sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Elos- Capítulo 10 (ESPECIAL).

Cena 01- Delegacia/ Int./ Noite.

Marcelina e Suspiro chegam, desesperadas.

Marcelina vai até o balcão: Cadê o delegado? CADÊ MINHA FILHA?- Ela grita- Ligaram lá onde eu tô morando, dizendo que ela foi presa, mas eu não entendi nada, e exijo saber o que tá acontecendo com a Susana!

O delegado aparece: Calma, senhora, não precisa fazer escândalo. Vamos até minha sala, e eu vou te explicar tudo.

Lá...                                                              

Marcelina pisca: Não, eu não entendi o que o senhor disse. Minha filha assassinou um homem e foi pega com a arma no lugar do crime? Acho que estamos falando de pessoas completamente diferentes. Minha filha chama Susana Porto e Pompa. Essa assassina aí eu não sei quem é...

Delegado: Infelizmente não tem confusão nenhuma, senhora. Pegamos a Susana no flagra, com uma arma, ao lado de um corpo morto. Não há o que negar, ela assassinou um homem. E não era um homem qualquer, e sim um dos mais grandiosos deputados de Recife. Tião do Povão.

Marcelina fica boquiaberta: O QUÊ? ESCUTA, VOCÊ TÁ INSINUANDO QUE SUSANA MATOU ESSE HOMEM? ISSO É LOUCURA, MINHA FILHA JAMAIS FARIA UMA COISA DESSAS, EU QUERO QUE LIBERTEM ELA JÁ!

O delegado continua falando em tom baixo: Se controle, dona Marcelina, você não pode me contestar diante dos fatos. Sua filha assassinou o deputado Tião, e temos muitas provas para poder afirmar isso. Ela agora está presa, e vai ficar assim até segunda ordem. Lamento te falar isso, mas provavelmente ela não vai sair mais, a menos que seja absolvida no julgamento. A cena do crime foi evidente.

Marcelina se desespera: Porquê minha filha iria fazer isso? Ela não tinha motivos. Armaram isso pra Susana, fizeram mal pra ela, eu conheço o caráter da minha filha e posso afirmar isso mais do que você. Delegado, você não pode contestar os fatos ditos por uma mãe. Tira a Susana dessa cela, pelo amor de Deus- Ela chora- LIBERA MINHA FILHA, ELA É INOCENTE! FOI TUDO UM MAL ENTENDIDO.

Delegado: Mal entendido? Eu prefiro chamar de crime, dona Marcelina. Os motivos dela eu ainda não sei quais são, mas vou descobrir. Agora as senhoras já podem se retirar, porquê vamos avisar a família do deputado sobre o assassinato dele. Tião era uma figura de muito valor por aqui, posso garantir que Susana será alvo de ódio de todos pelo que fez.

Marcelina o agarra pelo colarinho: EU NÃO VOU SAIR DAQUI ENQUANTO VOCÊ NÃO TIRAR MINHA FILHA DESSA CADEIA!!

Delegado: Saia ou a senhora vai ser presa também- Suspiro a contém- Amanhã estará autorizada a visitar sua filha, mas hoje o horário de visitas já acabou- Ele abre a porta.

Marcelina escorre as lágrimas: Deixa eu visitar a minha filha hoje, abre uma exceção, delegado, ela deve estar traumatizada com essa confusão toda, sozinha, pensando mil coisas...Deixa eu ir confortar a Susana, pelo amor de Deus, seja humano, entenda os sentimentos dela! E os meus. Eu sou mãe.

O delegado não se comove com as palavras: Saiam as duas, eu não vou pedir de novo. E não venha abordar os sentimentos no seu discurso comovente. Sua filha foi muito fria, como toda boa assassina, aliás. E ainda ficou chorando na cela. É uma típica psicopata.

Marcelina pega seu terço: Deus vai fazer você pagar por essas palavras. Ele não vai deixar minha filha desamparada. A justiça vai vir mais cedo ou mais tarde. A JUSTIÇA VAI VIR- Ela e Suspiro saem.

Suspiro a conforta: Comadre, vamos pra casa. Poupe os gritos. Não tem nada mais pra se fazer aqui. Amanhã, com a cabeça mais fria, vamos poder raciocinar e achar uma solução pra essa barbaridade que fizeram com a Susana.

Marcelina, já com o rosto todo molhado: Minha filha não pode dormir numa cela suja e fria, sem apoio algum, sem uma estrutura, Suspiro. Ela precisa de mim- Ela sai correndo e tenta passar os guardas para ter acesso a parte das celas- SUSANAAAAAAAA! SUSANA, FILHA! SUSANA!- Ela desaba, no chão- Quem fez isso com você...

ELOS- CAPÍTULO 10- ESPECIAL.

Roteiro: Victor Morais.

Cena 02- Suspirela/ Int./ Cozinha/ Noite.

Jucy, indignada: Eu não acredito nisso, Suspiro. Estão acusando a Susana de assassinato?! Mas essa história é absurda, qualquer um que conhece minha irmã pode falar que ela jamais faria isso! Isso tá muito mal explicado, as peças não se encaixam.

Suspiro prepara chá: Nós sabemos disso, e a comadre Marcelina aposta que alguém fez isso pra prejudicar a Susaninha...Ah, gente, é um pesadelo dos fortes. Vamos tentar dormir. Vou levar esse chá pra comadre, ela está mais que abalada. Está mórbida.

Peninha: E ainda acusam ela de matar o Tião do Povão. O clima na mansão deve estar horrível...Engraçado que, justo hoje, Liana nos dispensou mais cedo- Ele pensa um pouco- Que dia terrível.

Guga, cínico: Minha irmã vai sair dessa, e o verdadeiro culpado vai ser encontrado- Ele olha para Marcus, que desvia o rosto- Boa noite a todos.

FLASHBACK.
Liana: Já que você está disposto a nos ajudar, rapaz, vai ter que seguir tudo o que falarmos. Finalmente achamos alguém que vale a pena. Uma pessoa do nosso patamar, que não chora a cada palavra que diz.
Guga: Podem me chamar de tudo, menos de mole. Faço o serviço que quiserem, desde que eu ganhe meu dinheiro. Sou assim. Sem limites. Isso soa superficial, mas eu falo sério. Na minha opinião, não deveriam existir limites. Só para os fracos.
Alexandra ri: Ótimo, então você vai ligar pra polícia dizendo que passava em frente a mansão de Tião quando ouviu tiros. Só isso. Simples e rápido.
VOLTA A CENA.

Peninha observa Marcus: Você tem alguma coisa pra compartilhar comigo, Marcolino? Saiu correndo hoje do serviço, sem dar explicação...

Marcus: Eu não tô em condições de falar sobre hoje, Peninha. O que aconteceu com a Susana está me fazendo sofrer muito. E nessas horas, as palavras não saem nem que a gente queira...- Ele sai andando.

Na cadeia...

Susana tenta dormir, mas não consegue. Ela tem lembranças da cena do assassinato, que lhe atordoa. Está sozinha em uma cela escura. A aspereza do local contagia sua alma. Barulhos incomuns a deixam assustada. O mesmo acontece com Marcus, todavia ele está confortável e em segurança, mas com um enorme peso na consciência que não lhe permite desfrutar de nada, apenas remoer os fatos.

Cena 03- Mansão de Tião/Int./ Quarto de Alexandra/ DIA SEGUINTE.

Alexandra está toda trajada de preto, se olhando no espelho: Tem uma multidão lá fora esperando um pronunciamento meu...Todos ‘órfãos’ de Tião. Até parece que se importavam mesmo com ele. Só com o dinheiro que ele doava, isso sim. O ser humano é terrível mesmo- Ela ri.

Liana a olha: Não vá falar demais, ou pode soar exagerado. Dose bem as palavras. A partir de agora, estamos entrando em uma arriscada etapa nas nossas vidas. A do pós-assassinato. Qualquer coisa pode nos comprometer.

Alexandra: Mas já subornamos gente demais a nosso favor, ninguém suspeita, nem de nós, nem do Marcus... Falando nele, posso me dizer surpresa com o comportamento do rapaz. Mostrou ser um sangue-frio mesmo. O tal do Guga também. Temos muitos aliados.

Liana: Mas temos que saber selecionar os que podem nos agregar algo. Marcus é muito instável pra mim, e eu espero que ele não estrague tudo por conta da paixão pela Susana. Com essa moça na cadeia, teremos segurança.

Alexandra: Não acha melhor mandarmos matar ela? Afinal, Susana ainda é filha de Tião. E se a mãe dela resolver abrir a boca? É um grande risco.

Liana pensa: Melhor não. Vamos deixar a Susana viva por enquanto, mas caso seja necessário, mandamos aniquilar ela. Agora vamos descer, lembre-se de chorar. Isso comoverá a imprensa e o público. E lembre-se também que- Elas ficam cara a cara- Somos parceiras nesse crime. Cuidado.

Alexandra desce as escadas e vai até o jardim da mansão, que estava lotado. A população declarava luto, e manifestava o sentimento com canções em homenagem ao deputado, mas também cartazes, bandeiras, e tudo mais que se podia imaginar. Os jornalistas registravam o simbólico momento. Um marco para Recife. Quando a mulher do falecido surge na varanda, todos se calam, em respeito.

Enquanto isso, os jornais vendiam como água. As apelativas manchetes chamavam a atenção de qualquer um que passasse pela banca. Frases tais quais HERÓI RECIFENSE, TIÃO DO POVÃO É ASSASSINADO.

MORRE O DEPUTADO TIÃO DO POVÃO.

TRAGÉDIA: TIÃO DO POVÃO É MORTO COM FACADA E TIRO. ASSASSINA ESTÁ PRESA.

-RECIFE ENTRA EM LUTO APÓS MORTE DE PERSONALIDADE LOCAL

Até o presidente havia se manifestado sobre o ocorrido: ‘ Covardia. A assassina precisa ser severamente punida’.

Alexandra termina o discurso:...E seja onde meu querido Tião estiver, eu gostaria de dizer que a justiça vai ser feita. Mataram um benfeitor por pura inveja. Mas isso não ficará em vão. Tião, eu te amo- Ela olha para o céu e estende os braços- Recife te ama! Não sei se vou superar um dia, mas tá doendo, tá doendo muito!

As palavras recebem aplausos, mistos de choro, saudade e muitas homenagens ao deputado. Alexandra sai, simulando um choro. Ela passa pelos empregados, todos cabisbaixos. Gordênia, no entanto, olha para Liana, apavorada. Peninha ainda desconfia de tudo, já Marcus nem ao menos se mexe.

Cena 04- Cadeia de Recife/ Int./ Saleta de visitas/ Dia.

Susana e Marcelina trocam olhares tristes, estão de mãos dadas.

Susana: E o Marcus? Por quê não veio?- Ela soluça.

Marcelina conta: Ele teve que trabalhar, e está muito abalado com tudo, aliás, todos lá da pensão não conseguem entender como você veio parar aqui, nem acreditam nas acusações.

Susana: Uma mulher, mãe. Uma mulher chegou na pensão dizendo que precisava falar comigo, não sei quem era. Elegante, alta, morena. Deixei entrar. Pouco depois, a sujeita apontou uma arma pra mim, queria que eu entrasse no carro dela. Quando eu tentei fugir, ela me deu uma coronhada, e aí eu caí no chão e acordei na mansão, do lado de um corpo. O corpo desse deputado, Tião do Povão. Não cometi crime nenhum, mãe...Ainda nem entendi por que fizeram comigo! Eu tô apavorada.

Marcelina: Não precisa reafirmar que não cometeu o crime, eu acredito totalmente na sua palavra, e agora que me contou isso, tenho certeza que tudo não se passou de uma armadilha, filha. Eu prometo que vou descobrir quem fez isso contigo.

Susana reflete: Tão me odiando lá fora, não é?- Ela chora- Recife inteira amava o deputado, e de repente ele é assassinado. Meu nome já é sinônimo de repúdio local. Pode falar. Até aqui dentro da prisão já me ameaçaram.

Marcelina: Não é hora de se importar com o que os outros pensam, filha. O mundo inteiro pode te chamar de assassina que eu vou continuar do seu lado, te apoiando, e me empenhando em descobrir quem fez isso! Deus vai me ajudar, Susana, ele vai te tirar dessa situação. Seja forte. Eu sempre te dizia isso, mesmo quando você passava por pequenos problemas. Então agora, seja forte em dobro. Aguenta firme, a gente ainda vai sorrir juntas.

A carcereira entra: Acabou a hora do choro- Ela se aproxima- Se despede logo e vamo voltar pra cela.

Susana se levanta: Eu vou ser forte- Elas se abraça- Mas eu não vou resistir sozinha. Promete que vem me visitar? Você e os outros. Eu...Amo todos.

Marcelina promete: Eu vou vir sempre quando for dia de visita. Mas, nos outros dias, não vamos poder nos ver, não vou poder te acalentar, nem segurar nas suas mãos. Só que isso não vai impedir que a gente fique juntas- Ela tira uma medalhinha do pescoço- Esse vai ser nosso elo- E então a coloca no pescoço da filha- Reza por mim e pela nossa família toda noite, eu vou fazer o mesmo, e aí a gente vai poder se sentir juntas. Reza, filha. Eu ainda vou entrar nessa sala de visitas com um sorriso no rosto e uma boa notícia.

Susana é levada pela carcereira, ela se vira por um instante e olha para a mãe, que se mantém em pé. A jovem beija a medalhinha e é levada para a cela novamente.

DIAS DEPOIS...

Cena 05- Suspirela/ Int./ Sala/ Dia.

Marcelina chega. Suspiro vem da cozinha ao seu encontro.

Suspiro, preocupada: O que o advogado disse, comadre?

Marcelina demora pra responder: Ela...Vai a julgamento. O advogado me disse que não havia escapatória pra isso. A data está marcada. Contagem regressiva...- Ela se senta no sofá- Até agora me sinto uma inútil. Não descobri nada sobre a tal mulher que Susana me falou...Aliás, nem passa por minha cabeça quem possa ter feito uma coisa dessas.

Suspiro, com delicadeza: Já pensou na possibilidade de alguém saber da paternidade da Susana?

Marcelina se lembra de Guga: Uma história não se conecta a outra, comadre. Esse quebra-cabeças tem muitas peças que eu desconheço. Só sei que minha filha é vítima, mas vou ter que ser realista, ela tem poucas chances de ser absolvida. O morto era figura importante por aqui, todos eram iludidos por seus discursos, o povo idolatrava ele, como fosse um herói. O que me resta é ter compaixão pela Susana. E lutar pra salvar ela.

Marcus entra na sala.

Marcelina o olha: Ainda não foi trabalhar?- Ela pigarreia- Achei que dessa vez você iria comigo ver a Susana. Ela está há duas semanas presa, e você nem fez questão de mostrar interesse em uma eventual visita. Que amor é esse, Marcus? Vocês ainda estão noivos, ela está grávida, lembra? Mais frágil impossível.

Marcus, mexido: Você deveria me entender, dona Marcelina. Não posso sair no horário de visitas, não é simples assim como está sugerindo. Eu tenho trabalho fixo, diferente de você. Queria muito mas...

Marcelina: Mas não parece que você quer ver a Susana. Cadê o interesse? Cadê o sofrimento? Cadê a saudade? Ou você esconde muito bem os sentimentos, ou simplesmente não os tem. Isso é decepcionante. Se quisesse mesmo ver ela, já teria intermediado com seu patrão. Aliás, quem é seu patrão? Você nunca me falou onde trabalhava...

Marcus: Eu não te devo satisfações, e se não acredita no meu amor pela Susana, o problema é seu!

Marcelina se levanta: Eu tenho motivos pra não acreditar. Com bandidos a gente tem que sempre agir assim, desconfiando- Eles se encaram. Marcus sai.

Um pouco depois, na mansão de Tião...

Alexandra reúne Liana e Marcus no escritório da mansão.

Alexandra os instrui: Agora que a poeira em torno da morte do Tião aparentemente baixou, nós temos que nos preocupar com o julgamento da Susana. Todos nós fomos convocados pra dar os depoimentos no tribunal, e eles tem que ser coerentes, ou irão perceber os furos.

Liana: O mais fácil seria subornar o juiz, como fizemos com Gordênia e o detetive Rouxinol. Não gosto de usar essa tática, mas é a mais apropriada.

Alexandra nega: Nesse caso não funcionaria, Liana. É algo bem mais importante. Com Gordênia e o detetive é fácil de se lidar. Já um homem de porte jurídico...Vamos inventar uma história que prove que Susana tinha motivos para assassinar Tião. Vou anotar todos os detalhes para ver se eles batem com a cena do crime.

Marcus: Não quero fazer parte da elaboração dessa mentira. Me deixem fora dess...

Alexandra grita: PARA COM TANTO DRAMA!- Ela o pega pelo braço- Já me cansei de você se lamentando porquê aquela infeliz foi presa!! Agora não tem mais como voltar atrás, a Susana tá praticamente condenada. Selamos uma união e você tem que participar de tudo que fizermos, não importa que seja pra atingir sua ex-noiva ou não. Já tô perdendo a paciência com esse seu jeito, é melhor mudar e assumir sua identidade de vez ou eu acabo com você, Marcus. Não é difícil se livrar de uma pessoa do seu nível.

Peninha passa pelo corredor: Ouvi a voz do Marcolino aqui- Ele começa a escutar a conversa do trio através da janela entreaberta.

Marcus se solta: EU É QUE CANSEI DE PARTICIPAR DISSO TUDO! EU ME SINTO SUJO POR DENTRO, COM REMORSO POR VER A SUSANA NA CADEIA POR UM CRIME QUE EU COMETI! Aliás...NÓS COMETEMOS.

Liana: Não precisa ficar falando que nós incriminamos a Susana em alto e bom tom. Saiba usar de entrelinhas. Mas a Alexandra tem razão, uma vez na vida ao menos. Você precisa esquecer o amor que teve pela Susana. Passou. Agora vamos enriquecer muito, e pode ter certeza que você não vai ficar de fora, embora merecesse por estar se comportando como um bebê. Senta aí, vamos planejar qual história contaremos ao juiz...

Marcus se senta. Ele respira fundo.

Peninha, horrorizado: Não acredito no que eu acabei de ouvir- Ele engole em seco- O Marcolino não pode ter feito isso...Não pode.

É CHEGADO O DIA DO JULGAMENTO DE SUSANA.

Cena 06- Tribunal de Recife/ Int./ Tarde.

Susana senta-se ao lado do advogado público que Marcelina conseguira para defende-la. Do lado de fora, a imprensa se instala e alguns conseguem entrar com permissão para acompanhar o julgamento de dentro. O evento era esperado por praticamente toda a cidade. 

Segundo vários jornais, ‘ o povo clamava pela condenação da assassina do herói da cidade’. O juiz chega. Algumas pessoas haviam sido chamadas para serem testemunhas, dentre elas Alexandra, Liana e Gordênia na parte da acusação, e Marcelina, Marcus e Guga na defesa. Eles tinham sido convocados por conviverem dia a dia com Susana, ou por terem alguma ligação com Tião.

O juiz pronuncia as palavras essenciais. O advogado de Alexandra, que estava mancomunado com ela em suas mentiras, logo a chama para depor.

Alexandra, após o juramento de “ dizer apenas a verdade”, se senta na cadeira para começar o depoimento. Susana arregala os olhos ao vê-la.

Susana se levanta: FOI ESSA MULHER- Todos prestam atenção nela- ESSA MULHER ME SEQUESTROU NO DIA DO CRIME, FOI ELA!

Marcelina repara em Alexandra: Então foi ela...

Alexandra franze a testa: Eu não sei do que essa moça tá falando. Posso começar meu depoimento, senhor juiz?

Juiz: Por certo. E quanto a senhorita- Ele se vira para Susana- Sem escândalos no tribunal. Fale apenas quando for a sua vez.

Alexandra começa: Essa moça eu só conhecia de vista mesmo. Mas Tião tinha me falado sobre ela uma vez, pouco antes de morrer. Era uma louca- Ela sorri- Susana perdeu a casa onde morava com a família e foi pedir ajuda para o meu marido. Vocês sabem que ele ajudava toda a população. Pois bem, Susana foi pedir ajuda a Tião e ele ofereceu um barraco a ela.

Susana se revolta: Isso é uma completa menti...- Ela olha para o juiz e se cala.

Alexandra: Prosseguindo. Susana não queria um barraco, e sim uma casa. Tião não era um bilionário para dar uma casa a todos os desabrigados, então ela se revoltou e chegou a ameaçar o meu marido dizendo que ele havia estuprado ela, vejam que absurdo! Depois disso, passou a perseguir ele, como uma maníaca. Pensamos em ir denunciar ela pra polícia, porquê além de tudo ela se insinuava para Tião. Aí ela sumiu por uns dias. E depois aconteceu o que aconteceu.

Pouco depois, Liana dá seu depoimento.

Liana:...Tião me confidenciou que tinha uma jovem perseguindo ele, exigindo uma casa. Disse que ela chegou a tirar a roupa, tentando seduzi-lo. Mas Tião era fiel a Alexandra. Não cedeu...- Ela continua falando.

Susana fica chocada com as invenções, ela treme de raiva, mas se apoia espiritualmente na medalhinha dada pela mãe. Marcelina se contém para não avançar para cima das que acusam sua filha, Suspiro controla a comadre, juntamente com Jucy. Guga observa a situação, sem esboçar reação. Bem como Marcus.

Gordênia faz o juramento e inicia a fala: Bem, o seu Tião sempre conversou muito comigo. E teve um dia, entre um café e outro- Ela olha para Susana, que tenta não chorar- Que ele me confidenciou que estava sendo perseguido, e tinha muito medo de a tal Susana manchar a imagem dele...- Ela continua com a mentira, falando sempre pausadamente, enquanto troca olhares com Alexandra, Liana e Susana, de quem tem extrema piedade.

Chega a vez das testemunhas de defesa. Marcelina é a primeira a ser convocada depois das palavras do advogado.

Marcelina olha para a Susana: Tudo isso que falaram sobre minha filha foi uma completa invenção. Sou mãe dela e a pessoa que mais conhece Susana nesse mundo. Ela é honesta, batalhadora. Sempre fez questão de se preocupar com a nossa família, principalmente depois da morte do meu marido, Irineu. Sim, perdemos o nosso barraco por conta da chuva, e ela foi procurar ajuda com o tal Tião e...

O advogado de acusação interrompe ela: Mas que falta de coerência. Então admite que Susana foi mesmo procurar Tião, logo sua primeira sentença já perde a validade!

Marcelina, enraivada: Ela foi procurar o Tião mas não se insinuou pra ele e muito menos o perseguiu! Essa história é incoerente e mentirosa!

O advogado retruca: Como sabe que ela não se insinuou? Estava com sua filha? QUEM ESTÁ SENDO MENTIROSA AQUI?!

Marcelina: EU CONHEÇO O CARÁTER DA MINHA FILHA! ELA É INOCENTE!

Após o depoimento de Marcelina, o advogado de defesa chama Marcus.

Marcus dá lentos passos rumo à frente do tribunal. Ele olha fixamente para Susana, sendo que essa faz o mesmo com ele. O coração do rapaz acelera. Ele passa por Alexandra e Liana, que mantém a seriedade.

Marcus coloca a mão sobre a bíblia: Juro pela minha honra dizer toda a verdade e somente a verdade- Ele engole em seco e volta a encarar Susana.

Tensão.

Cena 07-  Tribunal de Recife/ Int./ Tarde.


O juiz balbucia: Pode começar, Marcus.

Marcus fica cabisbaixo. O tribunal está em silêncio. Marcelina cerra os olhos ao observar o rapaz. Os pelos do braço arrepiam. Peninha tem um mal-estar, ele se lembra de quando Marcolino jurou a mãe que iria se regenerar. Marcus ergue a cabeça na direção da jovem julgada e, inesperadamente, sorri. Um sorriso maligno, debochado, com ar de superioridade. Ele toma a voz.

Marcus: Eu e Susana namoramos e eu cheguei a pedir ela em casamento. Isso tudo até eu descobrir que ela estava se insinuando para Tião. Eu achava que Susana era dócil, bondosa, uma garota normal. Mas quando fui me dar conta, ela era uma verdadeira psicopata. Uma psicopata, senhores- Ele se vira para todos. Susana não sabe o que dizer- Ela é culpada por esse assassinato, não tem posse de suas faculdades mentais.

Alexandra sorri: Eu sabia que o verdadeiro Marcus iria surgir, Liana.

Peninha não acredita no que escuta: O que o Marcolino tá dizendo?!

Marcelina bate o pé no chão: Eu sabia! EU SABIA! Ele não amava minha filha de verdade, e aposto que está envolvido nesse golpe todo, comadre. Esse Marcus nunca deixou de ser um bandido ganancioso, que usou a Susana e agora está revelando quem é de verdade. Tirou a máscara. Na frente de todos. E vai se sair de vítima.

Marcus continua: Susana matou Tião. Acabou dormindo no local do crime, sei lá, mas foi presa. E merece ser condenada. Ela o matou simplesmente porquê sua ambição era maior que tudo. Seu descontrole também- Ele se levanta e sai, terminando o discurso.

Susana fica estática. O advogado que a defendia também. Ambos esperavam um depoimento completamente diferente.

Marcus olha para todos da Suspirela, que estavam em uma fileira só. Ele se vira e senta-se em outro lugar.

Marcelina se levanta: VOCÊ VAI PAGAR- Ela se dirige a Marcus, chamando a atenção dos presentes- VOCÊ VAI PAGAR POR TUDO, SEU MONSTRO!

O juiz interrompe: Contenha-se ou será retirada daqui, senhora- Ele se recompõe- Que seja chamada a última testemunha de defesa. Gustavo Porto e Pompa.

Guga se levanta e passa pela família. Marcelina pega em sua mão.

Marcelina suplica: Você sabe o que dizer, não é, meu filho? Seja honesto.

Guga se agacha: Mãe, talvez essa seja a última vez que vamos nos falar. Mas saiba que não me arrependerei de nada. Nada. Tchau- Ele sai.

Suspiro estranha: O que ele quis dizer com isso, comadre?

Marcelina nada fala.

Guga faz os juramentos, ele começa o depoimento: Minha irmã sempre teve muitos problemas psicológicos. Quando a gente perdeu tudo, ela quase enlouqueceu. E Susana nunca foi de ter paciência. Foi assim com Tião. Ela...Não teve paciência com ele, só que dessa vez, foi pega no flagra.

Marcelina desmaia ao ouvir as palavras.

Suspiro, desesperada: COMADRE, COMADRE FALA COMIGO- Peninha ajuda a levantar a mulher. Um rebuliço se forma.

Juiz: ORDEM! ORDEM NO TRIBUNAL! Vamos fazer um recesso de 15 minutos e darei a sentença final. Já ouvi o suficiente- Ele e os outros do júri saem.

Susana é levada por policiais. Ela passa por Guga.

Guga a analisa: Desculpa, irmã. Fiz isso por mim mesm...- Susana cospe na cara dele e sai, acompanhada.

Peninha dá água para Marcelina, Jucy a abana e Suspiro tenta acordá-la. Marcelina reage. Liana, Alexandra e Marcus passam por ela, como que apreciassem a situação.

Marcelina, ainda fraca: Jucy, pega meu terço, vamos rezar...

Jucy contesta: Não está na hora, você tá fraca, mãe. Melhor sairmos daqui.

Marcelina recupera os sentidos: Não tem hora pra rezar. A minha fé vai salvar a Susana, eu acredito nisso- Ela fecha os olhos.

Cena 08- Tribunal/ Int./ Dia.

O juiz retorna e todos se sentam novamente. Susana não para de olhar para Marcus, que não consegue encará-la.

Juiz: Diante de todo o exposto nesse tribunal, é evidente que a ré possui evidentes problemas mentais- Ele olha para Alexandra- Mas que não chegam a tanto para ser necessária uma solicitação de internação. As provas e o flagra são evidentes. As versões tanto da acusação, quanto da defesa, me fazem concluir que Susana Porto e Pompa é culpada pelo crime.

Susana novamente se agarra a medalhinha dada pela mãe.

Juiz: Condeno então Susana à 18 anos em regime fechado pelo homicídio doloso de Tião Friebe. Eis a sentença- Ele se levanta- Fim do julgamento.

Alvoroço total. Marcelina sai sem rumo, enquanto as pessoas vão embora. Susana é cercada pelos policiais. Não está chorando. Alguns tentam atingi-la com objetos e vaiam a moça, chamando-a de “ louca”. Pouco depois, a cidade inteira já espalhava o dizer de que “ uma aloprada tinha assassinado Tião”. Suspiro, Jucy e Peninha se desesperam. Alexandra coloca os óculos e sai, com Liana.

Marcelina se aproxima de Alexandra e a pega pelos cabelos: CACHORRA- Ela joga a mulher no chão- BANDIDA! VAGABUNDA! GOLPISTA!- Os jornalistas se aproveitam para registrar o momento- VOCÊ AINDA VAI PAGAR POR O QUE TÁ FAZENDO COM MINHA FILHA! VOCÊ E TODOS OS OUTROS! VÃO SE ARREPENDER- Ela chuta Alexandra.

Alexandra, sangrando: SOCORRO! A MÃE É LOUCA TAMBÉM- Ela tenta se defender- ALGUÉM ME AJUDA!

Os seguranças retiram Marcelina, aos gritos. Ela está roxa. Alexandra fica furiosa, enquanto Liana faz um pequeno esforço para levantá-la.

Na saída do tribunal, Susana é alvo de manifestações, mas não parece estar preocupada. Pior, ela não parece estar ali. Até que Marcus surge em sua frente, no meio do tumulto. Os dois ficam frente a frente de novo. Susana para de andar e o observa. Marcus tem uma lágrima no rosto.

Susana se aproxima e...


TERMINA O CAPÍTULO 10 (ESPECIAL).
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6 comentários:

  1. Ótimo o capítulo com o júri! Sem palavras pra esses depoimentos. Mas Marcus é realmente o pior. Enquanto os outros criminosos assumem o que fizeram, ele sempre tenta dissimular. Como se fosse a grande vítima das circunstâncias... O que me dá raiva.
    Achei a Marcelina mais controlada, e gostei. A única que acredita na filha verdadeiramente.

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    1. Obrigado João, que bom que gostou!
      Marcus e Guga foram muito cruéis, e surpreenderam a todos! Ele inclusive deu um maléfico riso para Susana.
      Marcelina jamais desacreditaria de Susana e seu sentimento de mãe foi um dos pontos altos para o capítulo ter sido forte! Gosto de trabalhar com isso.
      Obrigado por comentar, João!

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  2. Que dó da Susana :(
    Ódio do Marcus e do Guga.
    Marcelina chutando Alexandra o melhor. Espero que ela leve outras surras hahahah
    E como ficará agora a relação entre o Peninha e Marcus?

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    1. Susana, Marcus, Guga e outros selaram seus destinos nesse capítulo decisivo. Daqui pra frente começará uma nova fase!
      Marcelina se enfureceu e creio que muitos fariam o mesmo com Alexandra. A vilã vai sofrer sim, não se preocupe, até porquê se ela só se der bem, fica chato!
      Peninha e Marcus: Tocou num bom ponto. A resposta pra sua pergunta está no capítulo 11, Pedro! Obrigado por comentar Elos!

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  3. Coitada da Susana. Pagando por um crime que não cometeu. Que imunda essa Alexandre. Amei a Marcelina chutando a Alexandra. Que a Marcelina arrebente a vilã. Os depoimentos ficaram ótimos. SUSANA SE APROXIMA E?????! Você sempre nos deixa curioso. :(
    Ótimo capítulo, Victor.

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    1. Alexandra realmente foi bem cruel, Gabriel, e acabou levando essa pequena punição de Marcelina. Pelo visto todos gostaram da atitude da matriarca dos Porto e Pompa.
      Susana se aproxima E... A resposta está no capítulo 11! Obrigado por comentar, e desculpe te deixar curioso haha'

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