Somos Tão Jovens, capítulo oito:
Cena 1. Hospital São Vicente - Fim de Tarde
Maurício está apavorado: Para de adiar essa resposta, doutor! Você não entende o quanto ela é importante pra mim? Eu preciso me libertar de qualquer ilusão, não só a mim, mas a minha filha também. Então, me diz, me diz logo de uma vez. Eu posso ou não salvar a vida da minha filha?
O médico suspira: Olha, Maurício, você me pediu pra ser realista, pra ser franco contigo... E eu também não me veria no direito de mentir ou omitir qualquer coisa. O seu quadro é esperançoso sim, como eu já disse, mas... Como tudo, essa esperança tem um limite, Maurício. Uma fronteira, que divide a possibilidade do ilusório. E depois da história que você me contou, eu não sei nem como te falar uma coisa dessas... Mas nas suas condições, uma cirurgia já é mais arriscada, porque seu sistema imunológico enfraqueceu muito com o acidente. Agora, um transplante, é ainda mais difícil. Eu não garanto que seja impossível, mas... Nada te impede de tentar. Desculpa por ser assim derrotista, mas...
Maurício tenta disfarçar o choro: Mas você não tem culpa de nada. Eu é que fracassei mais uma vez - ele diz, com raiva - Eu é que nunca pude fazer nada pela minha filha, e agora, mais uma vez, eu não vou poder! A vida é tão cruel comigo, que justo quando a minha filha precisa de mim, eu não posso correspondê-la!
Alvorada tenta acalmá-lo: Se revoltar assim não vai adiantar, Maurício. Além do mais, você não é a última esperança... Embora seja imensa, a fila de transplantes não pode ser desconsiderada...
Maurício confessa, chorando: Eu acho que tem um pouco de egoísmo meu nisso... Porque eu não estou assim porque minha filha tem ainda mais chances de morrer - admite. - Eu estou assim, porque é claro que ela vai voltar pros Estados Unidos... Lá ela tem vários médicos, enquanto aqui... Ela só tinha a mim, doutor. Agora, não mais. Nunca mais.
Mais tarde...
Cena 2. Casa de Olívia e Maurício - Quarto de Elis e Lana - Noite
Elis e Lana estão deitadas. A segunda, na bicama, até que comprassem uma outra.
Lana, agradecida: Brigada por me acolher aqui no seu quarto, viu? Eu também sou filha únic... Quer dizer, era, né?
Elis sorri, simpática: É. Não é com quase vinte anos, com os pais vasectomizados, que a gente pensa que vai ganhar uma nova irmã ou irmão. Mas, sei lá, acho que vai ser bom...
Lana: Eu adoro cinema, sabe, e sempre via essas cenas de conversas de irmã. Uma fantasia meio estranha, claro, mas que se a gente para pra pensar, faz falta.
Elis: Então a gente têm mais em comum do que parecia. Acho que todo mundo sonha com um irmão... Ainda mais com a mesma idade, que te entenda. Mas como é que tá sendo se deslocar assim, de país?
Lana confessa: Eu já pensei que fosse ser difícil, mas... Tá sendo mais. Não só pela troca de país, eu nem tive tempo pra conhecer nada daqui, mas... Essa distância, Elis, essa distância das pessoas que eu gostava lá nos Estados Unidos, conseguiu destruir esse sentimento. Eu briguei com a minha amiga, desde que eu cheguei aqui não falei com meu namorado... - mas é interrompida.
Elis: E por que não?
Lana: Acho que por insegurança. Na verdade, eu briguei com a Elena, a minha amiga, pelo meu namorado. Ela disse que viu ele me traindo, mas eu acabei não acreditando e... Ela se sentiu ofendida. Agora, eu ainda não encontrei coragem pra falar com meu namorado, confirmar ou não essa história.
Elis tenta incentivá-la: Pois eu acho que você tem SIM que falar com ele. Por mais que a resposta doa, Lana, não vale a pena ficar presa dentro desse silêncio, se omitir desse jeito, arriscando essas suas duas relações.
Lana: Acho que sim... Acho que eu tô sendo boba em ainda não ter tirado essa história a limpo. Quer saber, eu vou falar com ele sim.
Elas continuam a conversa, entrosadas.
No dia seguinte...
Cena 3. Casa de Olívia e Maurício - Sala de Jantar - Começo de Tarde
A família almoça. Menos Lana, que estava se preparando para realizar o exame de compatibilidade com o pai.
Olívia: Bem, aproveitando que a garota foi tomar banho... Tá sendo muito desagradável pra você dividir o quarto com ela, filha?
Elis: Que isso, mãe... A gente mal se conhece. Tá muito cedo pra eu fazer qualquer avaliação, se é que eu devo fazer alguma.
Maurício, irritado: Não liga pra essas conversas da sua mãe, Elis. Ela ainda não se conformou com essa história e acha que todo o mundo têm que pensar como ela.
Olívia: Não é que todos tenham que ter o mesmo pensamento que eu, Maurício, mas é que nem todo mundo é evoluído o bastante pra aceitar uma nova irmã, de repente.
Maurício retruca: Mas felizmente todos dessa casa são, Olívia. Menos você, que insiste em voltar pra esse mesmo assunto. Mas já deu!
Elis tenta intermediar: Calma, pai. Minha mãe só queria saber se estava tudo bem comigo, com a Lana também... Nada demais.
Maurício: Não, Elis, é demais sim! Você pode não ter percebido, mas a sua mãe quer te colocar contra a Lana e, pior, me colocar contra ela também. Mas eu não vou permitir! Não vou permitir que ela instaure uma guerra dentro dessa família - ele se levanta, bufando - Vou ver se a Lana já está pronta.
Elis: Pai, não é melhor que vocês conversem mais sobre tudo isso?
Mas Maurício não olha para trás.
Olívia: Deixa, Elis, deixa. Agora, o foco total do seu pai é nessa nova filha. Ele não vai ter tempo pra nenhuma conversa civilizada.
Dias depois...
Cena 4. Casa de Olívia e Maurício - Quarto de Lana e Elis - Manhã
Lana está sentada à escrivaninha. A tela do laptop esta abaixada. Ela tem lembranças.
Voz de Ethan: Nada a ver, Lana. Eu te amo aqui no colégio, na sua casa, e em qualquer outro lugar do mundo. Não importa que você esteja no Brasil. A distância, a saudade, só vai aumentar a nossa vontade de estar perto um do outro. Nada vai abalar o que a gente têm - ele faz o juramento.
Voz de Elena: O ponto, Lana, é que eu vi ele beijando uma garota.
Voz de Elis: Pois eu acho que você tem SIM que falar com ele. Por mais que a resposta doa, Lana, não vale a pena ficar presa dentro desse silêncio - fim das memórias.
Lana, convencida, levanta a tela do laptop. Ela logo inicia uma ligação, e é atendida.
Ethan, espantado: Você?!
Lana vibra ao vê-lo: Ethan! Você não sabe como eu tava com saudade, o quanto eu esperei pra te ver aqui, nem que fosse por uma tela de computador. Você não sabe o quanto isso me traz alegria.
Ethan: Olha, se você for começar com aqueles discursos motivadores... Eu não tô com saco pra isso hoje. Aliás, nunca estive.
Lana percebe que o namorado não está sóbrio: Você bebeu, Ethan? - o rapaz nega - Então, por que é que você tá com esse olho vermelho e inchado? Por que é que você tá me falando essas coisas todas?
Ethan admite: Porque não vale mais a pena ficar mentindo pra você. Antes até que as nossas transas eram boas sim, mas aí você veio com essas história de doença... E namorar você ficou um porre!
Lana, desacreditada, soluça: Espera aí, Ethan, você tá querendo dizer que...
Ethan: Eu tô dizendo, Lana, que você ter ido pra não sei onde, foi o fim do nosso namoro, que já tava com os dias contados.
Lana não admite: Não, mas você não pode falar comigo assim e não ouvir nada! Eu também tenho muito do que reclamar...
Ethan a corta: Posso, posso ficar sem ouvir você! Felizmente, agora você tá em um lugar e eu em outro, e não sou mais obrigado a ficar te ouvindo. Adeus, Lana... Ah, e eu sou legal o bastante pra te dar um conselho: nenhum cara aqui ou do Brasil vai querer ficar com você. Nenhum cara vai querer namorar uma menina meia boca, que agora tá praticamente morta. Sem chances.
Ele desliga, sem falar mais nada. Lana fica pasma. Não precisava de mais nenhuma confirmação de que o que fora dito por Elena, era a verdade.
Tempo depois, Maurício entra no quarto. Lana está chorando.
Maurício, preocupado: Filha... - ele se aproxima da cama, onde ela está - O que aconteceu contigo? Espera, mudei de ideia - ele quer confortá-la - Tô farto de história triste. Agora a gente vai se alegrar, Lana, porque marcamos de buscar hoje o resultado dos exames, lembra? A gente vai ter a confirmação de que aos poucos, tudo vai se alinhar.
Ele é esperançoso, e beija a filha do rosto.
Cena 5. Apartamento de Beto - Cozinha - Manhã
Ele e o filho tomam seu café da manhã.
Beto comenta: E aí, vai pro clube comigo hoje? Você tem ido bastante por esses dias...
Zeca: Vou sim, eu e a Elis combinamos de...
Beto: Você e a Elis, você e a Elis... Eu tenho ouvido bastante isso ultimamente. Abre o jogo comigo, filho, não te dou motivos pra desconfiança.
Zeca: É só que não tem nada pra ser aberto, pai. Eu a Elis nos conhecemos faz pouco tempo, e estamos com esse mesmo status. Conhecimento.
Beto: Para com isso, Zeca! Você sempre admirou aquela garota, além de que vivem conversando lá no clube! Não é possível que não tenha saído nenhum beijinho daí...
Zeca se estressa: Meu Deus, pai! Será que dá pra eu viver a minha vida sem ter que satisfazer essas suas vontades.
Beto: Desculpa! Eu só tava querendo te ajudar, meu filho. Namorar a Elis ia fazer muito bem pra você, e... Convenhamos que a Elis não é de se jogar fora. Na sua idade, até casamento com ela eu já tinha marcado.
Cena 6. Hospital São Vicente - Laboratório - Fim de Manhã
Maurício e Lana estão à espera do médico, que entra no consultório segurando um envelope.
O médico se senta: Bom, eu acabei de recolher os resultados. Vou saber agora, como vocês.
Maurício segura nas mãos da filha: Mas eu tenho certeza que o resultado é positivo, doutor. Eu vou poder salvar a Lana.
Lana também está esperançosa.
O médico abre o lacre do envelope. Ele tira, lentamente, o papel que está escondido, com o resultado do exame de compatibilidade realizado por Maurício e Lana dias antes.
Maurício: E então? Eu posso logo realizar essa cirurgia e livrar a minha filha dessa doença?
O médico, inexpressivo: Vendo vocês com essa esperança toda, eu não sei nem como dar uma notícia dessas, mas... É preciso. E você não vai poder realizar essa cirurgia, Maurício, porque o resultado é negativo. O seu sangue não é compatível com o da Lana.
A garota encara o pai.
Cena 7. Fachada da casa de Olívia e Maurício - Começo de Tarde
Elis está chegando em casa, acompanhada por Zeca: Eu nem acredito que deixei que você andasse quilômetros pra me trazer em casa. Sério, Zeca... Acho que é mais que justo que você cobre bandeira 2 por ter vindo comigo.
Zeca se lembra do que o pai falou: Na verdade, Elis, antes que você entre, eu queria falar sobre uma outra coisa contigo. Mais séria.
Elis: Eu ser séria quando é preciso, Zeca. Pode me contar o que você quiser.
Zeca: A gente mal se conhecia até pouco tempo, mas agora é quase rotina que a gente se fale. Sabe, é como se nesse pequeno intervalo, eu soubesse mais de você que sei do meu pai, que conheço a vida toda. É como se a gente já se conhecesse antes disso, como se a sua inquietação, se equilibrasse com o meu contentamento. Como se, de uma hora pra outra, eu passasse a acreditar em amor à primeira vista, por ter vivido isso.
Elis se emociona: Zeca, eu não sei nem como te responder, mas...
Zeca completa: Mas você não precisa, Elis. Não precisa me responder. Não precisa me corresponder. Você acabou de sair de um namoro, e eu não posso te cobrar nada. Não do jeito que a sua vida tá. Eu só queria que você soubesse. Soubesse que você é a melhor coisa que aconteceu na minha vida.
Comovida e movida pelo momento, Elis o abraça.
No fim da rua, Guilherme, que havia seguido o conselho do irmão e vindo atrás da namorada, observa tudo.
Fim do oitavo capítulo.


Gostei desse primeiro encontro com a Elis e a Lana.
ResponderExcluirE que babaca esse Ethan. Lana não merecia ouvir isso. E ainda descobre que o sangue do pai não é compatível com o dela...
Zeca já abriu o jogo pra Elis. E o Guilherme, coitado...
Lana vai sofrer bastante a partir dos próximos capítulos.
ResponderExcluirGuilherme não desistirá! Mas Zeca também parece bem determinado...
Obrigado por deixar seu comentário, Pedro!
Coitado do Maurício. Eu realmente torcia que ele conseguisse doar. Lana e Elis se dando super bem... Que seja sincero, gostei da amizade e da irmandade das duas. E coitada da Lana, que cruel esse Ethan. Qual será a reação do Guilherme após assistir toda essa cena? Bom, vamos acompanhar... Ótimo capítulo.
ResponderExcluirAcho que essa sua piedade pelo Maurício, pode mudar com o tempo. Assim como o personagem. Sobre a amizade das irmãs, ela resiste por um tempo, sim.
ExcluirEle não desistirá.
Obrigado por comentar!
Espero que esse Ethan não surja mais, porque ele é daqueles que tem que se varrer da vida. Torço pela Lana, para sair disso bem. Onde aperta para dar um soco na cara do Beto? Zeca fez isso por amor mesmo ou pela pressão do pai? :O
ResponderExcluirAdorei que o Guilherme tenha visto a cena.
Não sei se odeiam mais a Ethan ou Olívia, rs.
ExcluirTorço por ela também! Soco no Beto? Ele entra no time dos detestados? Quanto ao Zeca, bem... Vamos acompanhar;
Quanto nazismo com o Guilherme. Mas agradeço o comentário!
Eu gosto da relação de Elis e Zeca! Como diria uma colega do twitter " Chateassem esse Guilherme". Agora o Ethan é meio nojentinho né? Pode varrer pra fora da história.
ResponderExcluirOlívia é outra que está ficando bem chata. Imagina se o Maurício se aproximar da Marina?
As cenas estão muito bem escritas, parabéns.
Ethan mal apareceu e ganhou um bom número de haters.
ExcluirGuilherme segue o mesmo caminho? E a Olívia, então? Deve surtar se a aproximação acontecer.
Agradeço, Victor!