Elos- Capítulo 05.

Cena 01- Ruas da capital/ Ext./ Tarde.

Entra a música: Luz dos Olhos- Cássia Eller.

Marcus e Susana andam por Recife, juntos. À procura do gabinete, os dois aproveitam para conversar, e ela também apresenta ao rapaz muitas coisas sobre a cidade, o que conhece do lugar, e também lhe mostra a devastação causada pela chuva em vários lugares. A capital contrastava em tom triste e melancólico, com o ar alegre que só Recife oferecia.

Susana para em uma rua: Sabe onde a gente tá? Na Rua Nova- Marcus não entende- Você não faz ideia do que aconteceu aqui, né?- Ela cochicha- Uma tragédia das grandes.

Marcus fica curioso: Tragédia?

Susana ri: Sim, minha mãe vivia me contando essa história. Os recifenses mais antigos acreditam que naquele sobrado ali- Ela aponta- Aconteceu um grande crime, outros dizem que é pura lenda, fruto de um livro chamado A Emparedada da Rua Nova.

Marcus: Um crime grave?

Susana: Reza a lenda que, na segunda metade do século XIX, aconteceu o tal causo. Uma moça burguesa, Clotilde, caiu de amores por um plebeu galanteador chamado Leandro. Engravidou dele. Quando o pai dela, um tal de Jaime Favais, descobriu o que acontecera, não poupou a filha. Não queria manchar o nome da família, e não queria que ninguém descobrisse da gravidez. Sabe o que ele fez? Emparedou a própria filha, viva.

Marcus, impressionado: Nossa...Que história macabra. Às vezes o amor pode ser perigoso mesmo, não importa a época. Sempre tem alguém se opondo...

Susana: Nesse caso, o amor foi fatal. Algumas pessoas dizem que já ouviram os gritos de Clotilde pedindo socorro, quando passaram pelo casarão a noite. Minha mãe é uma dessas. Jura de pé junto que ouviu a moça gritando por calamidade- Ela repara em Marcus- Cê ficou assustado com a lenda?

Marcus disfarça: Claro que não. Você precisa escutar as histórias do Rio que eu mesmo presenciei. Essa lenda da Emparedada é leve comparada aos causos cariocas- Eles continuam conversando.

No gabinete de Tião...

Tião se senta na cadeira: Dia agitado, Liana...Ainda bem que Alexandra já está melhor, e foi pra casa, coitada. Deve estar digerindo a notícia. A ficha demora pra cair, a minha demorou, pelo menos...E ainda tenho problemas políticos pra resolver, como a questão dos desabrigados.

Liana olha pela janela: Você vai morrer e os problemas dessa cidade vão continuar, irmão- Ele arregala os olhos- Desculpe o grau de franqueza, mas alguém precisa lhe jogar isso na cara. Você tem que se preocupar com si próprio e sua família. Política fica em segundo plano a partir de agora.

Tião enxuga o suor da testa: Você tem razão, Liana, obrigado por todo o apoio que vem me dando. Estou a ponto de desmoronar, mas venho me mantendo firme...Semana passada eu entreguei meu testamento pro advogado, mas ainda tem uma clausula em branco.

Liana se surpreende: Que clausula, irmão?

Um político entra: Com licença, seu Tião do Povão, mas é que eu tenho um assunto importante pra falar com o senhor. Sobre a verba pra aquela escola na zona oeste.

Tião lembra-se: Ah, claro...Liana, pode nos dar licença por uns instantes? Daqui a pouco encerro o turno e voltamos pra casa, você quis vir comigo...

Liana: É que já estou enjoada daquela casa. Eu vou ficar esperando você lá fora- Ela sai- Mas que clausula em branco é essa?

Susana e Marcus entram no corredor.

Susana, apressada: Graças a Deus, ali está o gabinete. Espero que ele ainda não tenha ido embora- Ambos correm.

Liana vê a moça: Mas o quê...É a filha daquela maldita Celeste Reis vindo na direção do gabinete...O que ela faz aqui?- Ela fica em frente a porta.

Susana chega: Por favor, moça, aqui é o gabinete do Tião, certo? Poderia me dizer se ele ainda está aí?

Liana fica pálida.

ELOS- CAPÍTULO 05.

Roteiro: Victor Morais.

Cena 02- Suspirela/ Int./ Quarto de Marcelina/ Tarde.

Marcelina entra com tudo: Ela não podia ter feito isso comigo...Eu avisei pra Susana, e mesmo assim ela me desobedeceu!

Guga: Você tá sendo dramática demais, e injusta com a Susana. Porquê ela pelo menos se mexeu pra tentar ajudar a nossa família!! Só por que você tem uma rixa boba com esse Tião, quer proibir ele de nos ajudar?! Isso é egoísmo puro!

Marcelina se vira: Egoísmo?- Ela aponta para os seus olhos- EGOÍSMO?! VOCÊ TÁ VENDO O MEU OLHAR?! ELE POR ACASO É DE EGOÍSMO?- Ela treme- É terror. Olhar de pânico. Você não tem o direito de me julgar! Se eu proibi a Susana de procurar a ajuda daquele homem, eu tenho algum fundamento...Mas você nunca vai entender.

Guga: Teve uma desilusão amorosa com ele, por acaso?- Ele ri.

Marcelina lhe dá um tapa na cara: Eu não admito deboche.

Guga, com o rosto marcado: E eu não admito fraqueza- Ele sai.

Suspiro adentra no recinto no mesmo momento.

Suspiro fecha a porta: Comadre, o que aconteceu? Você está tremula...Já está mais do que na hora de me contar qual o motivo de você odiar tanto o Tião. Isso já passou dos limites...Vocês já tiveram algum envolvimento?

Marcelina chora, sentada na cama: Eu não quero mais responder nenhuma pergunta sobre esse homem, quero esquecer que esse ser humano existe, e não quero que ele se aproxime da Susana nem de ninguém da nossa família...O Tião matou a minha alma.

Suspiro: Eu quero te ajudar, comadre...- Ela pensa um pouco- O Tião é...O pai da Susana? É isso?

Marcelina se levanta rapidamente: O impacto de algumas coisas na vida da gente é tão forte, que sufoca o nosso medo dentro dos nossos corações. Uma parte de mim vive momentos de terror contínuos...Será que um dia eles vão acabar? Isso eu não sei, mas não quero que eles voltem. Nem que atinjam outras pessoas da minha família...

Suspiro pega em sua mão: Eu já entendi o recado, comadre- Ela sorri- Conta comigo pra tentar enterrar esse medo de vez. Apoio é sempre bom- Elas se abraçam.

Marcelina chora, enquanto lembranças do passado invadem a sua mente, atordoando seus pensamentos: Eu tenho medo, comadre. Medo do futuro.

Cena 03- Gabinete de Tião/ Interior/ Dia.

Susana: Por favor, moça, veja se o Tião pode falar comigo. Ele prometeu que ia ajudar a minha família. Meu nome é Susana. Susana Porto e Pompa.

Liana se lembra do passado: É...Eu vou falar com ele.

Marcus intervém: Fale que Marcus está aqui também- Ele cochicha para Susana- Meu nome pode pesar nessas horas...

Liana, em pensamento: A filha de Tião...Eu não posso permitir que esse encontro aconteça. Pro bem da minha saúde financeira. Ele tá prestes a morrer...Já nem lembra da filha que teve...E não agora que vai lembrar- Ela se vira para Susana- Vou checar com Tião se ele pode atende-la- E entra no gabinete.

Tião cumprimenta o político: Deputado André, fizemos excelente negócio. Até amanhã- O homem sai- E então, irmã, tem mais alguém querendo falar comigo? Se tiver, pode mandar entrar, ainda tenho um tempinho...

Liana mente: Não. Não tem ninguém. Eu vou te esperar no estacionamento pra gente ir embora- Ela sai apressada.

Susana vai até ela: E então? Ele vai nos atender?

Liana inventa: Sinto muito, mas o deputado está com a agenda cheia, e tem um compromisso dentro de meia-hora. Você é mais uma das que perdeu a casa por conta das chuvas? Se for, melhor nunca mais voltar, ele já atendeu 15- Ela mente- E disse que não vai mais atender ninguém que perdeu a casa. Você chegou tarde demais, moça.

Susana, desesperada: Por favor, eu imploro. Minha mãe trabalhou tanto pra construir aquele barraco que foi destruído. Eu só queria ajudar ela. E pela minha mãe que eu tô fazendo isso. Deixa eu falar com ele.

Marcus: Você falou que eu tô aqui?

Liana: Olha, sinto muito mas o Tião não é santo e nem ONG pra fazer caridade pra todo mundo! Lamento a sua situação, mas ele não pode te ajudar, garota. Agora vai embora daqui.

Susana se ajoelha: Pelo amor de Deus, você não entende minha situação. Minha família não tem nada. O Tião é nossa única esperança. Ele disse que ia me ajudar. Não quero nada demais. Só um lugar pra minha mãe viver!

Liana empurra ela, fazendo-a cair no chão: DEIXA DE SER RIDÍCULA! Pobre imunda, nojenta! Tentei usar a educação mas você não cooperou. NÃO VAMOS TE AJUDAR, AGORA SAIA DAQUI OU EU MANDO OS SEGURANÇAS TE ESCORRAÇAREM- Ela pega uma caixinha- Críticas, reclamações e sugestões você coloca aqui. Tem papel e caneta pra escrever. Assim você me poupa de ouvir sua voz também.

Susana se levanta e dá um tapa na cara dela: Quem você acha que é pra falar comigo desse jeito?

Marcus a segura: Vamos embora daqui. Bater nela não vai mudar a sua situação- Ele a empurra pra fora- Vamos logo...

Liana ri: E que nunca mais volte- Ela se certifica que os dois já foram.

Tião sai da sala: Podemos ir. Tinha alguém aqui? Ouvi vozes.

Liana pega sua bolsa: Era a faxineira. Vamos logo, estou precisando de um banho quente.

Cena 04- Ruas de Recife/ Ext./ Dia.

Susana se senta em uma calçada. Marcus faz o mesmo.

Susana escorre as lágrimas: No fundo, eu tinha esperança que ele pudesse nos ajudar...Tudo isso pra nada. Minha mãe deve ter descoberto que eu saí, mas pelo menos eu ia voltar com uma boa notícia pra ela...Agora nem isso- Ela amassa o cartão- Não quero nunca mais saber desse homem.

Marcus: Não fica assim, Susana. Uma hora ou outra, a situação de vocês vai se resolver. Eu também achava que ele ia atender você...Sei bem o que está passando. Sem uma casa. Sem perspectiva. Já passei por isso uma vez, só que eu era criança ainda...

Susana, cabisbaixa: Queria ver minha mãe sorrindo de novo. Queria ver minha família feliz. Será que isso vai acontecer de novo um dia?- Ela encara Marcus- Eu não sei o que fazer...Chorar não é a solução mas...É a única coisa que eu consigo fazer agora.

Marcus: Eu sei que você não tem muita confiança em mim, e tudo mais, não me leva a sério...Mas eu te recomendo uma coisa: Não desista, Susana. Persiste, nem que seja por outros caminhos, e você vai conseguir fazer sua mãe sorrir de novo, e sua família ser feliz. É só acreditar, que os momentos bons ainda vão vir...Agora, se você parar de tentar, sua vida vai estacionar também. Sejam fortes, vocês vão superar isso tudo.

Susana o abraça por um longo tempo: Obrigado pelas palavras. Você tá mais do que certo...Obrigado também por ter vindo comigo, pelo apoio. Seus conselhos não vão me deixar fraquejar...Eu brinco contigo, mas no fundo vejo que você é bem mais sábio e vivido do que eu...E espero que nossa convivência melhore mais e mais. Carioca- Ela ri.

Marcus se aproxima dela: Melhor do que isso, só isso- Ele a beija. Susana nem ao menos reluta, apenas aceita. A chuva começa a cair sobre Recife novamente, e molha os dois apaixonados, que não perdem o fôlego.

MÚSICA: Elton John- Something About The Way You Look Tonight.

Cena 05- Suspirela/ Ext./ Jardim/ Noite.

Susana e Marcus chegam, totalmente encharcados por conta da chuva, que havia sido passageira naquela tarde. Os dois se entreolham.

Susana sorri: Apesar dos pesares, gostou da tour que fizemos por Recife, Marcus?

Marcus: Recife é mais linda do que eu imaginava. Mas da próxima vez quero ir pra praia, e faço questão que você me leve. Quando eu tirar o gesso, claro. Aliás, vou ter que trocar o meu, que molhou. Te vejo mais tarde.

Susana abre a porta: E eu vou ter que enfrentar minha mãe- Ela entra- Até mais. E obrigado, de novo, pela aventura.

Susana sobe as escadas da pensão, diretamente para seu quarto. Ao abrir a porta, se depara com Marcelina, sentada em sua cama. Ao ver que a filha chegou, ela se levanta, nunca perdendo o tom sério.

Marcelina: Conseguiu ajuda com o Tião?

Susana, decepcionada: Mãe, eu...

Marcelina a interrompe: Eu perguntei se você conseguiu ajuda com o Tião. E só existem duas respostas possíveis. Sim...Ou não...

Susana conta: Ele não me atendeu. Mas eu quero que você saiba que só fiz isso pensando na nossa família. Eu fugi por bem.

Marcelina se levanta: E você acha que eu te proibi de ir lá pensando em quem? Eu conheço esse homem, ele não é boa pessoa, eu AVISEI que ele não ia nos ajudar, e mesmo assim você ainda persistiu...Viu no que deu? Agora você entende por que eu fui tão severa? Minha filha, EU TE AMO, e só quero o seu bem. E o bem está longe de Tião do Povão.

Susana a confronta: É mentira. O Tião é um homem muito bom, ele ajuda as pessoas, e só não me ajudou porquê eu cheguei no final do dia. Você tem algum problema pessoal com ele, por isso esse rancor todo! É até imaginável qual seja esse problema...

Marcelina lhe dá um tapa: CALA A BOCA! PARA DE FALAR NESSE HOMEM, VOCÊ É IDIOTA? ELE NÃO VAI AJUDAR A GENTE, ELE NÃO AJUDA NINGUÉM SEM TER ALGO EM TROCA, SUSANA! E MESMO ASSIM VOCÊ AINDA DÁ CORDA?- Ela grita, enquanto estapeia a filha- Você me decepcionou muito hoje...Traiu minha confiança...Achou que sabia mais do que eu. E aí está o resultado. Dá próxima vez...Me escute. Não é com a ajuda desse político que a gente vai mudar nossa situação- Ela joga Susana na cama.

Guga entra no quarto: Eu sei como mudar a nossa situação, mãe, e você também sabe, mas não contou ainda pra Susana.

Marcelina, se recompondo: Do que você tá falando?

Guga: Eu tô falando do pai rico da Susana. Ele é a solução dos nossos problemas. Ele pode ajudar a gente.

Susana, toda dolorida: Guga, meu pai, aliás, nosso pai, já tá morto.

Guga revela: O meu pai está. O seu não- Marcelina arregala os olhos- Eu ouvi uma conversa da mamãe com a Suspiro, e elas trataram de deixar bem claro que você, Susana, não era filha do Irineu, como eu e a Jucy. Você é filha de um homem rico com quem a mamãe teve um caso. Mas ele não sabe do paradeiro da filha...ELE É A NOSSA SOLUÇÃO!

Susana, horrorizada: O quê? Isso é verdade, mãe?

Marcelina nega: Não, você ouviu tudo errado, Guga, nós estávamos falando de outra pessoa, de uma vizinha...

Guga ri: Não adianta negar. Eu ouvi claramente que a Susana é filha de um rico. Não minta, mamãe.

Marcelina: Acredite você se quiser, por que eu tenho minha consciência limpa. Nunca traí o Irineu. Susana é filha dele! DO IRINEU!

Guga entra em seu caminho: Até quando? Até quando a gente vai ter que ficar nessa pensão? Dependendo da piedade alheia, como uns miseráveis, que não têm nada, nem ao menos vergonha na cara!- Ele fica vermelho de cólera- Tudo depende de você pra nossa situação mudar. Do contrário, nunca vamos passar de DESGRAÇADOS!

Marcelina, ofegante: Sai da minha frente, Guga- Ela passa pelo filho.

Guga vai atrás dela: Quem não deve não teme. Mas você DEVE, por isso está TEMENDO. Eu vou descobrir quem é esse homem.

Marcelina engole em seco: Boa sorte. Não existe homem nenhum- Ela sai.

Cena 06- Suspirela/ Int./ Cozinha/ Noite.

Suspiro enfaixa o braço de Marcus: Já começou a novela e eu aqui...Onde você foi essa tarde? Não conhece nada da cidade! Ainda por cima, molhou o gesso. Sorte que eu tenho uma caixinha de primeiros socorros do hospital que eu peguei sem pedir...

Peninha olha as panelas: É verdade, Marcolino. Onde vossa ladroneza estava? Não pode ficar dando trabalho, tem que sarar logo, pra irmos trabalhar na casa do Ricão do Povão.

Marcus: Eu tava conhecendo Recife. O casarão da Rua Nova com aquela lenda da Emparedada, e tudo mais- Ele se levanta- Obrigado, Suspiro, ficou novinho em folha.

Suspiro guarda tudo: De nada, querido. Agora vou correr pra não perder o resto do capítulo. Hoje o Cadeirudo vai aparecer de novo, acredita?- Ela sai.

Peninha sorri: Tu falou da lenda da Emparedada, lembrei da minha infância. Tempos bons, andava descalço pela rua, livre, leve e solto. Mamãe fazia suco de uva bem fresquinho...Nham, sinto o gosto na minha boca.

Marcus: Eu não sabia que já tinham uvas na pré-história- Peninha o olha, com reprovação- Verdades a parte, Peninha, eu queria uns conselhos seus.

Peninha: Nossa. Ninguém nunca me pediu um conselho. Pode falar...

Marcus: Eu tô apaixonado. E quero me declarar pra uma moça aí.

Peninha: A juventude está muito ágil. Chegamos aqui ontem e você já se apaixonou? Bem, eu não tenho muitos conselhos pra te dar. Só recomendo que seja sincero, não se esqueça de elogiar uma parte do corpo. Elas amam quando falamos bem dos olhos...E claro, seja romântico e cavalheiro.

Marcus balbucia: Obrigado pelos conselhos, pai.

Peninha se toca: Você me chamou de pai ou eu já tô precisando de aparelho auditivo?

Marcus: Você sabe que é meu maior exemplo. O herói mais gordo e boa praça que eu poderia ter- Peninha se emociona- Agora eu vou fazer tudo que você me disse, me deseje sorte- Ele sai.

Cena 07- Suspirela/ Ext./ Jardim/ Noite.

Marcus chega no jardim, onde Susana colhe uma flor.

Marcus: Te procurei pela casa toda...Como foi com a sua mãe?

Susana, decepcionada: Como eu imaginei. Mas eu não gosto, e nem devo julgar ela...Dona Marcelina é a pessoa mais pura, inteligente e cuidadosa que eu conheço. Digo que tenho sorte de ter caído como filha dela.

Marcus fica cara a cara com ela: Então a sorte é reciproca- Ele pega em seu queixo- Susana, eu tô apaixonado por você- Ela fica sem reação- Fui muito direto, eu sei...É que não consigo mais esconder.

Susana: Mas...A gente mal se conhece. Eu sei pouca coisa sobre você, e vice-versa. Você não pode estar apaixonado.

Marcus: Mas estou. Desde a primeira vez que te vi. Sei que isso pode parecer clichê idiota, mas é verdade. Seus lábios, seus olhos, sua beleza natural, seu sorriso, seu jeito de lidar com as coisas. Você é encantadora. A única mulher até agora que me fez sentir isso...Eu nem sei explicar direito. Sente. Sente meu coração- Ele coloca a mão dela sobre seu peito- Eu te amo.

Susana, surpresa: Não pode ser...Você não sabe o que tá dizendo...

Marcus: Sei muito bem o que tô dizendo. Eu não brinco com os meus sentimentos, Susana. Me dá uma chance. Deixa eu te provar que sou muito diferente dessa imagem que você faz de mim...- Ele fica cara a cara com ela- É tudo que eu te peço.

Susana sorri: Eu também...Sinto uma coisa muito especial quando me aproximo de você, mas...Eu não sei. Venho passando por tantos problemas e...- Marcus a beija de novo.

Os dois trocam carícias em meio ao gigante luar, que permeia o jardim com seu brilho prateado.

Cena 08- Mansão de Tião/ Int./ Quarto/ Noite.

Tião dorme no quarto, que tem vários ventiladores espalhados pelo ambiente. Alexandra sai do banheiro, ainda de roupão. Uma ópera suave toca no volume mínimo do rádio.

Alexandra o observa, com desprezo: O que a gente não faz pra se dar bem na vida?- Ela penteia seus cabelos, quando percebe o marido se agitar um pouco- Pelo menos o conforto compensa o sacrifício.

Tião fala dormindo: Não...Eu quero achar...EU QUERO ACHAR ELA.

Alexandra se vira pra ele: A doença afetou mais o cérebro desse semi-retardado- Ela vai até o ouvido dele- Cala essa boca, idiota, para de falar besteira. Sua voz é horrorosa, irritante...

Tião continua falando: Eu vou achar ela...Eu já retomei as buscas...EU VOU ACHAR ELA!

Alexandra o sacode: CALA ESSA BOCA- Ela decide se aproveitar da situação- Você não vai achar ela...Não vai, não vai- Diz, cantarolando.

Tião começa a suar frio: EU VOU ACHAR ELA. EU VOU! EU VOU!- Ele nem ao menos abre os olhos- EU PRECISO, ANTES DA MORTE...

Alexandra ri: Você é um otário. Um idiota que ajuda os outros, e não ganha nada...BURRO, NOJENTO. Poço de podridão mesmo, acha que alguém gosta de você...Ainda bem que vai morrer logo...Ninguém vai se importar. Sabe qual sua maior humilhação? SUA PRÓPRIA IMAGEM!

Tião começa a tossir: Eu...Vou achar ela...EU VOU ACHAR A MINHA FILHA. A MINHA FILHAAAAAA.

Alexandra fica gélida: FILHA?- Ela não esboça reação- O Tião tem...UMA FILHA?

TERMINA O CAPÍTULO 05.