Elos- Capítulo 11 (TROCA DE FASE).

Cena 01- Tribunal/ Int./ Dia.

Na saída do tribunal, Susana é alvo de manifestações, mas não parece estar preocupada. Pior, ela não parece estar ali. Até que Marcus surge em sua frente, no meio do tumulto. Os dois ficam frente a frente de novo, dessa vez não no tribunal. 

Susana para de andar e o observa. Marcus tem uma lágrima no rosto.

Susana se aproxima e lhe entrega a medalhinha: Você precisa disso mais do que eu. De fé no coração.

Marcus fica sem reação. Ele não estica o braço para pegar.

Susana: Quem é você, hein? Com quem eu tava convivendo esse tempo todo? Você é só mais um deles? QUEM É VOCÊ?- Ela é levada pelos policiais.

Marcus fica desolado.

Horas depois. Na Suspirela...

A sala está em silêncio.

Peninha decide falar: Dona Marcelina- Ela ergue a cabeça- Eu peço perdão em nome do...Do Marcolino. Não imaginava que ele fosse fazer uma coisa dessas, eu, e todos, achávamos que ele tinha se modificado. Você não sabe o quanto estou sofrendo, cada vez que me lembro que ele mentiu no tribunal.

Marcelina, ainda com voz embargada: Ele é um monstro, Peninha, um monstro que compactuou com os outros assassinos. Inclusive meu filho. Todos armaram pra cima da Susana...E o Marcus não teve piedade nem do filho que ela carrega na barriga. Filho esse que é dele.

Peninha suspira: Eu não tô me sentindo muito bem, pessoal. Vou pro meu quarto. Até amanhã- Ele sobe as escadas.

Instantes depois, Marcus chega. Ele abre a porta e atrai as atenções.

Marcus: Vim pegar as minhas coisas. Estou indo...Embora.

Marcelina ri: Jura? E você achava que alguém ia te deixar ficar aqui depois do que você fez? Aliás, por que você tá aqui ainda? Porquê tá olhando no nosso rosto? Como tem essa coragem?- Ela se levanta- Você ainda vai querer os seus pertences? A sua amada Alexandra não vai te dar coisas melhores? Quando é o casamento? Vocês combinam tanto!

Marcus grita: EU NÃO SOU OBRIGADO A OUVIR ISSO!

Marcelina, já vermelha: E VOCÊ AINDA ACHA QUE TEM ALGUM DIREITO AQUI? VAI EMBORA! VOCÊ JÁ DISSEMINOU SEU MAL, AGORA PODE IR! SUA COTA DE SATISFAÇÃO JÁ FOI PREENCHIDA POR DEZ ANOS! VAI SE AVENTURAR COM A SUA AMIGA E DEIXA A GENTE EM PAZ!

Marcus sobe as escadas, sem responder. Ao entrar no quarto, ele vê Peninha se preparando pra dormir.

Peninha aponta para as malas: Eu já as fiz. Para poupar o seu tempo e sua estadia aqui- Eles se encaram- Embora eu não imaginasse que você fosse voltar, senhor Marcus.

Marcus: Peninha, eu...

Peninha o interrompe: Não, não precisa justificar nada, Marcus. Nada. Pode ir. Eu olhei pela janela e vi que Alexandra está te esperando. Vai. Passa por aquela porta e esquece que um dia você já falou comigo- Ele esconde o choro- Eu esperava outra coisa de você. Eu...Até imaginava o casamento seu e da Susana. Lamento que não tenha optado por essa vida. Um dia você próprio vai lamentar.

Marcus se aproxima dele: Peninha, você é como um pai pra m...

Peninha novamente o corta: Eu não sou nada seu. Não mais. Um dia eu fui- Ele abre a porta- Pega suas malas e...- Ele começa a chorar- Me poupa dessa dor.

Marcus arrasta as malas e sai do quarto. Ele olha para Peninha pela última vez antes de sair. A porta se fecha.

Peninha olha quando ele entra no carro de Alexandra: Adeus, Marcolino. Você morreu. E uma parte de mim também.

Suspiro entra: Tudo bem, compadre?

Peninha, lacrimejando: Como já diz a música: É preciso saber viver- Ele se deita na cama- Só não sei se eu vou conseguir depois desse golpe...

ELOS- CAPÍTULO 11.

Roteiro: Victor Morais.

Cena 02- Mansão de Tião/ Int./ Sala de Jantar/ Noite.

Alexandra coloca champanhe em três taças.

Liana arruma o cabelo: Finalmente poderei voltar a repousar em paz. Temia que Susana não fosse condenada, apesar de que nosso plano era muito bom- Ela pega uma das taças- Um brinde a banheira de hidromassagem que finalmente vou poder comprar!

Alexandra brinda: Um brinde a alma de Tião, que deve estar se encontrando com os anjos- Ela debocha- E um brinde à escolhas certas que fazemos nessa vida, não é mesmo, Marcus?

Marcus, ainda contido: Um brinde...

Os três bebem.

Alexandra: Amanhã mando jogarem tudo que tem nessa sua mala fora. Agora que vai morar aqui conosco, deve se trajar de outra maneira- Ela termina de beber o champanhe- Depois desse agito todo, preciso dormir. A porta do meu quarto vai estar aberta- Ela olha para o rapaz- Até amanhã ou...Até logo.

Marcus a interrompe: E o Guga? Ele também nos ajudou...

Liana: Falamos pra ele que se quisesse vir para cá, seria bem-vindo. Afinal, somos todos um time, um time que acabou de subir pra primeira divisão!!- Ela olha para o quadro de Tião- Graças ao magnífico Tião do Povão!- E ri.

Na Suspirela...

Guga bate na porta e Suspiro o atende.

Guga, com uma cerveja na mão: Achei que não viesse mais... Vou pegar minhas coisas e ir dormir num lugar melhor hoje- Ele mostra um punhado de dinheiro- Vou pra uma mansão. Finalmente vou dormir num lugar decente, merecedor! Não em uma pensão suburbana com cheiro de mofo nos cômodos. E que mal tem HÓSPEDES. Suspirela, até o nome é piada pronta!- Ele dá uma gargalhada.

Suspiro lhe mostra uma sacola: Eu não preciso das suas humilhações, você não é merecedor de dormir aqui na Suspirela. Já arrumei o pouco que tinha e coloquei nessa sacola. Cuidado pra não rasgar. Cuidado também pra não voltar aqui. Ninguém mais quer ver uma pessoa do seu nível. Você é nojento. A minha pensão não.

Guga pega a sacola: Como quiser, Suspirinho...Até nunca! Fala pra minha mãe e pra minha irmã que eu mandei um beijo. Quero ver até quando elas vão viver nessa imundice... A Susana deve estar em lugar melhor.

Marcelina surge. Com expressão séria: Feliz?

Guga abre os braços: Muito, mamãe. Porquê de agora em diante eu vou ganhar muito dinheiro, vou conviver com gente que realmente vale a pena, vou ter uma vida, propriamente dita! Infelizmente eu tive que sacrificar a Susaninha...Mas relaxem! Logo ela sai. 18 anos só! Com bom comportamento, cai pra 15! Isso não é nada minha gente!

Marcelina lhe dá um tapa na cara: Você é a pessoa mais horrenda com quem eu tive o desprazer de conviver- Ela se segura para não dar mais- Você fala essas palavras como se não tivessem valor nenhum! Teve a coragem de trair sua própria irmã inventando mentiras! Existe crueldade pior? Ela era sangue do seu sangue. E VOCÊ NÃO TEVE DÓ! Agora ela tá sofrendo na cadeia, sozinha. Pensando no que inventaram dela...

Guga: Sangue do meu sangue ela não era, né? Não por completo. Você vai continuar escondendo que ela era filha do finado Tião? Susana pode até ganhar dinheiro com isso! Se bem que ia ser uma barbaridade pra Recife saber que a assassina do deputado era sua própria filh...

Marcelina o esbofeta: VAI EMBORA DAQUI! E não me chama mais de mãe. Eu me recuso a ser sua mãe. Eu não posso ser mãe de um ser humano capaz de cometer uma atrocidade dessas e se sentir bem...- Ela sai.

Guga, já cambaleando: ENTÃO TCHAU, DONA MARCELINA! UM DIA VOCÊ VAI PRECISAR DO MONSTRO AQUI! ESCREVE O QUE EU DIGO- Ele caminha pela rua- UM DIA CÊ VAI ENTENDER O QUE EU FIZ! Foi por mim...- Ele joga a garrafa de cerveja no chão, fazendo um enorme estrondo.

Cena 03- Cadeia de Recife/ Int./ Sala de Visitas/ Dia seguinte.

Susana é trazida por uma carcereira. Marcelina abraça ela.

Marcelina respira fundo: Perguntar como você está seria tolice. Lá na pensão estão todos arrasados ainda...Nem eu me recuperei.

Susana: Todos menos o Marcus e o Guga, não é mesmo? Mãe, eu jamais esperaria que isso fosse acontecer um dia na minha vida. Eu amava tanto eles dois. É como se...Tudo tivesse sido uma ilusão. O pai do meu filho. O meu irmão. Eles provavelmente foram comprados por aquela mulher. Alexandra. Foi ela que apontou a arma pra mim. Queria me sequestrar...Eu só não entendo o porquê. PORQUÊ EU?

Marcelina não diz nada. Mas, ao mesmo tempo, entende tudo.

Susana: Eu tô destruída. Perdi a vontade de viver depois de tanta desilusão pro meu lado. Nem o homem que eu amava foi capaz de me poupar. E ainda riu pra mim na frente de todo o tribunal. FUI UMA VÍTIMA DESSE CANALHA! Agora que parei pra pensar, ele e a tal Alexandra devem ser...Amantes- Ela sente um enjoo- Por culpa desses dois eu tô aqui. Vou ter o meu filho nesse lugar horrível. Se ele sobreviver, claro...

Marcelina: Não fala assim, ele vai sobreviver, e eu vou criar meu neto! Você vai sair daí...É assim que temos pensar, é assim que vai ser, minha filha! Esquece quem te fez mal, ou seu coração vai se encher de ódio. Todos eles vão pagar um dia.

Susana nega: Eu não vou esquecer ninguém que me fez mal, mãe. Não consigo. Meu coração já está cheio de ódio. Aliás, como ele poderia estar? Eu odeio com todas as minhas forças o Marcus, a Alexandra...Todos! Eles vão sofrer muito nas minhas mãos. Eu não sofri? Pois bem, a vez deles vai chegar quando eu sair daqui. Tortura- Seus olhos mudam de expressão- Troco. Eu vou dar o troco.

Marcelina: Você não pode alimentar esse sentimento de vingança, Susana!

Susana fecha o rosto: Eles não podem sair impunes, mamãe. Eu não vou deixar. Espera só eu sair daqui...E tudo isso vai ser esclarecido. Preto no branco.

Marcelina: VINGANÇA NÃO VALE A PENA!

Susana: O QUE NÃO VALE A PENA É VER ELES SEREM FELIZES ENQUANTO EU SOFRO AQUI! Eles vão pagar, é uma promessa!!

Marcelina se assusta.

Cena 04- Mansão de Tião/ Int./ Quarto de Marcus/ Noite.

Alexandra entra no quarto de Marcus, que está deitado.

Alexandra se deita em cima dele: Já que você não foi até mim, eu vim até você- Ela começa a beijá-lo intensamente.

PASSAGEM DE TEMPO- Ao som de Simply Red- Holding Back The Years.

Susana e as outras presidiárias tomam banho de sol enquanto ela reflete muito. Marcelina volta a trabalhar como lavadeira, e logo consegue muitas encomendas. Peninha tenta conseguir emprego em um restaurante, mas derruba todos os pratos e é demitido. Alexandra e Liana recebem a imensa herança de Tião, inclusive a parte da filha perdida dele. Marcus e Alexandra começam a ter um caso. Liana compra tudo o que quer. Guga aproveita o dinheiro que ganha. Susana sofre nas mãos de outras presidiárias. Seu desejo de vingança só cresce. Marcus e Alexandra se casam e viram capa de uma importante revista. Os deputados resolvem criar uma estátua em homenagem à Tião do Povão. Peninha decide virar ambulante. Os meses passam e a barriga de Susana cresce. Marcelina monta um pequeno negócio. Marcus se lembra que o nascimento do filho está próximo.

Cadeia...

Susana está mergulhada em lembranças e pegada em sua medalhinha quando a carcereira chega, batendo na cela.

Carcereira: Visita pra assassina do deputado- Ela abre a cela.

Susana estranha: É minha mãe? Mas ela já veio ontem...

Carcereira: Não, não é sua mamãe. É um homem. Anda logo- As duas saem.

Na sala de visitas...

Susana entra com dificuldade. A barriga já era de 8 meses. Ela se surpreende ao ver de quem se tratava a visita: Marcus.

Cena 05- Cadeia/ Int./ Sala de Visitas/ Tarde.

Susana se senta na cadeira. Ela fica olhando para Marcus: Pelo visto o golpe te fez bem. Está com roupas melhores, aparência de rico...Desfrutando da riqueza!

Marcus: Susana, eu não tô aqui pra isso.

Susana: Eu não entendi por que veio aqui. Quer debochar de mim? Esfregar na minha cara que me fez de idiota esse tempo todo?! Isso não me abala mais, eu já me conformei, digamos assim, temporariamente. Me conformei que você nunca me amou. Acho que você nunca amou ninguém e nem vai.

Marcus, sério: Isso não é verdade, eu te amei muit...

Susana aponta o dedo em sua cara: Não, você nunca me amou! NUNCA!

Marcus rebate: Amei! AMEI MUITO!

Susana, furiosa: Amou? Então por que fez aquilo tudo comigo? Fiz alguma coisa pra você deixar de me amar de uma hora pra outra e compactuar com um turbilhão de mentiras que inventaram sobre mim? Não, você nunca me amou! Você me usou como se eu fosse um objeto, e agora estou aqui, mofando por um crime que eu não cometi, enquanto você já está em outra, e agora me diz, porquê veio me visitar? É isso que eu quero saber! Porquê, me colocando no seu lugar, não tem motivo pra você me ver de novo! SOU UMA CRIMINOSA, LEMBRA? VOCÊ DISSE ISSO NO TRIBUNAL! E SORRIU!

Marcus: PARA, PARA, EU NÃO FIZ NADA DISSO DE PROPÓSITO! EU TENHO OS MEUS MOTIVOS!

Susana, perplexa: Motivos? Não tem motivo, nem explicação, nem perdão pra isso que fizeram comigo!- Ela chora de ódio- E pensar que um dia eu cogitei me casar com uma pessoa como você...Mas o tempo é o senhor da razão. Eu vou te dar o troco- Ela se levanta- CARCEREIRA, EU QUERO SAIR!

Marcus a pega: Não, eu vim aqui pra falar com você!

Susana o empurra: ME LARGA, VOCÊ NÃO TEM O DIREITO DE ENCOSTAR EM MIM!

Marcus não desiste: Nosso filho está quase nascendo e eu vim avisar que, quando esse dia chegar, eu vou vir buscar ele. Tenho direito. Sou o pai.

Susana, trêmula: Eu não vou permitir. Ele vai ficar com a minha mãe, e não tem discussão quanto a isso.

Marcus a confronta: Vamos ver. Eu tenho poder agora. Posso conseguir tirar ele da sua mãe a hora que eu quiser...E vou fazer isso.

Susana cospe nele: Você é repulsivo. Porque me torturar dessa forma?- A carcereira abre a porta- O que eu te fiz pra merecer toda essa punição?- Ela é levada.

Marcus limpa o rosto.

UM MÊS DEPOIS.

Cena 06- Cadeia/ Int./ Noite.

Susana dá à luz a um saudável menino. O parto é precário, feito por médicos chamados de última hora. A sala era improvisada, escura e apertada demais para ato tão grandioso.

Susana vê o filho, muito emocionada: Augusto...- Ela diz lentamente, enquanto o pega em seus braços. As lágrimas de felicidade são inevitáveis- Esse vai ser o nome dele. Augusto.

O bebê é retirado de seus braços. Os médicos a acalmam. Uma enfermeira leva Augusto, que já não chora demasiadamente. Susana olha para ele, ainda com a vista turva. É a última vez que ela vê o filho.

Lá fora...

A enfermeira entrega o bebê para Alexandra.

Alexandra sorri: Muito bem. Tem certeza que nem o Marcus nem a mãe dela chegaram?- A enfermeira assente- Ótimo. Aqui está o seu combinado- E entrega um punhado de dinheiro- Lembre-se de reproduzir exatamente o que eu lhe disse, e ninguém vai suspeitar!

Alexandra entra no carro com o bebê. Gordênia está lá.

Gordênia, tensa: Olha dona Alê, eu não quero mais me meter em nenhuma confusão. Fiquei dias sem dormir depois do que aconteceu com o seu Tião, e ainda tive que mentir...Me sinto mal por isso!

Alexandra lhe entrega Augusto: Mas eu só estou fazendo isso por que você me disse que sempre teve vontade de ter um filho! Aí está, a oportunidade perfeita, Gordênia!- Ela pega algo- Aqui tenho passagens pra Minas Gerais. Uma cidade tão monótona que foi difícil de ser achada no mapa. É pra lá que você deve ir com essa criaturinha! Vá e seja feliz com seu novo filho. E não apareça aqui de novo. Cria ele, dá o nome que você quiser. Muda de nome também. Vou te deixar na rodoviária.

Gordênia, surpresa: Mas assim, de repente? Eu não posso, dona Alexandra.

Alexandra: Sim, você pode e vai, Gordênia! Esse filho aqui é da Susana, a criminosa, e do Marcus, e realmente tenho interesse 0 que ele apareça na minha vida! Já falei pra não se preocupar, te darei dinheiro todo mês, para você manter a criança! É um recomeço! Ou, se preferir, eu jogo esse bebê no córrego mais próximo. Não me custa nada.

Gordênia, assombrada: Não precisa tanta frieza. Eu não tenho parentes aqui mesmo, nem casa...Posso ir com Munique para Minas, né bebê?- Ela o acaricia.

Alexandra acelera: Ótimo, mas só pra te avisar, é um menino.

Gordênia ri: Não importa, eu amo esse nome. Vou deixar Munique mesmo.

Alexandra faz uma curva: Coitado desse garoto quando passar dos 10.

Na cadeia...

Susana acorda, com várias pessoas ao seu redor, incluindo alguns médicos, o diretor do presídio e sua mãe. Todos estão tensos. Eles falam rapidamente, atropelando uns aos outros.

Susana não consegue entender, ela pisca: Mãe...O que aconteceu?

Todos param imediatamente com a conversa ao notar que ela acordou.

Susana desperta de vez: Cadê o Augusto?- Ela nota as expressões- O que aconteceu, gente? Vocês estão me deixando preocupada! Cadê meu filho?

Marcelina: Susana, na verdade aconteceu uma coisa muito dolorosa. Você terá de ser forte.

Susana se desespera: Para de me dar recomendações e fala logo!- Ela respira ofegantemente- CADÊ MEU FILHO? O QUE ACONTECEU COM ELE! FALEM! FALEM!

18 ANOS DEPOIS...

Cidade de Feio Horizonte...

Cena 07- Casa de Sula/ Int./ Quarto de Munique.

Sula e Wagner entram no quarto de Munique. Ela com um bolo nas mãos. O garoto dorme. O relógio indicava 8:53 da manhã.

Wagner anda cautelosamente, até que esbarra na quina da cama dele: AIIII CARACOLES- Ele grita.

Sula, com o bolo em mãos: Cala a boca, ele vai acordar, seu idiota!

Munique desperta lentamente: Mãe? Pai?

Sula começa a cantar: PARABÉNS PRA VOCÊ...

Wagner completa: NESSA DATA QUERIDA...

Sula: MUITAS FELICIDADES...

Wagner: PRO MUNIQUE QUE É O AMOR DA NOSSA VIDAAA!

Munique sorri: Obrigado, vocês são o máximo!- Ele beija o pai e a mãe.

Sula se senta na cama: 18 anos, meu filho... Passam tão rápido! Agora sopra a vela antes que aconteça um incêndio nessa casa! E faz um pedido!

Wagner amacia o joelho: Munique, meu querido, você agora é maior de idade! Sabe o que eu venho te falando esses anos todos. Use camisin...

Sula o cutuca: Cala a boca, Wagner, cala a boca- Munique sopra as velas- Filho, você não pediu nenhum presente esse ano, então nós ficamos imaginando o que você iria querer e decidimos comprar isso- Ela mostra uma caixinha.

Munique abre: Um canivete? Poxa, muito obrigado- Ele abraça os dois.

Wagner ri: Eu sabia que ele ia gostar! Foi ideia minha, filho. Qualquer problema é só usar o canivetinho! Ele não falha!

Munique se levanta: Mas vocês sabem que eu não pedi presente esse ano por conta da promessa que me fizeram- O casal fica sem entender- Vocês prometeram que quando eu completasse 18, iam me contar o nome dos meus pais.

Sula coloca o bolo na cama: Não começa, Munique. De novo essa história atordoante? Vamos ter um dia agradável! É seu aniversário! 18 anos de felicidade!

Munique vai até o banheiro: Promessa é promessa. Vou sair rapidinho mas quando eu voltar, quero que comecem a me contar tudo que sabem sobre minhas origens. Incluindo o nome dos meus pais biológicos. Não tenho nada contra vocês, mas é um direito meu procurá-los. Quero conhecer minhas origens. Já entregaram uma vez que eles vivem em Recife, então não vai ser difícil...

Wagner: Esquece essa história, filhão. Vamos focar na sua carteira de motorista, meu sonho é te ensinar a dirigir...

Sula, triste: Se o garoto for depender de você pra aprender, está ferrado.

Munique troca de roupa: Meio-dia eu volto. E aí não vai ter desculpa. Vou querer saber tudo! Desculpem a pressão, mas vocês sabiam que essa hora ia chegar...E não deviam ter tirado o bolo da geladeira. Esqueceram que eu não como doce de manhã?- Ele sai.

Wagner tira um pedaço do bolo: É mesmo. Esquecemos desse detalhe.

Sula, preocupado: E então? Contamos tudo pra ele?

Wagner a olha, tenso.

Cena 08- RECIFE/ Casa de Marcelina/ Int./ Sala/ Dia.

Marcelina risca outro dia do calendário: Pronto. Faltam só 5 dias pra o pesadelo finalmente ter fim.

Jucy entra: Pega a mochila, Caio, ou o ônibus do passeio vai sem você! A inscrição custou caro, então é melhor não se atrasar. Ou eu desconto da sua mesada!

Marcelina toma café: Filha, pega o jornal pra mim, por favor. Quero ver o que o horóscopo reserva pra mim. E pra Susana...Você sabe que faltam 5 dias pra ela sair daquela imundice?

Jucy apanha o jornal: Não, não sabia disso. Mas não duvido de você e do seu calendário. Afinal, há 18 anos você anseia pelo grande dia da saída de Susana...Já eu não sei o que esperar disso. Ela insiste na tal vingança, você sabe. Nunca superou o sequestro do filho.

Marcelina suspira: Aquele período foi doloroso pra todos. Mas ela resistiu bravamente, e quando sair da prisão, vou fazê-la esquecer essa ideia de vingança. Vou mostrar como a situação da nossa família mudou.

Jucy: A Susana mudou bem mais que a nossa situação. Ela passou quase duas décadas convivendo com presidiárias. A mente dela é outra- Ela pega a chave do carro- CAIO, VAMOS MEU FILHO!

Caio chega correndo. Ele pega uma maçã: Tô indo, tô indo! Tchau vó!

Marcelina abre o jornal: Vai com Deus e volta com ele. Não se afasta da turma. E lembra: Se algum estranho te oferecer doce...

Caio: Eu falo que sou diabético e corro. Eu sei, vó. Tchau- Ele sai.

Marcelina folheia as páginas até chegar em uma grandiosa matéria.

INAUGURAÇÃO DE HOTEL SUBMARINO E FAMÍLIA: SAIBA COMO É A ROTINA DE MARCUS VILALOBOS.

Marcelina amassa o papel: Esse jornal já teve conteúdo de mais qualidade- Ela se enraiva- Eu vou abrir a lavanderia que é melhor...

Cena 09- Feio Horizonte/ Praça do Burrico/ Ext./ Dia.

Munique abre um embrulho: Não acredito que você gastou seu tempo e dinheiro comprando um presente pra mim, Margot. Disse pra não se preocupar.

Margot ri: Mas no meu aniversário eu disse o mesmo e você me comprou aquele CD. Eu só retribui, Nique.

Munique se encanta. Era o livro Grande Sertão: Veredas: Não é possível, você conseguiu a edição especial de Veredas pra mim?! Isso custa caro- Ele a abraça- Você não existe mesmo!

Margot, vermelha: Fiz um esforço...Por você- Ela muda de assunto- E as informações sobre seus pais biológicos? Já conseguiu arrancar alguma da boca de dona Sula?

Munique olha em seu relógio: Vou tentar agora mesmo. Já é quase meio-dia e prometi que ia almoçar com eles. Mas antes fui resolver um negocinho no banco, e acabou demorando...Nos vemos depois então, Margot. Pode ter certeza que vou apreciar a leitura! Você é demais- Eles vão se beijar no rosto mas acabam se atrapalhando e trocam um inesperado selinho. Rapidamente, cada um vai para uma direção.

Na casa de Sula...

Munique entra: Voltei! Podem ir começando a contar- Ele se senta na mesa.

Sula coloca a mesa: Que pressa é essa, Munique? Não é assim que funciona. Eu e seu pais decidimos que vamos te contar tudo, ou quase tudo. Embora não devêssemos...

Wagner: Fizemos suco de maracujá para você ficar calmo também, é uma história um pouco...Pesada, digamos assim. Combinava mais com uma feijoada do que com um frango assado.

Munique bebe o suco: Esperei muito tempo por isso, então vamos direto ao ponto. Fatos, quero fatos.

Sula suspira: Pra começar, Munique...Meu nome verdadeiro não é Sula. Nasci Gordênia.

Munique dá uma longa gargalhada: O QUÊ? Tão de piada comigo?

Wagner pigarreia: Parece piada, o nome é ridículo, mas é a verdade, filho. Vou ser mais breve: Seu pai biológico é um grande empresário, já sua mãe... É uma criminosa.

Munique fica sem reação.

TERMINA O CAPÍTULO 11.