Somos Tão Jovens, capítulo treze:
Mais tarde...
Cena 1. Hospital São Vicente - Começo de Tarde
Lana entra em seu quarto. Marina, que estava sentada à espera da filha,
se levanta.
Marina, preocupada: Aonde é que você se meteu, filha?
Lana: Eu que te pergunto, né? Você disse que ia pra cantina e evaporou.
Eu tinha embarcado nessa busca incessante por você.
Marina se dirige até a filha: Tá bem, Lana, tá bem. Não vamos discutir
por conta disso. Porque, agora, acabou de me subir um outro assunto. 
Lana se senta na cama: Assunto?
Marina se aproxima: Bom, isso vai depender da sua resposta.
Lana se aconchega: Eu não tô te entendo, mãe. Do que é que você tá
falando?
Marina: Por que a gente começa falando dessa sua felicidade estampada na
cara? 
Lana: Eu não tô te entenden...
Marina a interrompe: Não se faz de desentendida, filha. Nós duas sabemos
do que eu tô falando. E esse seu riso, eu conheço. Tenho certeza que não é
coisa da minha cabeça.
Cena 2. Apartamento de Guilherme e Ricky - Cozinha - Começo de Tarde 
Guilherme almoça junto do irmão, enquanto fala de seu primeiro estágio
no hospital: Eu tenho certeza que não é coisa da minha cabeça, Ricky. Essa
garota, Lana, mexeu comigo de um jeito que eu não sei explicar. Mesmo que não
tenha sido nada demais, foi libertador. Porque a Elis seguiu em frente, e mesmo
que eu não me envolva com a Lana, essa experiência serviu pra me mostrar que as
portas também estão abertas pra mim.
Ricky: Então o voluntariado valeu a pena? Pelo menos por esse quesito,
não é? - brinca. 
No hospital, Lana, depois de um tempo, responde a mãe: Pois deve ser
coisa da sua cabeça, sim, mãe! Não aconteceu nada demais, mesmo. Juro! - finge.
Guilherme, para o irmão: E como valeu. Foi nada e tudo ao mesmo tempo,
sabe? Como se a gente nem precisasse ter trocado aquela meia dúzia de palavras
pra notar uma certa química, não sei, sintonia imediata.
Ricky, zombeteiro: Isso é o que as pessoas costumam chamar de amor à
primeira vista, ou eu tô enganado?
Guilherme: Não sei se chega a ser amor. Mas que fez muito bem pra mim,
fez. 
Cena 3. Litoral Paranaense - Praia - Tarde
A esportista e o filho de Beto estão sentados à beira-mar. A garota
repara na água que toca seus pés.
Elis lamenta: Eu nem acredito que é a última vez que piso nessa areia,
que eu sinto essa água tão limpa no meu tornozelo.
Zeca caçoa: Não seja por isso. A gente pode voltar quantas vezes você
quiser. Eu sugeriria que passássemos a lua de mel por aqui, mas acho que tem
outro roteiro com lugares mais interessantes que a gente ainda não conheceu...
Elis, suave: Eu tô falando sério, Zeca. 
Zeca segue a brincadeira: E quem disse que eu não? Mas sabe que eu me
peguei pensando em uma outra coisa?
Elis se interessa: E o que é essa coisa misteriosa?
Zeca conta: Não tem mistério algum. É só que faz tempo que você não fala
mais daquela sua irmã. Lana, não é? - Elis assente - E então, sua mãe conseguiu
se resolver com ela?
Elis suspira: Essa novela de autoria da minha parece daquelas antigas e
atemporais, sabe? Que nunca saem de moda... Mas tá aí uma pergunta boa, que eu
também não vou saber a resposta. Faz tempo a gente não se vê. Ela acabou
voltando pra casa da mãe, enfim...
Zeca: Mas você vai deixar que essa passagem dela pela sua vida seja em
vão?
Elis, sincera: Não. Claro que não. Acho que a gente criou um certo
vínculo nesse curta estadia dela no meu quarto. Ou no nosso quarto, né? Pelo
menos foi assim por uma semana... Mas que bom que você perguntou. Assim que
parar em algum lugar que o celular funcione, ligo pra ela, mando torpedo.
Qualquer coisa, pra que gente combine de se encontrar. E você também.
Zeca não entende: Como assim? Você quer que eu conheça a sua irmã? Você
não acha que é um pouco precipitado?
Elis: Eu, não, mas... Você sim?
Zeca: É só que... Eu pensei que as coisas fossem seguir o rumo natural.
Elis: E estão seguindo, Zeca. Nada mais natural que os mais novos e
especialíssimos membros da minha vida se conheçam. Não é?
Zeca sorri. E a beija. 
Cena 4. Hospital São Vicente - Quarto de Lana - Tarde
Marina entra com uma sacola em mãos. Lana está deitada, com os olhos
fechados.
Lana desperta: Mãe...
Marina, surpresa: Lana! Não queria te acordar. O sonho parecia tão
gostoso... Era sobre o episódio de mais cedo que você quis me esconder?
Lana sorri: Foi só um cochilo, dona Marina, e a senhora que tanto me
conhece, devia saber disso. Mas você demorou... Tava falando com o médico? -
ela desafaz o riso.
Marina: Não, na verdade, eu acabei demorando porque tive que passar pelo
consulado, explicar, ao menos, as minhas condições.
Lana: Eu tô atrapalhando seu trabalho? - Marina tenta responder, mas a
garota impede: - Já sei a resposta. Claro que não, e aquela velha
história de sempre. Mas eu sei que mesmo que eu não esteja, a doença tá, e não
quero que você perca sua vida com isso, mãe.
Marina: Eu me recuso a responder um comentário desses, Lana! Vamos mudar
o tom da conversa, pode ser? Aliás, não vou te dar escolha. Dessa vez, quem
delega, sou eu - ela entrega um pacote a filha - Abre essa sacola. Agora, Lana.
Lana o faz: Eu abro... Mas saiba que esse tom autoritário, não faz muito
o seu estilo - ela se surpreende com o que encontra na embalagem - Um laptop?
Marina ajuda a filha a tirá-lo do pacote, para acelerar o processo: Não
é bem o laptop. Mas o que ele fornece. Você não quis se abrir pra mim, mas tem
uma pessoa, lá no outro hemisfério, que vai adorar te ouvir - explica.
Lana, insegura: Será, mãe? Eu falo tanto com a Elena... Eu reclamo tanto
com ela. Talvez ela esteja cansada, também tem a questão do fuso...
Marina: Sem desculpa esfarrapada, filha. Desabafo nunca é demais. Não é
desgastante, porque tem sempre alguma nova, alguma novidade. Então, aproveita
essa que você pra compartilhar com sua amiga.
Lana sorri, agradecida: Acho que eu sou obrigada a reconhecer que você
me conhece, mesmo. 
Marina caminha rumo a saída do quarto: Eu vou te dar licença, viu. E
também vou procurar pelo seu médico. Depois da bateria de exames que você fez
na madrugada, acho que uma satisfação, é o mínimo - ela segura na maçaneta da
porta - Boa sorte, filha - e finalmente a fecha.
Lana se recorda das sucessivas brigas com a mãe. Depois, no quanto a
relação entre as duas evoluiu.
Anoitece...
Cena 5. Hospital São Vicente - Quarto de Lana - Noite 
Elis bate na porta e a abre: Será que eu tô muito atrasada?
Lana fica feliz ao vê-la: Elis! Que bom que você veio.
Elis se aproxima: Eu vim o mais rápido possível, Lana. Juro! Olha, se eu
tivesse conseguido algum pro telefone, eu teria ligado antes, mas...
Lana completa: Mas você não me deve uma explicação sequer, Elis. De
verdade.
Elis se senta na beira da cama: Mas e você? Tá bem? Não precisa me dar
seu quadro clínico, porque parte eu já sei. Mas tirando a leucemia... Você não
tá com nenhum outro problema?
Lana: É disso que eu precisava, sabe? Alguém que me visse além da
leucemia, como se esse detalhe me tornasse anormal e me tirasse qualquer
outra preocupação. Mas eu admito que tem sim. Não um problema, mas uma coisa
que eu queria muito falar com alguém.
Elis se anima: É bom te ver assim. Feliz, mesmo que numa cama de
hospital. Mas pode me contar, eu vim pra te escutar!
Lana: Bom, minha mãe percebeu, mas eu não tenho tanta intimidade pra
comentar com ela que... Eu conheci uma pessoa. Um menino. Aqui no hospital,
mesmo...
Elis: Ah, meu Deus, Lana! Me conta esse história direito. E não poupa os
detalhes, viu?
Lana: Será que a gente pode deixar os detalhes pra depois? É que o
final, o beijo, Elis, acho que é a parte mais...
Elis: Como assim? Você não tá me dizendo que... - ela ri - Lana!
Lana: Pois é! Foi tudo tão rápido, tudo num calor tão instantâneo... Mas
que me fez tão bem. Porque eu tinha aquele meu namorado lá no exterior, já te
falei dele. E nossa última conversa acabou comigo. Ele conseguiu acabar com
toda a minha auto-estima... Mas acho que essa nova paixão pode me mostrar o
contrário, sabe? Que não é que determina quem gosta ou não de mim. Sou eu quem
pode ou não cativar, conquistar, as pessoas. 
Elis: É exatamente isso, Lana. É exatamente assim que a gente tem que
pensar. Você não pode deixar que os outros tenham voz no que você sente. No que
você é. Agora me com todas as palavras! Como é que vocês chegaram nesse gran-finale?
Lana: Começo, Elis. Eu sinto que esse é o começo de uma grande história.
Elis: Amém, Lana. Amém! - ela segura nas mãos da irmã. E riem.
Lana prossegue: É claro que não é muito saudável me encher de
expectativas, mas acho que aos poucos eu aprendo a me controlar... - e
continuam com a conversa.
Cena 6. Hospital São Vicente - Consultório - Tarde
Marina está sentada numa cadeira, a espera de Olavo, o médico que
atendeu Lana.
Olavo entra na sala: Meu Deus... Eu te deixei esperando, não é? Me
desculpa, eu acabei me atrasando.
Marina assente: Tudo bem, rotina de médico parece mesmo complicada.
Olavo se senta: E como é. Mas nós viemos falar da sua filha, certo? -
Marina consente - Bom, como o caso da sua filha é mais... Complicado, eu
pedi que ela realizasse novos exames, como você sabe, e já estou com o
resultado deles.
Marina: Que bom, doutor Olavo...
Olavo impede que ela termine: Desculpa, dona Marina, mas eu não contaria
com isso. Olha esses outros exames antigos dela, que pedi que você trouxesse -
ele aponta para papéis na mesa - A produção de glóbulos brancos dela abaixou
muito. Traduzindo pra um bom e claro latim, o sistema imunológico da Lana só
piora. E nem é esse o problema, que alguns medicamentos até conseguiriam
conter, mas as células morrem, e esses glóbulos, que seriam os coveiros,
entrarem em greve. Você me entende?
Marina: A doença eu até entendo, doutor Olavo. Eu não entendo justo com
a minha filha, ela sempre teve uma vida ao difícil... E não merecia.
Olavo confirma: Ninguém merece, Marina. Ninguém. Por isso um transplante
de medula óssea seria essencial, pra alavancar esse problema com os glóbulos
brancos
Marina explica: A médica dela, lá dos Estados Unidos, já tinha nos dito
isso. Foi o que nos trouxe ao Brasil, viemos atrás do pai dela. Mas como ele também
não pode ajudar...
Olavo: Será que não tem mais ninguém na família dele que possa ajudar?
Vocês têm que insistir em tudo e todos, Marina.
Marina: Os familiares do Maurício eu não conheço. Eu posso perguntar pra
ele, mas... Eu confesso que é difícil pra mim. Nossa já era complicada
naturalmente, e ter voltado pra cá, só piorou, e muito, as coisas - admite. Mas
percebe a gafe - Desculpa, eu nem me dei conta do desabafo - e tenta sorrir -
Mas eu vou conseguir.
Olavo: Pode contar comigo, viu? Para os desabafos também, se quiser -
Marina balança a cabeça - É sério! Você até que foi comedida, não sabe quanto
choro eu já escutei, aqui mesmo, nessa mesma sala. 
Maria ri, sem nenhuma pretensão.
Cena 7. Hospital São Vicente - Recepção - Noite
Guilherme se anuncia no balcão: Oi, eu gostaria de visitar a Lana. Do
301.
Recepcionista: Só um minuto - ela consulta algo no computador - Bom,
como eu suspeitava. A Lana já está com outra pessoa no quarto. Ordens expressas
do doutor Olavo, ela não pode se agitar muito.
Guilherme: A outra pessoa deve ser a mãe dela, mas pensei que ela
estivesse como acompanhante...
Recepcionista: Não, acho que você confundiu. Na verdade, é uma garota
que entrou no quarto. Elis é o nome dela. Caso queira, pode interfonar e pedir
que saia pra que você possa entrar.
Guilherme se lembra da namorada: Não precisa! Não precisa, de verdade.
Eu só peço que você me avise quando ela sair... Tudo bem?
Recepcionista, simpática: Sendo assim, você pode esperar por aqui.
Um pouco mais tarde, no quarto de Lana.
Guilherme aparece. Elis já havia ido embora. Ele estava visivelmente
abalado, embora preso dentro dos próprios pensamentos.
Lana, contente: Guilherme. Eu não acredito... Você veio de verdade? -
mas o rapaz continua intrigado - Tá tudo bem? Aconteceu alguma coisa?
Guilherme: Não... Quer dizer, sim... Não sei. Mas eu posso saber. Nós dois
podemos saber, Lana, eu só preciso de uma resposta sua.
Lana: Se eu puder responder a pergunta... Eu não por que esconder.
Guilherme: Quando eu cheguei uma menina tava aqui, com você. Me disseram
que ela chama Elis. Que não é um nome tão comum...
Lana: Ela é minha irmã. Não muita alta, cabelo médio, escuro, mais ou
menos da nossa idade... Mas por que a pergunta? Você a conhece?
Guilherme revela: Por ironia do destino ou não, Lana, eu conheço sim.
Conheço muito bem, pra ser sincero. A realidade, Lana, é que eu e a Elis... Sua
irmã, não é...
Lana não entende: Você e a Elis o quê, Guilherme?
Guilherme: Eu e a Elis namoramos, Lana.  E por um bom tempo. Foi um
namoro complicado, e... Que terminou há pouco tempo...
Lana:  Espera, Guilherme. Vai com calma. Você tá querendo dizer que
você era o namorado da minha irmã?
Fim do décimo terceiro capítulo.


Zeca ainda não aprendeu que não se pode voltar ao lugar em que se foi feliz? Lana e Marina enfim na onda do amor, porque nessa situação ou em qualquer uma, estar brigada é complicado demais. Acho que vai ter ocorrência depois dessa revelação de Guilherme em ser o ex da Elis para a Lana. Adoro!
ResponderExcluirNa falta de Elena, tem Elis pra Lana contar suas novidades e desabafar! As duas estão numa situação complicada sem que saibam :( e agora que Guilherme descobriu tudo... Nem quero imaginar o que vem pela frente. Na verdade, quero sim...
ResponderExcluirAgora a situação da Lana piorou e ela precisa de um doador...Será que OLIVIA não seria compatível? Seria uma grande ironia!
Ótimo capítulo!