Somos Tão Jovens, estréia:
Cena 1. Colégio SER (Sistema Reflexivo de Educação) - Noite
Teodora, pensativa: Ser adolescente, pra mim, é viver. Porque é na adolescência que a gente descobre o que é viver de verdade. Aquele mundo adulto e monstruoso, que sempre teve alguém pra esconder da gente, começa a nos assombrar. Começa a fazer parte da nossa vida, e, mais tarde, ser a nossa vida. Por isso eu acho que é na adolescência que a gente precisa decidir o que realmente importa. O que vale levar pra junto dos monstros, e o que tem que ser deixado naquela realidade paralela.
Todos aplaudem. A garota desce do palco em que estava discusando em reposta à "O que é ser adolescente?", que todos os demais fizeram e fariam, em comemoração ao centenário do Colégio SER.
Ela se dirige à mesa de uma amiga.
Teodora se senta ao lado de Elis: Você acha que eu falei demais? Você é minha amiga, já tá acostumada a me ver palestrar. Mas e o resto?
Elis tenta confortá-la: Calma, Teodora. Você falou o suficiente, viu? Tenho certeza que ninguém vai reclamar.
Olívia palpita: Não se preocupa, querida. Amei o seu discurso.
Um dos professores sobe no palco.
Erasmo: Elis Adas. O que é ser adolescente pra você? 
Elis se levanta e vai até o palco.
Teodora: Posso ficar aqui com vocês enquanto ela vai lá?
Maurício: Que isso, Teodora. Deve ficar aqui conosco.
Elis, no palco: Bom, ser adolescente, pra mim, é ser livre. Às vezes a gente pensa que todos esses adultos insistem em nos privar de tanta coisa... Mas a verdade é que eles estão zelando pela nossa liberdade.  Livre pra fazer o que quiser. Viver o que quiser. Sem aquela ingenuidade da infância, ao mesmo tempo em que a gente não tem aquela maturidade que a vida adulta exige. Ser adolescente é isso. É ser livre pra errar, livre pra acertar, livre pra ser e descobrir quem você é.
Mais aplausos.
Cena 2. Colégio SER - Auditório - Noite
Olívia cutuca a filha, que está conversando com outros colegas: Minha filha, queria conversar contigo.
Elis caminha junto da mãe: Aconteceu alguma coisa? Alguma coisa com meu pai?
Olívia: Não... Na verdade, não tem nada a ver com isso. É sobre você, Elis. Você que falou sobre liberdade...
Elis, calma: Mãe, a sessão de discursos já acabou.
Olívia: Me deixa terminar, minha filha, por favor. Nós falávamos sobre a sua liberdade. Sobre a sua ausência de liberdade. Porque você sabe, você sabe que você vive pro vôlei, talvez seja capaz de morrer por ele... Mas as coisas não precisam ser levadas tão a sério. Não é tudo que tem que ser 8 ou 80, me entende? Claro que você pode treinar, competir. Mas isso não significa que você precise abdicar dos seus amigos, da sua juventude, da sua liberdade. Você também merece ter uma vida adolescente normal. Por que é que você não começa se libertando do vôlei?
Elis para durante o trajeto: Por que isso agora, mãe? Eu tenho uma vida fora do vôlei. A Teodora, o Guilherme... Eles também fazem parte da minha vida, como o vôlei. Qual o problema nisso?
Olívia, preocupada: O problema é que talvez você esteja colocando o esporte como prioridade, e esquecendo suas amizades, seu namoro.
Elis: Depois a gente conversa melhor sobre isso, pode ser? 
Olívia assente com a cabeça, sorrindo.
Acaba o baile...
Cena 3. Casa de Olívia e Maurício - Quarto de Elis - Noite
Elis se prepara para dormir. Um rapaz entra no quarto, Guilherme.
O garoto coloca as mãos sobre os olhos de Elis, que está de costas a ele, já na cama. 
Guilherme disfarça a voz: Adivinha quem é!
Elis: Se for você, mãe, já se tornar fonoaudióloga. Porque com toda essa habilidade pra trocar de voz...
Guilherme se revela: Errou feio, hein?
Elis, surpresa: Guilherme?! O que você tá fazendo aqui?
Guilherme se senta na cama da namorada: Decidi visitar minha namorada. Sua mãe entendeu minha síndrome de saudade, me deixou entrar.
Elis brinca: Sabe que eu nem sinto saudade? Aprendi a namorar por osmose.
Guilherme: Ah é? Mas isso eu acho muito sem graça. Prefiro beijo de verdade - ele a beija - Mas falando sério, a gente não pôde nem dançar lá no baile... E eu não sou bobo de perder a oportunidade.
Elis: Como é que é?
Ele se levanta, pega um dos vinis da coleção de Elis, e coloca no toca discos da cômoda.
Guilherme: Já que a minha namorada é à moda antiga... - o rapaz se ajoelha e estende as mãos - A dama me concede essa dança?
Elis ri, mas se junta ao namorado. E dançam pelo quarto.
Cena 4. Casa de Olívia e Maurício - Quarto do Casal - Noite
Maurício está deitado, de pijama. Olívia acabara de fazer o mesmo.
Maurício: Quer dizer que aquele rapaz, o Guilherme, tá aí?
Olívia: Ele veio atrás da nossa filha, que não por acaso, é namorada dele. Nada de anormal. E eu sempre torci por esse namoro, é o que assemelha ela as outras adolescentes. Porque nos quesitos gerais... - ela percebe que o marido está aéreo - Maurício, em que você tá pensando?
Maurício: Nessa libertinagem. Seu pai não me deixava entrar no seu quarto desse jeito...
Olívia se deita sobre o peito do marido: Épocas diferentes, costumes diferentes. Que isso, Maurício? Você já tá calvo de saber que todo adolescente dorme junto hoje em dia. O importante é que, modéstia à parte, a Elis foi muito bem instruída. Sabe o que pode, o que não pode, o deve e o que não deve.
Maurício: Pois eu também quero aulas dessa professora tão... Graduada, competente, não é?
Eles são interrompidos.
Elis: Desculpa atrapalhar o momento velhos tempos, mas será que eu posso dormir na casa do Guilherme hoje?
Maurício encara a esposa: Você não tá esquecendo do jogo de amanhã? Eu não vou poder ir, mas já encomendei uma gravação da sua mãe...
Olívia: E você acha que ela pensa em outra coisa? Vai sim, Elis. Vai e aproveita essa folga de tanta pressão por causa da campeonato.
Elis se aproxima e beija a mãe na bochecha: Obrigada, mãe.
Maurício: Só ela que merece um beijo de despedida?
Elis rodeia a cama e beija também o pai: Amo vocês.
Cena 5. Apartamento de Guilherme e Ricky - Noite
Elis e Guilherme já estão deitados no quarto do rapaz, juntos.
Guilherme a beija no pescoço: Será que a gente vai só dormir?
Elis se vira para o namorado: Guilherme, o combinado era que a gente dormisse junto, pra amanhã eu poder jogar. Lembra?
Guilherme: A velha história do campeonato no dia seguinte...
Elis: Como assim? Você acha que eu sou obrigada a...
Guilherme a interrompe: Não, você sabe que não é isso. É só que sempre tem um jogo, um campeonato, um torneio, qualquer coisa que seja mais importante que eu, que o nosso namoro.
Elis, comovida: Não faz assim, Guilherme. Você sabe que...
Guilherme: Não faz assim você. Não dá pra chupar uma laranja inteira se só tem uma das metades.
Elis: Tá bem. Eu prometo que amanhã, sem falta, a gente se encontra no parque, de tarde. Um piquenique, pode ser?
Guilherme: E eu tenho outra alternativa?
Elis o cala com beijo: Então estamos combinados. Depois do meu treino e da sua aula. Aí você pode assistir meu jogo, que começa às cinco.
No dia seguinte...
Cena 6. Casa de Teodora - Tarde
Teodora chega e vê a amiga em seu quarto.
Elis se explica: A Fabíola disse que você tinha saído com seu pai, e me deixou te esperar aqui no quarto. Porque eu não ia suporta ficar na sala e chorar na frente dela. - ela diz, com a expressão chorosa.
Teodora deixa a bolsa na poltrona e abraça a amiga: Você quer me contar o que aconteceu?
Elis, enraivada: O que não aconteceu, na verdade.
Teodora se senta na cama, junto de Elis: Então me conta. Me conta, Elis. O que é que tá desestabilizando? Eu tenho certeza que vai te aliviar.
Elis: A verdade é que eu tô desapontada comigo mesma, sabe? É como se eu me olhasse no espelho assim que eu acordasse, com o cabelo todo despenteado, com a pior roupa que eu tenho e aquela meia rasgada...
Teodora ri.
Elis, desabafa: Não ri, porque é sério. Eu e o Guilherme, a gente tinha marcado de se encontrar mais cedo. E ele acabou não indo...
Teodora a interrompe: Espera. Você leva um bolo e se sente culpada por isso? Meu Deus, Elis. Então é esse o problema?
Elis: Isso não importa. A questão é que o Guilherme sempre se queixou de ficar em segundo plano, de eu não dar a mesma importância que ele ao nosso namoro... E hoje eu me senti assim. Segunda opção, sabe?
Teodora: Por mais que eu tente, eu não sei. Não sei! É claro que nunca foi justo isso, é muito difícil calibrar uma relação... Mas é muito exagero dizer que ele se compromete dez vezes mais que você. Poxa, você também tem direito a uma vida fora do namoro. Seja no vôlei, ou se você quiser posar aqui em casa... Ele tem que entender.
Elis, sincera: Entender o quê? Que as coisas sempre tem que ser no meu tempo? Que só ele tem que se sacrificar, abrir mão de alguma coisa?
Teodora: É, olhando por esse lado...
Elis: Olhando por todos os lados. Olha, Teodora. Se ele queria se vingar, me atingir de alguma forma, eu posso me dar por vencida.
Cena 7. Casa de Olívia e Maurício - Escritório - Tarde
Maurício usa o computador. Seu telefone toca.
Maurício: Alô?
Ele ouve uma voz feminina: Maurício, eu sei que eu não tenho direito de te pedir nada. Não depois de tudo... É a Marina.
Maurício, espantado: Marina?
Marina: Sim, Marina. Eu te liguei porque tem muita coisa que a gente precisa resolver.
Maurício continua incrédulo.
Cena 8. Ginásio Municipal - Tarde
O narrador anuncia o início do campeonato de vôlei. Os times já estão posicionados, nos lados contrários da rede.
Beto anda de um lado para o outro: Cadê a sua filha, hein Olívia? Você me prometeu que ela logo chegaria. Agora nem me comunicar com ela consiga, você disse que ela esqueceu o celular contigo.
Olívia, também preocupada: Calma, Beto. A Elis é responsável, você sabe. Eu tenho certeza que ela logo chega.
Beto: Eu também já tive certeza de que ela seria a grande estrela desse campeonato... A Elis não podia ter feito isso.
Olívia: Se estressar não vai trazer ela aqui. Eu vou tentar ligar pro Guilherme, quem sabe eles se atrasaram.
Beto: Quer dizer que ela deixou de vir ao jogo pra ficar com namorado? Eu não acredito. A Elis nunca foi de fazer esse tipo de coisa.
Minutos depois... O time adversário marca seu quinto ponto.
Beto, afoito: O time não funciona sem a Elis... Você conseguiu falar com ela, Olívia?
Olívia se compadece: Não com ela... Mas parece que o Guilherme, coitado, se acidentou de moto.
Beto, indiferente: Eu não quero saber desse rapaz. Agora, o que a gente precisa é encontrar a...
Elis aparece correndo: Beto... Eu sei que eu me atrasei, mas...
Beto, aliviado: Mas depois nós falamos sobre isso. Agora você senta e espera o segundo set. Você é a nossa única esperança pra salvar esse jogo.
Olívia: Minha filha... Que bom que você veio. Parece que o Guilherme se acidentou. Nada muito grave, mas tá no hospital desde a manhã.
Elis: Qual o nome do hospital?
Beto escuta: Como assim, qual o nome do hospital? Você não tá pensando em ir até lá, né, Elis?
Elis se exalta: O Guilherme é meu namorado!
Beto: E eu sou seu técnico. E se você for atrás dele, pode se considerar desclassificada desse campeonato. Você vai perder a chance de participar das olimpíadas.
Elis: Você não faria isso...
Beto: Eu aposto que qualquer uma daquela quadra daria o mundo pra estar no seu lugar. Ou você perde tempo com esse namorico, ou vai lá e vence essa partida. A escolha tá nas suas mãos.
Fim do primeiro capítulo. 


Atrasado, mas postado!
ResponderExcluirEnfim, espero que tenham gostado do capítulo e das personagens apresentadas. Caso não, opiniões e sugestões são muito bem vindas.
Amei conhecer o dilema de Elis, com seu texto delicioso e leve. Acho que já me apeguei a ela e torço para que seus problemas sejam resolvidos, e olha que Lana nem entrou na web ainda.
ResponderExcluirDifícil decisão. Será que ela vai ver o Guilherme ou ir para o jogo? Tenho meu palpite.
Meus mais sinceros parabéns pela magnífica estréia, e sucesso! Estarei aqui lhe prestigiando.
Fico contente que tenha gostado! Lana logo chega, mas a vida da Elis segue agitada até lá... E depois, mais ainda.
ExcluirSobre o seu palpite: talvez ele seja correspondido! Senão, qualquer escolha que ela tome virá com consequências... Que Elis saiba calculá-las.
E meus sinceros agradecimentos! Pelo comentário, também.
Já conhecia o seu texto, bem pouco, mas me surpreendeu muita coisa e está um texto maravilhoso. E você criou um gancho ótimo. Parabéns. E adorei o conflito que você criou. Estou torcendo bastante pela Elis, e como o Victor, acho que já me apeguei. Parabéns, João!!
ResponderExcluirObrigado pelos elogios, Gabriel!
ExcluirO conflito de Elis, acredito, que tenha muito de todo mundo. Sempre nos prendemos nessas escolhas difíceis, não importa quais sejam.
Valeu pelo comentário!
Treinador chato! Muito bom o primeiro capítulo, espero logo pelo segundo!
ResponderExcluirTreinador chato! Muito bom o primeiro capítulo, espero logo pelo segundo!
ResponderExcluirTreinador chato! Muito bom o primeiro capítulo, espero logo pelo segundo!
ResponderExcluirCoitado do Beto! Quem sabe ele se torna mais legal, com o tempo.
ExcluirO segundo sai amanhã, e te espero pra ele também!
Obrigado por comentar!
Adorei o perigo do cap.
ResponderExcluirEssa cena deles dançando no quarto me trouxe lembranças muito boas. Os pais da Elis confiam mesmo nela. Por um mundo com mais pais assim e com filhas responsáveis como Elis também. Esse Beto, já deu para sentir a ganância e soberba do mesmo.
Coitado do Gui :(
Amei o capítulo. Muito light, gosto de coisas lights.
Que bom que lembrou de coisa boa!
ExcluirConfiança... Sempre teve na relação desses três, mas as coisas acabarão mudando com o tempo.
Seguirá light, sim! Torço pra que goste mesmo, e fico contente que desse, tenha gostado.
Obrigado por deixar seu comentário!
Parabéns, João! :-D
ResponderExcluirAgradeço! (|-:
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirÓtimo capitulo. Simpatizei com a Elis, mas tive dó do Guilherme.
ResponderExcluirAcho que não irei gostar do Beto, mas irei aguardar os próximos capítulos...
E você escreve muito bem, João. Gostei muito do seu texto. Parabéns!
Feliz que gostou da Elis, mesmo! Quando não gostamos da protagonista, é difícil acompanhar.
ExcluirAinda tem muita coisa pra acontecer com o Beto. Mesmo que ele pareça meio chato no início.
E agradeço. Muito! E também pelo comentário.