, posso ir contigo, pra tentar servir de intermediador entre vocês dois.

Susana: Isso não é pretexto pra você ficar comigo por mais tempo, né?

Marcus: Talvez...Mas eu tenho as melhores intenções.

Susana: Tudo bem, é muito gentil da sua parte- Ela sai andando- Eu não sei onde fica o gabinete, então vamos ter que procurar e perguntar bastante. Espero que me acompanhe. Meu ritmo é rápido.

Marcus: Um tour por Recife? Realmente, a tarde se saiu melhor do que eu imaginava- Ele fica mais perto dela.

Cena 08- Suspirela/ Interior/ Quarto de Jucy.

Guga entra no quarto da irmã: Escuta, cadê a Susana? Eu preciso falar de um assunto extremamente importante com ela!

Jucy: Ela saiu...Mas que assunto é esse?

Guga: Saiu justo agora?!- Ele anda de um lado para o outro- É sobre uma conversa que ouvi da mamãe. Em relação a Susana. Algo que...Eu jamais esperaria que fosse acontecer na nossa família, Jucy.

Jucy: Assim você me assusta...- Marcelina passa pelo corredor e começa a ouvir a conversa dos dois atrás da porta.

Guga, apressado: Mas pra onde a Susana saiu? A gente mal chegou aqui e ela já foi se aventurar por Recife afora?! Me diz, ela vai demorar?

Jucy se senta: Calma, irmão, ela foi garantir o nosso futuro. Talvez vá demorar um pouco, mas a mamãe nem pode desconfiar que ela não tá nessa pensão...Susana foi no gabinete do tal Tião. Ele prometeu que ia nos ajudar, então ela foi atrás do homem...

Marcelina escancara a porta: O QUÊ?- Ela olha para os dois filhos, furiosa- A SUSANA FOI ATRÁS DAQUELE HOMEM?!

TERMINA O CAPÍTULO 04.

* Frase de Cora Coralina.