Somos Tão Jovens, capítulo doze:
Amanhece...
Cena 1. Apartamento de Ricky e Guilherme - Manhã
Ricky, que está em frente ao microondas, abre o eletrodoméstico depois
que ele apita.
Guilherme aparece, e se senta ao balcão.
Ricky: E aí? - ele se senta com uma xícara nas mãos - Conseguiu falar
com a Elis?
Guilherme: Na verdade, acho que eu vou desistir, Ricky. Eu acho que não
tem mais por que continuar insistindo nessa mesma história, sabe? Se ela não
quer falar comigo, não quer resolver isso logo de uma vez, não há nada que eu
possa e deva fazer pra impedir. Eu decidi viver minha própria vida,
independente da Elis e do que eu ainda sinto por ela.
Ricky: Você sabe que eu sou contra essa falta de iniciativa, mas...
Guilherme contesta: Mas não tem falta de iniciativa, Ricky. É só...
Quase que uma fadiga, de tanto investir no mesmo fundo sem nenhuma garantia.
Ricky: Tá certo... Mas depois, eu não vou te poupar, viu? Vou dizer que eu
te avisei quando eu bem entender.
Guilherme serve mais uma xícara de chá: Pode dizer à vontade. Só não
garanto que eu ouvirei todas elas.
Ricky: Mas mudando de assunto, tá preparado pro primeiro estágio?
Guilherme: Caramba! Faz tanto tempo que eu iniciei a faculdade, começar
com estágio agora é tão estranho... Mas eu preciso se quiser me formar junto
com os outros, né?
Ricky assente: E pra que hospital você foi escalado?
Cena 2. Hospital São Vicente - Apartamento - Manhã
Lana amanhece no hospital. Ela acorda e tenta levantar a cabeça, para,
assim, se localizar. Afinal, ela encontra a mãe, sentada numa cadeira.
Marina se levanta ao perceber que a filha despertou: Até que você se
acostumou com o fuso daqui - ela tenta sorrir - Já está acordando no horário
habitual.
Lana retribui o sorriso: Pois é, mas... Que foi que aconteceu? Quer
dizer, que é que a gente tá fazendo aqui?
Marina se aproxima: Foi um desmaio, filha. Só um desmaio. Não precisa se
preocupar tanto, viu? Eu que sou mãe, já me acalmei.
Lana não se conforma: Um desmaio que me custou um quarto isolado?
Marina: Puxa, minha filha, eu não quero ficar repetindo isso, porque
você já me disse que te tortura... Mas você sabe que nas suas condições,
qualquer coisa é mais grave do que parece ser.
Lana se ajeita no leito: O melhor é que eu me acostume, né? - ela
suspira - E eu vou precisar ficar aqui por muito tempo?
Marina tarda a reponder: Médio. Você vai ter que ficar em observação,
sim, mas mais por conta da doença. Quando soube da leucemia, o médico não quis
te liberar.
Lana: Parece que eu nunca vou me livrar desse fardo, não é? Leucemia,
doença, médico... Palavras que eu cansei de ouvir. Que se eu pudesse,
extinguiria do dicionário.
Marina: Mas não pode, filha. Não pode, e o melhor a ser feito é que você
se cuide. Eu vou pedir que a enfermeira traga o café.
Lana comenta: Só que eu já estou me sentindo melhor, tá bem?
Marina: O diagnóstico tem que ser do médico, não seu. Tá bem?
Cena 3. Litoral Paranaense - Casa de Praia - Manhã
Todos tomam o café da manhã. Inclusive Zeca.
Erasmo, firme: Zeca, não é? - o jovem, que mastigava, apenas mexe a
cabeça - Então vai, rapaz, me conte das suas intenções com a Elis.
Fabíola o repreende: Para com essa brincadeira, Erasmo, você tá
constrangendo o garoto. Desculpa, viu - ela olha pra Zeca.
Zeca: Não tem nada demais, dona Fabíola...
Erasmo concorda: E não tem MESMO! Eu não sou pai, mas sou o professor da
Elis. Além de muito amigo da família! Na ausência do Maurício, o mínimo que eu
posso fazer...
Teodora intervém: É se calar, pai - Erasmo a fulmina com os olhos - Eu
concordo com a Fabíola, você não tem nada a ver com quem a Elis namora ou não.
Nem o Maurício tem que fazer esse tipo de pergunta... Não tem mais isso de
casamento arranjado, quem dera namoro.
Elis tenta arbitrar a discussão: Eu tenho certeza que o meu melhor
professor que eu já tive só estava brincando. Não é?
Zeca: A Elis tem razão, além do mais, eu não me incomodei nenhum pouco
com a pergunta.
Pietra: Mas é claro que não. Afinal, vocês estão namorando, não?
Fabíola não gosta do comentário: Que isso, minha filha, você não...
Pietra completa: Eu não posso é ficar quieta a viajem inteira. Mas nada
contra o casal... Nem a favor.
Cena 4. Hospital São Vicente - Manhã
Lana sai de seu quarto, e anda confusa pelo hospital. Até que esbarra em
Guilherme.
Lana se redime: Desculpa, eu tava um pouco distraída e acabei esbarrando
em você.
Guilherme: Que isso. Mas é só isso, mesmo? Tem certeza de que eu não
posso te ajudar em nada?
Lana: Bem... Na verdade, eu procuro pela cantina, minha mãe disse que
iria até lá e... Nada dela aparecer.
Guilherme: Desculpa, mas sabe que eu também não vou saber te ajudar?
Sério, embora eu esteja com esse crachá e uniforme, também é meu primeiro dia
por aqui - ele percebe a confusão de Lana, e explica: - Eu sou um voluntariado.
Bem, não tão voluntariado assim, porque contam pontos na matéria, enfim.
Lana se interessa: Matéria?
Guilherme: Da faculdade. Eu curso medicina.
Lana: Então eu não vou te atrapalhar, vou continuar essa minha busca
implacável pela cantina. E... Até a próxima vez que nós nos embarramos.
Guilherme: Se você quiser eu posso te ajudar a encontrar sua mãe. Tem
certeza que não é nada grave?
Lana confirma: Tenho sim. Não tem por que eu te incomodar com isso.
Guilherme: Não achei convincente. Espero que você não esteja cursando
artes cênicas. Brincadeira, mas a parte do convite, é séria. Eu me proponho a
procurar pela cantina com você e não aceito não como resposta. Eu sei
que não é tão animador quando conhecer um novo continente, mas, pode ser tão
bom quanto - brinca - Dizem que depende da companhia.
Lana: Convite aceito, senhor... Como eu te chamo?
Guilherme: Guilherme. Eu me chamo Guilherme.
Cena 5. Litoral Paranaense - Casa de Praia - Manhã
Erasmo está sentado na sala. Fabíola, à mesa, com um caderno de
anotações.
Fabíola marca nos itens de uma lista: Já pedi pra as meninas arrumarem
as malas, falei com o caseiro que saímos depois do almoço... Mas ainda tem
alguma coisa que eu acabei esquecendo.
Erasmo: Deve ser carma. Depois de me desautorizar tanto na frente das
crianças...
Fabíola se aproxima do marido: Pelo amor de Deus, Erasmo! Eu não
acredito que você vai investir nessa história. Você sabe que eu jamais faria
algo do tipo.
Erasmo desarma: E você que eu só estava brincando. Velho também tem
direito a diversão, não?
Fabíola: Mas às custas do garoto? Às custas do namoro da sua aluna? Eu
não acho nada saudável.
Erasmo: Não saudável, é essa nossa discussão.
Fabíola: Não é mesmo... Você sabe que, depois de perder meu primeiro
marido, eu tento evitar esse tipo de briga vazia, que não vai levar a nada...
Quer dizer, talvez leve. A um arrependimento no futuro. Depois que algum de nós
já tiver...
Erasmo: Nem fala isso, meu amor. Nós ainda temos muito pra viver, viu?
Nós e a nossa família.
Cena 6. Casa de Praia - Quarto - Fim de Manhã
Teodora arruma sua bagagem, mas percebe que a amiga, que devia fazer o
mesmo, deixou de fazê-lo: Elis? Você decidiu levar só metade das suas coisas e
deixar todo o resto aqui?
Elis interrompe seus pensamentos e olha para a filha de Erasmo: Minha
distração tá assim tão... Perceptível?
Teodora: A placa da sessão desabafo tá sempre virada pro lado aberto,
Elis. E você sabe.
Elis: Sei - ela se senta - Sei de tanta coisa, mas do que eu mais
preciso, não. E o pior, é que eu não sei nem onde começar a pesquisa.
Teodora também se senta: O que é tá acontecendo, Elis?
Elis: O mesmo de sempre, Teodora. A mesma tecla, o mesmo pensamento, o
mesmo erro, não sei. Não sei! Só sei que é pro mesmo destino, pro mesmo
problema que vou estar voltando. Nessa minha bagagem, eu só trouxe o que eu
tinha de melhor, de verdade. Eu vim totalmente disposta a esquecer, a respirar
por meio segundo um ar mais limpo... Mas esse meio segundo, esse milésimo de
segundo, foi muito menor do que eu esperava.
Cena 7. Hospital São Vicente - Fim de Manhã
Lana e Guilherme continuam caminhando enquanto desbravam o hospital.
Trocando risos tímidos, embora reconheçam certa intimidade.
Teodora, ainda na casa de praia, prossegue a conversa com Elis: A última
coisa que eu quero agora é te condenar com um mais um fardo, Elis. Mas
desculpa, eu preciso te dizer. Você sabe que tudo podia ser diferente, não
sabe?
Nesse momento, no hospital, Guilherme para Lana, que se assusta com o
gesto.
Elis responde a Teodora: Eu sei, Teodora, e o pior é saber disso,
ter que conviver com isso. Saber que podia ter sido tudo diferente. Saber que
EU podia ter dado mais uma chance pra mim. Saber que eu podia não ter terminado
o meu namoro com o Guilherme.
Ao mesmo tempo em que Elis o diz, Guilherme beija Lana. E ela
corresponde.
Fim do décimo segundo capítulo.


Primeiro encontro entre Lana e Guilherme e já rolou beijo. Eita. Hahahahah Será que a fila andou?
ResponderExcluirNão se pode nem mais procurar a cantina que já rola beijo...Esses jovens de hoje em dia, viu.
ResponderExcluirAcho que Elis tinha que ter aproveitado mais essa viagem. Mas se ela soubesse o que está acontecendo com Guilherme, teria sido pior.
Pelo menos a Lana está tendo momentos bons, por enquanto, já que a coitada não aguenta mais hospital, agora terá uma boa lembrança dele...Que pode se tornar má lembrança, infelizmente, vamos ver como será o rumo da história!