quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Somos Tão Jovens/ Viva Teu Momento - Capítulo 03



Somos Tão Jovens, capítulo três:

Cena 1. Casa de Olívia e Maurício – Sala de Jantar – Manhã

Olívia não acredita no que ouviu: Filha? Você tem outra filha, Maurício? - ele demora a responder - Chega desse silêncio agressivo! Era isso que você estava me escondendo? UMA FILHA?

Maurício tenta se explicar: Não, Olívia. Eu não te escondi nada, é só que...

Olívia o interrompe: É só que você tem uma filha de sabe se lá onde, e não me contou. Adivinhei?

Maurício: Eu sei que eu errei, Olívia. Devia ter confiado em você, mas a verdade é que nem em mim eu confiei!

Olívia, desconsolada: Eu não quero saber dos seus motivos. Eu nunca deixei de compartilhar nada com você, Maurício. NADA! A nossa relação sempre foi o meu diário, sabe? Você que era o meu confidente... E de repente, de uma hora pra outra, eu sou obrigada a aceitar que... Faz quanto tempo isso?

Maurício: O quê?

Olívia grita, chorando: A FILHA, MAURÍCIO. Faz quanto tempo que você alimenta toda essa mentira? Essa mulher sabe que você... - ela é interrompida.

Maurício ralha: PARA, OLÍVIA! Antes desse interrogatório todo, me deixa explicar que eu descobri dela ontem! Que por quase vinte anos eu não soube da existência dela. Que ela tá doente, que ela precisa da minha ajuda.

Olívia, ainda em choque: Me conta essa história direito, Maurício.

Maurício: A mãe da menina, me ligou ontem. Antes de te contar, eu só queria digerir isso melhor. Resolver tudo isso, entende?

Olívia: Desculpa, mas não! Eu não consigo te entender. Se você tivesse me contado, nós poderíamos ter resolvido isso juntos. Como sempre foi!

A porta da casa é aberta por Elis. Maurício e Olívia se encaram. Depois, o fazem com Elis.

Elis, caminha até a mesa, confusa: Mãe, você tá chorando? - ela fita o Maurício - E você, pai? O que é que tá acontecendo?

Olívia se levanta da mesa: Conta você, Maurício. Eu não tenho estômago pra continuar te ouvindo.

Elis: Eu nunca te vi falar assim com o meu pai... Alguém acende logo esse luz, me conta ao menos um trecho disso tudo!

Maurício: A verdade, Elis, é que a sua mãe descobriu que eu tenho uma filha. Mas eu também soube há pouco... - é interrompido.

Elis: Filha, pai? Eu sou a sua filha...

Maurício: Mas agora existe uma outra, Elis. Uma outra que a Olívia não é mãe... Ela tem mais ou menos a sua idade, mora nos Estados Unidos... Chama Lana.

Nos Estados Unidos...

Cena 2. Chicago – Apartamento de Elena – Manhã (Ainda mais cedo que a cena anterior)

Elena se levanta de sua cama: Você já tá acordada?

Lana, que fitava o ambiente fora da janela, olha para a amiga: Dizem que a gente só acorda depois que dorme... E isso eu não consegui fazer.

Elena se junta a ela na janela: E o que é que tem legal por aí?

Lana, sincera: Não consegui ver nada. Sério. Não consigo pensar em outra coisa senão como eu vou encarar a minha mãe.

Elena: E o que é que falta pra você contar pra ela que decidiu ficar aqui?

Lana confidencia: Coragem. Acho que é isso que tá me faltando. Porque você sabe, minha mãe nunca se importou com o que penso, com o que eu quero. E até agora ela não tirou essa ideia insana de ir pro Brasil...

Elena: Quer dizer que você já falou com sua mãe?

Lana não entende: Mas eu acabei de dizer que não. Tá reprisando a pergunta por quê?

Elena explica: Porque não era a essa a resposta que eu queria ter ouvido. Só quero saber se você vai viver sempre com essa dúvida do vai ou não vai deixar da sua mãe, tudo por medo de uma reação que você imagina que ela tenha. Mas que pode ser contrário.

Lana: Pode ser que você esteja certa... Quer saber? Hoje mesmo eu falo com a minha mãe.

Mais tarde...

Cena 3. Casa de Marina – Fim de Manhã

Lana entra no quarto da mãe, onde a encontra.

Marina, assustada: Lana, minha filha. Aconteceu alguma coisa? Pensei que você fosse ficar na casa da Elena.

Lana, hesitante: Eu iria, mas... A conversa que eu quero ter com você, é mais importante.

Marina: Poxa, filha... Você sabe que eu adoro quando você toma esse tipo de iniciativa, mas eu tô me arrumando pra trabalhar... Eu não posso me atrasar.

Lana, ríspida: Desculpa, mãe. Mas eu já adiei essa conversa por muito tempo.

Marina se conforma: Então vamos lá – ela se senta na cama – O que é te fez chegar tão cedo em casa?

Lana é direta: Sabe aquela sua história de ir pro Brasil, voltar às origens?

Marina: Você sabe que não é nenhum retorno que eu programei, só uma proposta de emprego que eu decidi aceitar.

Lana tenta não olhar para a mulher: Eu já conheço essa história, mãe. Mas a questão é que a proposta foi pra você... Não pra mim.

Marina: Como assim, filha? O que você tá querendo dizer com isso?

Lana se encoraja: Que eu quero ficar, mãe. Já combinei com a Elena, ela disse que eu sou muito bem vinda pra me alojar com ela por uns tempos...

Marina: Então desfaz o combinado – ela suaviza o tom – Se não fosse pela doença...

Lana se irrita: Eu teria o mundo, não é? Mas como eu tô doente, como você insiste em não deixar que eu esqueça por um segundo dessa maldita doença, eu não posso nada. Aliás, posso. Posso ser obrigada a ir pra Tasmânia, se você decidir trabalhar por lá.

Marina solta: Lana, tenta entender que se eu pedi essa transferência, foi pro seu bem!

Lana: Transferência? Quer dizer que você é que quis trabalhar no consulado de lá? Eu não tô acreditando, mãe! Você sabe que carnaval, futebol... Nada disso tem a ver comigo.

Marina não sabe o que dizer: Eu só me expressei mal, Lana. Mas nada muda o fato de que você não sabe se cuidar sozinha, vive esquecendo suas consultas... Agora eu tenho que terminar de me arrumar.

Lana finge que acredita, e sorri. Ela sai do quarto. Marina bufa e volta a se aprontar.

Cena 4. Brasil – Casa de Olívia e Maurício – Quarto de Elis – Tarde

Olívia e Elis estão no quarto da garota, que dá colo à mãe.

Elis acaricia a mãe: Tenta entender meu pai, mãe... Essa situação também não tá sendo fácil pra ele. Ele me contou a história, parece que a mãe da garota, depois de dezenove anos se escondendo, decidiu falar que essa filha existe.

Olívia está com a cabeça no colo da filha: Entender eu até entendo... Mas saber que existe essa pessoa, filha do Maurício, que não é minha filha... Me dá uma sensação tão estranha, sabe?

Elis tenta confortá-la: Mas antes de ser sua filha ou não, ela vai fazer parte da nossa vida agora. E por bem ou por mal, da nossa família.

Olívia: Eu não consigo enxergar as coisas assim, Elis. Nem sei como você consegue.

Elis: Eu só estou tentando agir com a sua sensatez de sempre. A maneira que você reagiria a isso tudo.

Olívia, seca: O problema é que eu olho pro futuro - ela se levanta - E enquanto eu penso nos programas que faremos juntas, eu percebo que o seu pai olha pro passado. Afinal, ele deve ter tido uma história com a mãe dessa tal Lana. Você não acha que ela pensa em porquê ela fez escondeu isso por tanto tempo?

Elis: Nisso você até tem razão, mas essa dúvida não pode destruir esse casamento lindo que vocês construíram.

Olívia bate de leve na perna da filha: Mas já passou da hora de encerrarmos essa conversa. Não é justo que você se atrase pro treino por causa dessa minha melancolia.

Elis: Nem me fale desse treino. Vou tentar ir num horário que o Beto não estiver por lá.

Olívia: Pois você trate de usar toda essa sua força pra me apoiar, em coragem pra enfrentar o Beto.

Cena 5. Estados Unidos – Consulado Brasileiro – Começo de Tarde

Miriam, que gerencia o Consulado, está conversando com Marina, enquanto andam pelo local: Nós vamos sentir tanto a sua falta, Marina. Nunca tivemos alguém que soubesse falar português, inglês, francês, italiano... Esqueci de algum?

Marina ri: Também sei um pouco de castelhano, mas que brasileiro não domina o portonhol? - brinca.

Miriam: Isso eu não sei, mas que você domina o latim, isso sim. E além de tudo, é super simpática... Você realmente vai ser uma grande perca pro nosso time.

Marina, séria: Vocês é que foram super acolhedores comigo. Eu cheguei aqui com uma filha nas mãos, um currículo com total inexperiência... E vocês logo resolveram tudo. Conseguiram vaga pra Lana no colégio daqui, me empregaram. Eu sou grata até hoje.

Miriam para em frente a cantina. Elas entram: Falando na Lana. Já contou pra ela do transplante?

Marina suspira: Ainda não... Mas acho que ela logo descobre. Hoje mesmo eu acabei falando da transferência...

Miriam: Falou? E por que não aproveitou o embalo, Marina?

Marina: Mas eu não planejei nada. Foi tudo por um impulso... Ela me veio com uma história de ficar por aqui, eu me estressei e falei o que não devia...

Elas continuam a conversar.

Cena 6. Clube – Quadra – Tarde

Elis está no clube, jogando.

Beto aparece, com sorriso estampado: Elis. Desculpa interromper esse seu ritmo intenso de hoje, mas será que eu precisava falar contigo... Posso?

Elis acompanha o técnico até a lateral da quadra: Fala, Beto.

Beto: Bom, na verdade eu queria começar me desculpando com a cena de ontem. É claro que você não acatou nada que eu disse, né?

Elis estranha: Eu não tô entendendo, Beto.

Beto: É simples, Elis. Vamos fingir que aquele jogo que ontem não aconteceu, entende? Fui muito rude com você, quero me redimir... Então você não está nem um pouco desclassificada, me ouviu? Está concorrendo normalmente pela vaga.

Elis continua não entendendo: Eu aceito o seu pedido de desculpas, mas... Também já tinha aceitado minha punição. Eu realmente errei você e o o time.

Beto: Sou eu que tenho que pedir desculpas, Elis! Se pudesse, eu juro, mas juro que te classificaria de uma vez. Mas como o dono daqui acredita naquela outra jogadora, não há nada que eu possa fazer. Mas ela não é nem comparável a você, saiba disso.

Elis: Se é assim... Eu, então, agradeço pela oportunidade. Prometo que agora vou me comprometer mais.

Beto continua com o sorriso fingido .

Cena 7. Apartamento de Marina – Noite

Marina entra, cansada: Finalmente em casa.

Lana se levanta: Não precisa dar nem meia volta. Porque antes de qualquer coisa, eu quero que você me responda, mãe. Por que você mentiu pra mim?

Marina: Quem disse que eu...

Lana a corta: Não precisa inventar desculpa esfarrapada, porque eu já sei de toda a verdade. Eu falei com o pessoal do seu trabalho... Eles me deixaram bem claro que você decidiu por conta própria trabalhar no Brasil.

Marina, surpresa: Com que direito você invadiu a minha vida assim, Lana?

Lana revida: Com que direito você, mãe, queria me obrigar a ir pra um lugar que eu sequer conheço? Me diz! Mas a verdade!

Marina confessa: A verdade? A verdade é que eu não sabia como te contar, Lana.

Lana grita: NÃO SABIA COMO ME CONTAR O QUÊ? CARAMBA, MÃE!

Marina: Tá bem, Lana, você quer que eu falo, eu falo. Falo tudo que eu escondi pra tentar te poupar, minimamente, de um sofrimento maior. O verdadeiro motivo dessa nossa ida ao Brasil, é a sua doença, filha - Marina chora, comovida - Nós estamos indo atrás de um transplante pra você, porque nem isso eu pude te dar... Nós estamos indo atrás do seu pai - conclui.

Fim do terceiro capítulo.


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10 comentários:

  1. Pra quem queria conhecer a Lana, ela chegou.
    Espero que tenham gostado da entrada dessas novas personagens... Não só na trama, mas logo entram na vida das outras protagonistas.

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  2. Ótimo gancho. Lana está passando por uma situação muito complicada, mas devia tentar entender a mãe. Afinal, as mães sempre querem o nosso melhor. Mas compreendo que nem sempre as entendemos. Já Elis teve um ótimo diálogo com sua mãe. Parabéns.
    Capítulo bem " familiar", digamos assim. Muito bom.

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    1. Obrigado! Lana e Marina nunca foram muito próximas, o que talvez cause essa falta de entendimento. O contrário de Elis e Olívia, que são muito amigas.
      Momentos familiares não faltaram na web. Agradeço o comentário!

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  3. Espero que com um tempo a Olivia aceite melhor tudo isso.
    Não esperava essa atitude do Beto...
    Já da situação entre a Lana e a Marina, consigo entender o lado das duas... Coitadas, não deve ser fácil.

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    1. A resistência de Olívia ainda prevalecerá por alguns capítulos... Mas algo mais forte acontecerá.
      Beto arquiteta muita coisa... Logo saberemos o quê.
      E não é mesmo fácil. Lidar com a doença é muito difícil, para as duas.
      Obrigado por comentar!

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  4. Lana tem direito de ir atrás da sua história. Maurício, que danadinho.... Coitada da Olivia. O que resta a Elis agora é aceitar, já que não há nada que ela possa fazer. Beto acha que me engana. Faz um escândalo desse e depoisse faz de coitado. Argh!

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    1. Tem sim, nem que acabe sofrendo por conta disso! E coitado do Maurício.
      Beto é outro que merece nossa piedade! Haha.
      Obrigado por deixar seu comentário!

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  5. Gostei do Gancho. Talvez eu entenda o lado da Marina, que só quer o bem da Lana, que por sua vez parece não aceitar essa total "proteção". Essa forma de condução da trama leve está sensacional. Parabéns, João!

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    1. O problema entre as duas é justamente essa falta de entendimento. Talvez pelas escolhas que fizeram no passado e a maneira que reagiram a isso.
      Agradeço, Gabriel! E a trama seguirá assim.
      Obrigado por acompanhar!

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